Criptomoedas: abrindo a carteira de investimentos da Libra

A entrada do dólar de Singapura foi uma surpresa: entenda os motivos

Gustavo Cunha

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

(Shutterstock)
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SÃO PAULO – Pouco mais de três meses após a divulgação do Whitepaper da Libra, popularmente conhecida como a criptomoeda do Facebook, começam a surgir as primeiras informações, ou mais precisamente declarações, de quais serão as moedas que farão parte dela.

A Libra é uma stablecoin criada por uma associação que atualmente tem o Facebook como líder (se você tem dúvidas sobre o que é stablecoin, Libra e moeda digital do Banco Central, vale ler esses três textos).

Na semana passada, a Businesstimes, referenciando o jornal alemão Der Spiegel, publicou uma reportagem onde afirma que o Facebook, respodendo ao questionamento do regulador alemão, disse que a carteira da Libra será composta por 50% de dólar americano, 18% de euro, 14% de yene, 11% de libra britânica e 7% de dólar de Singapura. Essa proporção fica bastante diferente do que se especulava até o momento.

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Quando escrevi minha primeira análise sobre a Libra, a maior probabilidade é que ela fosse composta por uma carteira bastante similar ao SDR, que é uma representação de uma cesta de moedas criada pelo FMI. Isso, aparentemente, não acontecerá.

Mas por quê? Quais impactos essa diferença pode ter? E mais, por que incluir o dólar de Singapura nessa cesta?

Minha primeira surpresa veio da inclusão do dólar de Singapura, que é hoje uma moeda com uma liquidez muito próxima ao peso mexicano e que não tem, vamos dizer assim, uma influência global.

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O franco suíço estava melhor colocado na minha lista de possíveis moedas para compor a carteira da Libra, afinal de contas, além de o franco suíço ter mais liquidez que o dólar de Singapura, a associação Libra está sediada na Suíça.

Além da moeda em si, a proporção em que ela foi colocada também me surpreendeu: 7% é um percentual considerável.

O porquê da escolha do dólar de Singapura fica mais fácil de entender quando analisamos os seus efeitos na carteira. Ao diminuir a proporção de euros, que no meu entender iriam para títulos da França e Alemanha que pagam juros negativos, e colocar o dólar de Singapura, que paga taxas de juros positivas, a rentabilidade esperada da carteira sobe de 0,63% para aproximadamente 0,93%.

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É um incremento significativo de receita. Apesar de, no mundo de hoje, dinheiro para startups e projetos como esse não sejam um problema, não dá para desconsiderar esse efeito.

Outra consequência dessa escolha é ter um pé na China, mas não diretamente. Isso tira a associação da linha de tiro das brigas comerciais/políticas entre os EUA e a China, ao mesmo tempo a aproxima da China.

Singapura tem uma proximidade muito grande com a China, um mercado financeiro bastante desenvolvido, uma moeda conversível e um ambiente de inovação proeminente. Claro que isso ajudou na decisão.

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Ter uma moeda plenamente conversível era, a meu ver, um pré-requisito e por isso, desde o início, já estava claro que o rembini chinês não faria parte da composição da carteira Libra. O dólar de Singapura cumpre com esse pré-requisito, o que dá a agilidade e a flexibilidade necessária para a administração das reservas pela associação.

Por fim, mas não menos importante, a Ásia tem passado por uma imensa reformulação no seu mercado financeiro e está muito à frente do Ocidente no que tange a meios de pagamento, transações instantâneas e utilização de QR-code, dentre outras inovações.

As duas principais empresas que dominam esse setor tiveram sua origem distinta do mercado financeiro (WeChat e Alipay) e, algumas semanas antes da publicação do Whitepaper da Libra, uma outra stablecoin similar teve seu Whitepaper publicado em Singapura, o que significa que há espaço para colaboração lá. Além disso, o governo chinês está claramente em uma corrida acelerada para lançar sua moeda digital.

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Todos esses fatores, além dos citados anteriormente, também são razões para a Libra querer estar presente na Ásia.

Seja pela busca de uma maior rentabilidade para a carteira, seja por colocar um pé na China sem entrar na briga comercial do presidente Trump, seja para conseguir buscar cabeças que estão pensando da mesma forma, a colocação do dólar de Singapura faz bastante sentido para a carteira da Libra a meu ver.

Muitas questões ainda ficam em aberto, como o porquê dessa proporção, se esse movimento não distancia um pouco a ideia de ter a Libra atuando com os desbancarizados (e aqui falando especificamente de África e Américas Central e do Sul), se a decisão veio por fatores mais ligados a regulamentação, entre outras. Perguntas a serem respondidas em breve.

Caso queira discutir algum dos pontos acima, é fácil me encontrar nos links abaixo:
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Gustavo Cunha

Autor do livro A tokenização do Dinheiro, fundador da Fintrender.com, profissional com mais de 20 anos de atuação no mercado financeiro tradicional, tendo sido diretor do Rabobank no Brasil e mais de oito anos de atuação em inovação (majoritariamente cripto e blockchain)