SÃO PAULO – O aprofundamento da crise entre o presidente Jair Bolsonaro e a cúpula do PSL a um ano das eleições municipais tem tornado cada vez mais difíceis as chances de conciliação no partido. Analistas políticos veem como elevadas as chances de o mandatário fazer as malas e migrar para outra sigla, seja ela uma nova ou já existente.
É o que mostra a décima edição do Barômetro do Poder, iniciativa do InfoMoney que compila mensalmente as avaliações e projeções das principais casas de análise de risco político e analistas independentes em atividade no Brasil. Para ter acesso à íntegra da pesquisa, clique aqui.
Segundo o levantamento, 84% dos especialistas consultados acreditam que o futuro de Bolsonaro será fora do PSL, mesmo sendo o partido a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados, com 53 representantes — o equivalente a 10% dos assentos na casa legislativa.
Os analistas que apostam na saída do presidente dividem-se em dois grupos do mesmo tamanho: de um lado, os que acreditam que a migração se dará a um partido em construção; do outro, aqueles que veem o mandatário embarcando em uma sigla já registrada junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Apenas 17% dos entrevistados acreditam que, apesar do acirramento da disputa entre Bolsonaro e o presidente pesselista, deputado Luciano Bivar (PE), o mandatário continuará na sigla pela qual foi eleito.
Uma das instituições participantes decidiu não responder ao questionamento. “[O futuro partidário de Bolsonaro] Necessita horizonte de tempo”, argumenta.
Participaram desta edição nove casas de análise de risco político: BMJ Consultores, Control Risks, Eurasia Group, MCM Consultores, Medley Global Advisors, Patri Políticas Públicas, Prospectiva Consultoria, Tendências Consultoria e XP Política. E três analistas independentes: Antonio Lavareda (Ipespe); os professores Carlos Melo (Insper) e Cláudio Couto (EAESP/FGV) e o jornalista e consultor político Thomas Traumann.
Conforme acordado previamente com os colaboradores, os resultados são divulgados de forma agregada, preservando o anonimato dos analistas.
Consequências políticas
“O racha no PSL torna o Planalto ainda mais dependente de acordos com [Rodrigo] Maia e [Davi] Alcolumbre”, observa um dos respondentes. O episódio, diz outro convidado, leva o governo da condição de “desarticulado” para “isolado”.
“A mudança partidária do presidente vai forçar um rearranjo nas forças políticas para 2022, com uma possível nova janela para troca de partidos”, projeta um analista político. Uma das preocupações da ala bolsonarista caso o presidente deixe o PSL é o risco de perda de mandato caso decidam seguir os passos do líder.
No Congresso Nacional, o nível de desconfiança pode aumentar. “A briga dentro do PSL, inclusive com o não cumprimento de um acordo de pacificação por parte do governo, tende a piorar não só o relacionamento do presidente com seu partido, mas também alimentar desconfianças generalizadas”, avalia um participante.
Coincide com o acirramento das disputas internas no PSL a percepção dos analistas políticos de uma nova deterioração do apoio a Bolsonaro no parlamento.
O Barômetro mostra que, dividindo os 513 deputados federais e os 81 senadores em três grandes grupos (alinhados com o governo, de oposição e indefinidos), a média das estimativas dos especialistas aponta para uma base aliada com 91 assentos na Câmara (18%) e 16 no Senado (20%).
As estimativas para os parlamentares alinhados à atual administração vêm em uma queda quase ininterrupta desde janeiro, quando marcavam 242 deputados e 38 senadores. Naquela época, ainda se especulava sobre a possibilidade de construção de uma coalizão efetiva no parlamento, o que acabou perdendo força logo nos primeiros meses de legislatura.
A falta de apoio no parlamento leva analistas a perguntarem sobre as capacidade que o governo terá de pautar a continuidade da agenda de reformas e qual será a adesão que encontrará em pautas como as reformas administrativa e tributária e o pacto federativo, sinalizados pelo ministro Paulo Guedes (Economia).
“Chegamos em novembro e ainda não há clareza sobre qual é a agenda econômica do governo apos a conclusão da agenda obvia (reforma da Previdência). Com 2020 começa o ano 2, combinando um governo com menos capital politico do que tinha no começo de 2019 e tendo uma eleição regional pela frente. O governo continua sem coalizão no Congresso e está em guerra interna no PSL. Esse governo espera passar reforma tributária + reforma administrativa + pacto federativo + privatizações?”, questiona um dos participantes.
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