Os detalhes da fuga de Carlos Ghosn — e o que deve acontecer agora

Ghosn deixou o Japão a prisão domiciliar no Japão enquanto aguardava julgamento e atualmente encontra-se no Líbano

Letícia Toledo

Carlos Ghosn: ex-execuivo da Nissan (Shutterstock)
Carlos Ghosn: ex-execuivo da Nissan (Shutterstock)

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SÃO PAULO –  Carlos Ghosn passou mais de um ano envolto em um caso que o transformou de um dos maiores executivos do setor automotivo em um preso no Japão acusado de vários crimes. Nesta semana Ghosn acrescentou mais um título à sua carreira: o de fugitivo internacional.

Na terça-feira (31) se espalhou pelo mundo a notícia de que ele, de alguma forma, escapou do Japão, onde encontrava-se em liberdade provisória sob condições rígidas e vigilância severa, e desembarcou no Líbano —  país que viveu durante anos e que não tem acordo de extradição com o Japão.

O ex-CEO da montadora Nissan aguardava julgamento no país asiático por acusações de má conduta financeira e uso pessoal dos ativos da empresa. Novas notícias sobre sua fuga e os desdobramentos aparecem a cada hora. Aqui estão os detalhes de tudo o que se sabe aré agora:

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A rota de fuga de Ghosn: Japão, Turquia e Líbano

Ghosn estava morando em uma casa em Tóquio sob constante monitoramento das autoridades japonesas. Ele estava autorizado a sair de casa, mas era obrigado a permanecer no país até o julgamento.

Diversas teorias surgiram sobre como um dos rostos mais conhecidos do Japão teria deixado o país sem ser notado. Uma TV libanesa afirmou que Ghosn pode ter se escondido dentro de uma maleta de instrumentos musicais que foi trazida por uma banda até a sua casa durante uma festa de fim de ano.

Teorias a parte, o governo libanês afirmou que há meses pedia à Tóquio para enviar Ghosn – que é cidadão libanês – a Beirute. O país propôs que ele fosse julgado por seus crimes na capital libanesa. O pedido foi reforçado na semana passada, mas as autoridades japonesas permaneceram em silêncio.

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Segundo informações do Wall Street Journal o executivo partiu ainda durante o fim de semana em um jato particular em Tóquio com destino à Turquia. De lá, seguiu em um voo para o Líbano, onde desembarcou na segunda-feira (30) pela manhã.

Segundo as autoridades do país, ele teria entrado no Líbano com um passaporte francês e uma identidade libanesa. As autoridades disseram que o executivo entrou legalmente e não estava sujeito a nenhuma restrição.

Ao desembarcar em seu destino final Ghosn se encontrou com sua esposa, Carole Ghosn, que teria desempenhado papel fundamental para viabilizar sua fuga. Em uma mensagem de texto ao jornal Wall Street Journal, Carole descreveu o encontro com o marido como o “melhor presente da minha vida”.

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Segundo a imprensa internacional, sua fuga vinha sendo planejada há meses. De acordo com a agência de notícias Reuters, uma empresa de segurança privada supervisionou a fuga e Ghosn foi recebido pelo presidente libanês Michel Aoun depois de chegar a Beirute.

Nesta quinta-feira (02) as autoridades da Turquia deteram sete pessoas, incluindo quatro pilotos, após o início de uma investigação sobre vôos particulares a jato que parecem ter levado Ghosn primeiro a Istambul e depois a Beirute.

O que acontece com Ghosn agora?

Nesta quinta-feira (02) o imóvel onde Ghosn permanecia em Tóquio foi alvo de uma operação da polícia japonesa — que ainda tem concentrado seus esforços para explicar como a fuga aconteceu. O Tribunal de Tóquio revogou formalmente na quarta-feira (01) a libertação de Ghosn sob fiança.

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A lei libanesa permite que cidadãos, como Ghosn, sejam processados por crimes cometidos no exterior, desde que a ofensa também seja um crime no Líbano. Um porta-voz do governo libanês afirmou que o país não pretende abrir um processo contra Ghosn até receber evidências claras sobre seus crimes do Japão.

Os promotores japoneses vêm enfrentando escrutínio internacional há meses pela maneira como conduzem o caso de Ghosn.

Desde que o executivo foi acusado, seus advogados argumentam que as acusações não passam de uma conspiração de autoridades japonesas e executivos da Nissan.

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Segundo eles, o objetivo seria incriminar Ghosn e impedir que ele fechasse um acordo entre Nissan e a francesa Renault, um plano que ameaçava a autnonomia da montadora japonesa.

“Eu não fugi da justiça, eu escapei da injustiça e da perseguição política”, afirmou Ghosn em um comunicado enviado após sua saída do Japão. Ele também chamou o sistema de justiça japonês de fraudado e disse que seus “direitos humanos básicos” foram negados, incluindo a presunção de inocência.

Ghosn afirmou ainda que finalmente poderá se comunicar livremente com a mídia, para apresentar sua versão dos fatos, na próxima semana. Segundo o jornal japonês Yomiuri, o executivo planeja dar uma entrevista coletiva em Beirute em 8 de janeiro.

Ao que tudo indica, a história de Ghosn ainda terá muitos novos capítulos.

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Letícia Toledo

Repórter especial do InfoMoney, cobre grandes empresas de capital aberto e fechado. É apresentadora e roteirista do podcast Do Zero ao Topo.