7 dicas de gestão financeira e relacionamento com credores para médias empresas

Passei meus últimos 20 anos atendendo, liderando equipes comerciais de grandes bancos, decidindo e recuperando créditos de empresas na faixa de faturamento entre R$ 50 milhões e R$1 bilhão anuais. Por diversas vezes, me deparei com boas companhias ou bons negócios que não tinham acesso adequado a crédito por não cuidarem de alguns aspectos de […]

Rodrigo Moreira

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Passei meus últimos 20 anos atendendo, liderando equipes comerciais de grandes bancos, decidindo e recuperando créditos de empresas na faixa de faturamento entre R$ 50 milhões e R$1 bilhão anuais. Por diversas vezes, me deparei com boas companhias ou bons negócios que não tinham acesso adequado a crédito por não cuidarem de alguns aspectos de sua gestão financeira que fariam toda a diferença em seu relacionamento com potenciais credores.

Seja por desconhecimento ou por falta de prioridade, esse eventual “descuido” muitas vezes custava bastante às empresas. Dinheiro e Crédito são fundamentais para qualquer negócio. Volume, prazo e custo adequados afetam de maneira determinante o risco e a performance dos negócios.

Tanto ou mais que aspectos operacionais e comerciais, muitas vezes os mais focados pelos empreendedores nas fases de crescimento de suas empresas.

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Minha pretensão neste curto artigo é apenas gerar alguns insights e provocar empreendedores, consultores e gestores financeiros a refletir sobre oportunidades que se bem exploradas podem trazer mais segurança aos seus credores, possibilitando a obtenção de linhas de crédito melhor estruturadas e precificadas.

Compartilho então sete dicas que considero um bom ponto de partida para estas provocações:

1. Organize-se financeiramente

Não há boa administração sem uma boa gestão contábil e gerencial das finanças. Bem como uma boa integração com as áreas operacionais chave da empresa. Contabilidade recorrentemente atrasada e relatórios gerenciais defasados certamente escondem ineficiências operacionais e comerciais que custam muito mais caro que a organização em si.

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Terceirizar estas funções, pela minha experiência, tende a ser uma decisão equivocada. Finanças é “o X no mapa do tesouro” de qualquer negócio. Não economize nos profissionais desta área. É a típica economia que vai custar caro.

2. Não basta ser. É preciso parecer

Na relação com credores, é de suma importância mostrar sua organização financeira. Presteza e organização no envio de informações são mais raras do que se pode imaginar. Consistência então, nem se fala!

Revise cuidadosamente suas informações antes de disponibiliza-las a um potencial credor. Tais informações serão cuidadosamente escrutinadas. Se você não tem nada a esconder, não esconda. Usualmente o pacote básico de demonstrações financeiras não basta para parecer organizado. Como disse, é o básico.

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Seu setor de atuação certamente dispõe de outras informações gerenciais que ajudarão na tomada de decisão. Disponibilize-as espontânea e prontamente. Fluxo de caixa projetado é algo que será comumente solicitado – é básico, especialmente se você pretende tomar linhas de prazo mais alongado.

Por fim, se possível, audite seus números. Você vai mudar de patamar na relação com o mercado. Desorganização vai lhe custar dinheiro – pode acreditar.

3. Cuide de sua Estrutura de Capital

A relação entre Passivo Total e Patrimônio Líquido é um indicador bastante analisado em empresas médias. Os manuais de finanças corporativas indicam que o capital próprio é sempre o mais caro e que é importante um certo grau de alavancagem para que você possa financiar de forma eficiente suas operações.

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O segredo aqui é a relação entre capital próprio e capital de terceiros. Empresas médias pouco capitalizadas terão sempre mais dificuldades na obtenção de crédito. Há um pouco de arte aqui: o WACC (sigla que vem do inglês weighted average capital cost e significa custo médio ponderado de capital) leva em conta o custo médio do capital próprio e o de terceiros, ponderado pela fração de cada um no capital total da empresa.

Balancear adequadamente essa relação é metade ciência e metade arte em empresas médias. Garanto que acionistas que descapitalizam constantemente suas companhias em nome de projetos paralelos ou pessoais tendem a pagar caro por tais atitudes. Portanto, tal prática deve ser evitada.

4. Cuide de seu Capital de Giro e de sua liquidez

Acompanhar suas contas de curto prazo e fazer uma boa gestão do seu capital de giro é fundamental. Jamais subestime seu ciclo financeiro. Gerenciar bem os prazos com clientes e fornecedores e fazer uma boa gestão de estoques pode parecer básico, mas é constantemente fonte de estresse nas empresas.

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Há pressões de todos os lados gerando forças contrárias a essa boa gestão. Muitas vezes tais pressões vêm do próprio acionista, que se envolve em atividades comerciais e/ou operacionais. Compra-se mais do que o necessário.

Em nome de alavancagem de vendas, descuida-se da gestão do ciclo financeiro, aí a “batata quente” cai para o financeiro. A consequência natural é o endividamento não planejado que se torna caro e ineficiente, o que normalmente afeta a estrutura de capital.

A lição aqui é a de que o gestor financeiro precisa ter algum grau de empoderamento nas companhias. No mínimo precisa ter voz igual ao comercial em discussões que afetem o planejamento financeiro de curto e médio prazo do caixa da empresa.

5. De olho nos indicadores financeiros

Ao buscar crédito, tenha certeza que indicadores como a NCG (Necessidade de Capital de Giro), Índice de Cobertura de Juros, EBITDA/Dívida Líquida serão analisados cuidadosamente.

Há padrões de mercado para cada um deles. Índices de alavancagem excessivamente altos, impactarão no apetite e no preço dos credores. Cabe a gestão financeira trabalhar para enquadrar tais indicadores a padrões aceitáveis de mercado.

Sugestão: busque benchmarks em seu setor de atuação. Boas empresas de capital aberto podem ser um bom ponto de partida.

6. Faça a gestão do seu fluxo de caixa e de seu orçamento anual

Parece uma bobagem falar isso, mas não há como realizar boa gestão financeira sem uma gestão orçamentária anual e sem que o orçamento esteja intimamente ligado ao modelo de incentivos de todas as áreas do negócio. Disciplina aqui é a chave.

Quanto à gestão de fluxo de caixa, duas boas práticas com as quais me deparei ao longo de minha carreira são: no mínimo tenha sempre em mãos um fluxo de caixa detalhado de 13 semanas (ou 3 meses) e realize reuniões de caixa semanais com os principais stakeholders. Reuniões de caixa são fundamentais para direcionar as ações imediatas de dia a dia mesmo quando as coisas andam bem.

7. O caixa é rei

Muitas empresas quebram por causa do caixa. Isso porque operar sem nenhum caixa disponível é um demonstrativo de risco muito maior do que se pode imaginar aos olhos do mercado.

Dispor de uma reserva emergencial, mesmo que a algum custo é um “hedge” operacional importante. Considere, sempre que possível, possuir uma reserva de liquidez imediata.

Enfim, como afirmei no início, o propósito destas breves considerações foi provocar reflexões e auxiliar algumas empresas no relacionamento com seus credores.

Para termos um mercado de crédito mais competitivo, é fundamental que os tomadores também sejam parte de um movimento de redução da assimetria de informações neste mercado, pois essa é uma das maiores fontes dos altos spreads que temos no país.

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Rodrigo Moreira

Sócio da Xp Inc., Mestre em Economia, Bacharel em Engenharia e head da XP Empresas. Possui 20 anos de experiência dedicados ao atendimento de empresas de grande e médio porte. Com passagens por Itau BBA, Unibanco, Pactual e Bozano, Simonsen.