Urânio já sobe 50% em 2020 e tensão entre EUA e Rússia pode desencadear novas altas

A relação desgastada entre os dois países traz riscos às empresas de energia elétrica que compram a commodity

Marcelo López

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O mercado de urânio é essencial para a produção de energia limpa e confiável e países do mundo inteiro estão se dando conta da importância da segurança energética para seu próprio desenvolvimento.

Geopolítica sempre foi um fator de risco para os investidores em geral, especialmente em se tratando de uma commodity que, além de poder ser usada para a geração de energia elétrica, tem potencial para aplicação na indústria bélica. Alguns desenvolvimentos recentes justamente no tabuleiro geopolítico podem trazer disrupturas para o setor.

Observamos hoje uma relação bem desgastada entre EUA e Rússia, e isso traz alguns riscos para os compradores finais de urânio, as utilities. Não vou me aprofundar no assunto, mas vale contextualizar que a energia nuclear é responsável por 20% de toda a eletricidade produzida nos EUA, e que a Rússia controla 60% do mercado de urânio e 43% do mercado de enriquecimento mundial.

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Já escrevi bastante sobre a Section 232 e o Nuclear Fuel Working Group (NFWG), cujos termos foram revelados há pouco mais de um mês. Um dos itens do relatório produzido pelo NFWG fala abertamente da imposição de restrições à entrada de material russo nos EUA, hoje limitado a um teto de 20% do consumo total americano pelo Russian Suspension Agreement.

Esse teto expira no final do ano, em virtude do vencimento do tratado, o que deixaria as portas abertas para as empresas russas venderem ainda mais urânio e serviços para as utilities norte-americanas. O NFWG, no entanto, recomenda que esse teto seja mantido e ainda reduzido para 15% em um curto intervalo de tempo. Essa recomendação deverá ser votada no segundo semestre e tem apoio de democratas e republicanos.

Outro desenrolar que merece menção é um risco que já mencionei algumas vezes, mas que não estava na pauta de nenhum analista do setor: as concessões para o Irã. Hoje, várias empresas europeias, russas e chinesas prestam serviços ou vendem produtos para os sites nucleares iranianos. Isso só é possível, porque o presidente Trump assina, a cada dois meses, uma concessão (waiver), ou extensão de prazo, para que essas empresas possam continuar a fazer negócios no paíspersa.

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Dessa vez, Trump decidiu não prorrogar o waivere encerrar de uma vez as colaborações entre essas empresas e o Irã. A decisão acerta em cheio a Rússia, que tem relações bem próximas com Teerã. Agora, segundo a decisão do presidente, as empresas terão até 60 dias para encerrar quaisquer negócios no país, caso contrário estarão sujeitas a punições e sanções, que as impossibilitaria de fazer negócios com empresas norte-americanas.

Essa atitude já despertou animosidades em Moscou. Ainda não sabemos se as empresas russas continuarão a fazer negócios com os iranianos, mas o risco de continuarem e sofrerem sanções é real e pode trazer ainda mais disrupções ao setor, com os russos impedidos de serem fornecedores para os reatores nucleares americanos.

As utilities, que voaram em céu de brigadeiro nos últimos anos, estão sendo lembradas mais uma vez da importância da segurança do fornecimento. O urânio já apresenta uma forte alta de quase 50% esse ano e ainda vejo muito espaço para subir.

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Marcelo López

Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.