Os Simpsons e o exercício de futurologia

Antes de tentar prever o futuro, convido você a um mergulho profundo no passado dos fundos antes de começar a investir neles

Carolina Oliveira

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Os criadores de Os Simpsons previram até mesmo a criação da nota de R$ 200! (Reprodução)
Os criadores de Os Simpsons previram até mesmo a criação da nota de R$ 200! (Reprodução)

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Tentar adivinhar o futuro é um exercício em vão. Porém, se dermos uma espiadinha no passado, é possível entender que o mercado funciona em ciclos e, a partir daí, obter informações valiosas

Até a adolescência, assisti muito aos Simpsons. Adorava ver especialmente a interação entre os irmãos Bart e Lisa, que sempre me lembrava do convívio com meu irmão, Ramon.

Porém, voltei a me interessar recentemente pelo programa quando descobri um fato bem curioso: muitos dos episódios antigos dos Simpsons “adivinharam” o nosso futuro.

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Fazendo uma rápida pesquisa, vi que, ao projetar uma realidade futura, a animação acertou que Donald Trump se tornaria o presidente dos Estados Unidos.

Além disso, episódios antigos já mostravam personagens fazendo uso de smartwatches e videoconferências. Eles até mesmo previram a criação da nota de R$ 200!

Tais acertos são impressionantes, é fato. Mas no mundo dos investimentos (e na vida) não podemos predizer o futuro como o desenho faz.

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Afinal, ele é uma ficção em que as afirmações são feitas de maneira livre e sem o compromisso de acerto.

Mas podemos, com base em análises do que aconteceu nas economias dos países em determinado período histórico, fazer projeções e montar um cenário-base no qual as posições em ativos são feitas.

No mês passado, na carta de gestão de julho da Dahlia, chamada “Uma viagem no tempo”, vi o time da gestora de ações contar sobre cenários que se repetem nas economias, com destaque para a seguinte passagem: “Acreditamos que muitas vezes os ciclos se repetem, como os loops temporais de O Feitiço do Tempo [filme de 1993 estrelado por Bill Murray]. Nessas horas, é mais fácil olhar para o passado para entender o que pode acontecer no futuro.”

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Também assisti ao Luis Stuhlberger, gestor do renomado fundo Verde, falar sobre como gostamos de usar a frase “Desta vez é diferente”, mas nunca o é, de fato.

E me lembrei de Ray Dalio e seu livro Princípios, no qual o fundador da Bridgewater relata que sempre busca na história os cenários se repetindo.

O que todas as narrativas têm em comum? A observância em histórias do passado para construir os cenários do futuro.

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E isso vale para cenários econômicos, cenários de empresas e, puxando a brasa para minha sardinha, para o universo dos fundos – e, por que não, dos gestores.

Saber como os gestores se comportaram em eventos passados não nos dará 100% de certeza sobre o que virá no futuro, mas é um bom indicador para ficar de olho.

Sabe aquele gestor que, num momento de muita confiança, acaba tomando mais risco do que deveria? Na bonança, acaba se destacando, mas, quando vem uma crise, entrega um retorno muito pior que o mercado.

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O mesmo vale para um cenário inverso: um gestor que, por ser pequeno, consegue entrar e sair de posições das quais gestores maiores não teriam tanta facilidade, e, por conta disso, tem um retorno muito positivo no começo.

Porém, conforme vai crescendo, acaba deixando de tomar riscos para não macular sua performance.

Uma das nossas missões aqui na Spiti é tentar conhecer aos poucos o trabalho de cada gestora e entender suas características para que possamos recomendar os produtos que mais fazem sentido para o investidor e a investidora.

Sempre digo para as pessoas que, mesmo sendo muito fã de números, sou mais aficionada ainda pela história que esses números contam.

Deixe-me explicar melhor: quando começamos nosso relacionamento com os gestores de fundos de investimento, por exemplo, costumamos fazer nosso dever de casa.

Pesquisamos todo o histórico que há disponível dele na CVM, além de olharmos também a parte quantitativa, como retorno e risco.

Porém, não é incomum ouvirmos coisas do tipo: “Carol, o fundo que estamos apresentando começou em 2014, mas consideramos apenas o período a partir de 2017, porque fizemos uma grande reestruturação na gestora. Então, boa parte do time de gestão foi renovada”.

Há casos também em que notamos a existência de um período distinto de um fundo que é bem diferente dos demais – e sempre pergunto: “Mas o que aconteceu aqui?”.

Em geral, o gestor nos fala sobre uma estratégia implementada que não deu certo em um fundo ou até de uma posição que estava muito mais concentrada.

Um outro exemplo, que não é numérico, mas tão interessante quanto, é ver times de gestão indo e vindo de diversas casas. Nesse caso, são pessoas que se desligaram de uma gestora, o que também nos leva a querer entender os motivos pelos quais saíram.

Vale ressaltar que olhar para o passado não é necessariamente trivial. Ainda que ele possa oferecer informações importantes e tendências, não podemos nunca nos esquecer de que sempre podemos nos deparar com surpresas no meio do caminho – vide a pandemia.

E, infelizmente, aquele número que todo mundo mais gosta de olhar – o retorno – também depende de incontáveis variáveis. Nunca é demais reforçar: retorno passado não é garantia de retorno futuro.

Por isso, antes de tentar prever o futuro com base em notícias ou achar que grandes janelas de retorno divulgadas em ranking vão se repetir com consistência, convido você a, assim como eu mesma faço, dar um mergulho profundo no que já aconteceu nos fundos antes de começar a investir neles.

Talvez você consiga ver muito mais sobre o futuro dos fundos olhando para o passado.

Abraços,

Carol Oliveira

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Carolina Oliveira

Carolina Oliveira é especialista em fundos de investimento na Spiti, analista CNPI, economista e mestre em Economia Empresarial. Atuou nas áreas de investimentos de fundos de pensão por quase uma década. Acredita que os investimentos foram feitos para beneficiar aquele que investe e que o pequeno investidor deveria ser capaz de conseguir investir sem firulas e com o calibre de um investidor grande. É por essa causa que está disposta a advogar.