SÃO PAULO – Gestora com o foco voltado para o mercado internacional, a M Square manteve sangue frio durante o auge da crise provocada pela epidemia de coronavírus e não promoveu nenhum tipo de alteração significativa em sua carteira.
Com foco no longo prazo, nem faria sentido agir por impulso, o que não quer dizer que o nervosismo de investidores tenha passado longe. Luciana Barreto, CEO da gestora, conta que a casa está atenta às mudanças de hábitos que poderão acontecer daqui para frente e nas empresas que não só vão sobreviver à crise, como poderão sair ainda mais fortes e dominantes em seus mercados.
“Nosso dia é muito mais pensado em como montar carteiras adequadas ao perfil de cada investidor e resilientes, que consigam passar por diferentes ciclos econômicos. Costumamos ter posição estrutural a ações em nossos portfolios e não aumentamos ou diminuímos no meio da crise, nem agora”, afirmou Luciana, em conversa com o InfoMoney.
A M Square, que informa ser responsável por mais de US$ 1 bilhão sob gestão, atende basicamente grandes famílias com portfólios customizados, e fundações de previdência.
Apenas um fundo, o M Square Global Equity Managers, está disponível ao investidor pessoa física, desde que qualificado (com ao menos R$ 1 milhão em aplicações financeiras) e com disposição para investir o mínimo exigido, de R$ 2 milhões.
A carteira com foco em ações globais destina hoje metade (54,7%) dos recursos a ativos na América do Norte, 15%, na Europa, e 13%, na Ásia. Em termos setoriais, tecnologia da informação detém 20,3% do patrimônio, seguido por serviços de comunicação (18,9%) e consumo (17,2%).
As maiores posições individuais são ocupadas pela americana Charter Communications, seguida pelas chinesas Tencent e Alibaba.
Com foco em fundos multiativos ou focados em ações, a M Square aloca os recursos escolhendo gestores especializados em diferentes mercados.
Atenta às tensões mais recentes envolvendo a queda das ações de grandes empresas de tecnologia, responsáveis pela retomada das bolsas americanas na crise, a gestora ainda vê oportunidades no segmento, assim como em empresas de energia, que têm sido foco de maior pressão vendedora no ano.
“Escolher as sobreviventes é um bom jeito de ter oportunidades para frente. Identificar quais serão as empresas que irão continuar crescendo e roubando mercado”, diz Luciana.
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Na seara das novas tendências, empresas de infraestrutura de internet têm se destacado e, na renda fixa, a preferência recai sobre papéis de maior risco (e retorno esperado) – os chamados títulos high yield.
Os spreads de títulos “podres” estão atrativos, defende a CEO, ainda que menos do que no auge da crise, em março. E é bom se preparar para novas emoções a caminho.
“Muitos dos gestores especialistas estão falando de uma onda de default muito grande que ainda virá. Ela pode ter impacto nas empresas e na economia em geral, e tende a levar a um aumento significativo do número de defaults lá fora”, observa.
Nesse caso, a jurisdição do título é fundamental na escolha, com preferência para que seja principalmente americana ou inglesa, diante da maior segurança oferecida a credores.
E ainda entre os ativos de maior risco, os investimentos alternativos também permanecem no radar, especialmente em venture capital e growth equity. Apesar da crise, novos negócios não pararam de surgir, e com uma leva de IPOs que têm possibilitado a saída de investimentos em companhias cada vez maiores, assinala.
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Entre os investimentos com maior grau de incerteza, a M Square tem dúvidas com relação ao potencial do mercado imobiliário, especialmente diante das mudanças que poderão perdurar por conta da epidemia. “É o segmento em que estamos menos animados para colocar capital para trabalhar hoje”, diz Luciana.
E com o quadro de juros globais em níveis tão baixos, a renda fixa tradicional também vem perdendo apelo.
“Era o retorno sem risco e virou o risco livre de retorno”, brinca a CEO. “Historicamente, esse componente protegia os portfólios de volatilidade em momentos de risco. Não é mais tão obvio que essa relação se repita no futuro dado o nível de juros.”
Abertura gradual
Ainda que taxas tão baixas de juros possam ser um apelo para a diversificação internacional dos portfólios, as fundações seguem resistentes a se abrir ao mercado externo.
Mesmo com o maior interesse dos fundos de pensão, a CEO da M Square assinala que a discussão ainda é bastante embrionária.
“A maioria das conversas que temos tido ainda são quase um brainstorming de como investir lá fora, quais as oportunidades, como pensar no portfólio como um todo. A M Square entende que a melhor forma de investir no exterior é ter uma carteira que seja primordialmente de equity [ações] e ter o câmbio”, afirma, enaltecendo a importância de ter exposição à moeda, sem o hedge das carteiras, para uma melhor diversificação.
O mesmo vale para o investidor pessoa física, dado que o dólar é uma forma de garantir maior estabilidade para a carteira no longo prazo, independentemente da situação no Brasil, avalia Luciana.
Inflação como vilã
Questionada sobre o que tira o sono da M Square hoje, Luciana não titubeia: inflação.
Os efeitos da enxurrada de liquidez nas economias para mitigar os efeitos da crise preocupam, mas a situação ainda segue bastante incerta.
“Não diria que é uma preocupação imediata, mas certamente falamos muito disso nas nossas discussões de portfólios, de como podemos ter certeza que estão resilientes se tivermos uma condição de inflação descontrolada.”
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