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SÃO PAULO – Na última quinta-feira (17), foi realizado leilão de transmissão de energia na B3, que atraiu para o setor R$ 7,34 bilhões em compromissos de investimentos assumidos pelos vencedores. O evento foi bastante disputado, contando com a participação de 55 empresas, sendo 37 nacionais e 18 estrangeiras.
Os vencedores do leilão foram as empresas que ofereceram maiores deságios em relação à Receita Anual Permitida (RAP) para os projetos, estimada em R$ 1 bilhão – nesse caso, o desconto médio foi de 55%. Isso visa a garantir um repasse menor de preços para a conta dos consumidores.
Conforme destaca a XP Investimentos, o desconto de 55% foi bastante agressivo, ilustrando os níveis ainda elevados de competição nos leilões de transmissão.
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“Tais resultados são um reflexo tanto do atual ambiente de baixas taxas de juros (levando as empresas a aceitarem retornos menores nas linhas devido às melhores condições de financiamento) quanto da entrada de novos competidores no setor”, avaliam Gabriel Francisco e Maira Maldonado, analistas da XP.
Também em destaque, a pouco conhecida MEZ Energia roubou a cena. São da empresa os consórcios Saint Nicholas I e II, que arremataram juntos 5 dos 11 lotes ofertados no certame. A empresa se comprometeu em investir R$ 2,39 bilhões, desbancando transmissoras tradicionais, como ISA Cteep (TRPL4) e Taesa (TAEE11), e também elétricas de grande porte, como EDP Energias do Brasil (ENBR3), Energisa (ENGI11), Neoenergia (NEOE3), Eletrobras (ELET3;ELET6) e Copel (CPLE6).
No entanto, os três maiores lotes ofertados, que somam mais de R$ 4 bilhões em investimentos, foram para Neoenergia, ISA Cteep e Energisa.
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Em entrevista a jornalistas depois o leilão, o presidente da ISA Cteep, Rui Chammas, explicou o desempenho da companhia, que também fez lances pelos lotes 3 e 8, mas foi superada pela MEZ. Segundo ele, ISA Cteep, tradicional transmissora e que no leilão anterior tinha surpreendido o mercado com descontos elevados, fez “análise disciplinada, profunda, e diligente” dos lotes que disputou, com estudos de engenharia e financeiros.
A ISA Cteep conquistou o segundo maior lote ofertado, com investimento que supera R$ 1 bilhão. A companhia fez um lance também com deságio elevado, 57,94%, e terá uma receita anual de aproximadamente R$ 68 milhões quando o empreendimento começar a operar.
Entre as demais empresas tradicionais do setor, a Neoenergia levou o lote 2, o maior do leilão, com quase R$ 2 bilhões em investimentos previstos. A empresa ofereceu R$ 159,6 milhões de RAP, deságio de 42,6% em relação ao valor teto. A empresa também disputou outros ativos, mas as propostas não foram tão competitivas.
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A Energisa, no último minuto, ofereceu um lance vencedor em disputa viva-voz pelo lote 11, o terceiro maior do leilão, com R$ 882,2 milhões em investimentos. A empresa ofertou RAP de R$ 63 milhões, com deságio de 47,37%, para ficar com empreendimentos localizados no Amazonas, sendo que parte deles já estão em operações, mas deverão passar por uma revitalização.
O Credit Suisse focou sua análise nos blocos conquistados pela Neonergia e pela Energisa, destacando que ambos os projetos se beneficiarão de incentivos fiscais e prováveis recursos do Banco do Nordeste e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a custos competitivos.
“Assumindo que as empresas possam reduzir os investimentos em capital em 15% em relação ao nível regulatório, concluir a construção com doze meses de antecedência e se alavancarem [para realizarem os investimentos] a um custo de captação de IPCA + 4,5%, chegamos a uma taxa interna de retorno (TIR) de cerca de 7%”, apontam os analistas do banco suíço.
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No caso da Neoenergia, os analistas destacam as sinergias de custos com a operação de outros projetos na unidade de distribuição na Bahia. Já para a Energisa, como o bloco está localizado no Amazonas, a equipe de análise não enxerga sinergias claras. Além disso, embora veja um alto desconto no leilão, as duas empresas tiveram descontos relativamente menores, garantindo melhor retorno em potencial na comparação com outros participantes.
A Levante Ideias de Investimentos, por sua vez, destaca que a atratividade do setor para receber investimentos, a princípio positiva, gera ressalvas sobre a correta precificação desses ativos, sendo necessário aguardar para verificar se essas empresas ganhadoras conseguirão extrair valor de projetos com deságios tão pronunciados.
Para a equipe de análise, outro ponto de ressalva é que empresas mais focadas em distribuição e com projetos de transmissão menos relevantes, justamente o caso de Neoenergia e Energisa, apresentam maior risco de execução para projetos de transmissão, diferente de companhias como a Cteep, que já possui ativos neste segmento e com maior histórico.
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Contudo, quando comparadas as ofertas vencedoras entre si, a Cteep foi relativamente mais agressiva do que Neoenergia e Energisa, postura essa negativa para os acionistas. Porém, a empresa adotou postura menos agressiva em outros lotes, razão pela qual se consagrou vencedora em apenas um deles.
Também com relação à Cteep, os analistas da XP estimam uma taxa interna de retorno de 4,8% para o projeto que a companhia arrematou, destacando que a empresa pode se beneficiar de sinergias devido à proximidade da linha aos seus ativos já em operação e, portanto, pode obter maiores margens com a nova linha. No entanto, mesmo em um cenário otimista, eles acreditam que praticamente não há geração de valor aos acionistas da Cteep com o novo ativo.
“Tendo em vista a escassez de oportunidades de retornos em leilões de transmissão e fusões e aquisições de linhas já operacionais, acreditamos que seria melhor do ponto de vista de alocação de capital que a Cteep distribuísse mais dividendos a acionistas do que reinvestisse seus fluxos de caixa a baixas taxas de retorno”, avaliam. A recomendação dos analistas da XP para os papéis TRPL4 é neutra, com preço-alvo de R$ 23 por ação.
Leia também: Neoenergia, Cteep, Energisa e Mez levam projetos em leilão de transmissão
Fazendo um balanço geral sobre o certame, os analistas da Levante apontam que alguns fatores podem explicar a rentabilidade efetiva relativamente baixa do leilão para as empresas, como a percepção dos participantes de que a expectativa de investimentos estimada pela Aneel é conservadora, havendo espaço para otimização, com redução do capex. Outro fator é a alavancagem, que, no atual cenário de juros baixos, pode ser implementada a custos competitivos. “Embora razoáveis, há um risco de execução envolvido nessas estratégias, que deve ser acompanhado nos próximos trimestres”, destacam.
A Levante ainda faz um outro destaque: o retorno da Eletrobras ao leilão de transmissão, tendo sido proibida pela Aneel de participar nos últimos anos por ter atrasado a entrega de empreendimentos. A estatal participou da licitação por meio das subsidiárias Furnas, Eletrosul CGT e Amazonas GT, porém acabou não arrematando nenhum ativo. “Esse é um sinal de que a empresa, distintamente da postura adotada em gestões anteriores, está mais racional e seletiva em sua decisão de participação em leilões”, avalia.
Para os próximos leilões, os analistas da Levante estimam que o cenário disputado deva se repetir, sugerindo que as oportunidades de crescimento para empresas como Cteep, Taesa e Alupar serão limitadas. Ao mesmo tempo, o cenário valoriza os projetos rentáveis que essas companhias conquistaram em leilões de anos anteriores à medida que a concorrência reduz a taxa interna de retorno exigida para operação de linhas de transmissão.
Entre as companhias de transmissão que disputaram o leilão, os analistas do Morgan Stanley destacam que o nome preferido é Alupar, seguido de Cteep, ambos com recomendação overweight (exposição acima da média do mercado) para as ações.
“Acreditamos que ambos os nomes oferecem um perfil de risco-recompensa atraente, mas Alupar se destaca em termos de potencial de crescimento e valuation atrativo. Por outro lado, possuímos uma classificação underweight (exposição abaixo da média do mercado) para Taesa, que oferece uma das menores taxas internas de retorno implícitas de nosso universo de cobertura”, ressalta o banco americano.
Sobre a novata no leilão
A surpresa no leilão foi a MEZ Energia, criada no ano passado por Mauricio Zarzur e Marcos Ernesto Zarzur e que possui quatro projetos de transmissão em carteira, totalizando R$ 715 milhões em investimentos regulatórios. Um deles, localizado na Bahia, foi arrematado no leilão de transmissão do ano passado. Os demais foram adquiridos no mercado “secundário”, isto é, junto a outros empreendedores, em Goiás e Rio Grande do Sul.
Com os novos projetos adquiridos no leilão, a companhia vai incorporar em seu portfólio concessões que renderão uma receita anual permitida (RAP) de R$ 121 milhões. Em um dos lotes, o lance vencedor da MEZ representou deságio de 70,35%
Em entrevista, a gerente jurídica do grupo MEZ, Kelly Santos, afirmou que a empresa chegou ao certame com uma estratégia agressiva de levar até 7 dos 11 lotes ofertados. “Levamos cinco, então acho que a meta foi alcançada”, disse. “A estratégia do grupo é expandir no segmento de transmissão de energia, e hoje demos um grande passo para isso.”
Segundo Kelly, a MEZ hoje está no setor de transmissão, mas faz parte do grupo também uma construtora – o que, na visão dela, permite uma operação mais competitiva. Ela frisou que isso ajudaria a explicar as propostas tão abaixo dos valores máximos definidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), além de mais competitivas do que a de operadores mais tradicionais no setor.
Para a executiva da MEZ, a postura agressiva também encontra respaldo na experiência dos dois sócios fundadores empresa, originários do grupo Eztec. “Se tem algo que eles entendem é de projeto de construção, eficiência técnica e boa gestão de recursos. É isso que torna a gente tão audacioso como chegamos para o leilão de hoje [ontem]”, afirmou.
(Com Agência Estado)
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