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SÃO PAULO – Com as mudanças regulatórias promovidas nos últimos anos, que têm aproximado o perfil de risco dos fundos de previdência dos demais produtos do mercado, diversas gestoras passaram a oferecer veículos da categoria que seguem de perto a estratégia original de seus fundos de ações ou dos multimercados.
Como resultado dessa tendência recente, entre os fundos da categoria que mais se destacaram em 2020 em termos de rentabilidade, a maior parte ainda tem um histórico relativamente curto, embora com base em estratégias de gestores renomados com anos de estrada, como Truxt, Kinea, ARX, Mauá e Verde.
Segundo levantamento com base em dados extraídos da Economatica, das 15 maiores rentabilidades entre os fundos de previdência nos últimos 12 meses, dez foram de veículos criados em 2018 ou 2019.
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É o caso, por exemplo, do fundo de ações Truxt Previdência FIA, que rendeu 28,1% no ano passado e que foi criado em dezembro de 2018, e do multimercado ARX K2 Inflação Curta, com rentabilidade de 15,6% e que surgiu em outubro de 2019.
São fundos novos, mas geridos por profissionais experientes que souberam defender os portfólios previdenciários de ações ou multimercados na hora da paúra, quando o estresse tomou conta dos mercados, assim como reposicionar as carteiras no momento certo para capturar a retomada.
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Confira a seguir os 15 fundos de previdência com o maior retorno em 2020, bem como a rentabilidade desde o início de cada um deles – como percentual do CDI, no caso dos multimercados, ou em pontos percentuais acima do Ibovespa, entre os de ações, exceção feita aos fundos da Dahlia e da Constellation, que, embora sejam estruturas de multimercados, são carteiras que podem ter 100% da alocação em ações.
Para o levantamento, foram considerados apenas fundos não exclusivos das categorias multimercado, ações e renda fixa, com ao menos 12 meses de histórico até 31 de dezembro. Foram excluídos fundos de cotas, de modo a evitar a dupla contagem das carteiras.
Chama atenção a ausência de fundos geridos por grandes bancos entre as maiores rentabilidades do período.
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Importante lembrar que retorno passado não é garantia de rentabilidade futura, embora seja interessante analisar o desempenho histórico dos fundos para observar sua consistência, ainda mais quando se tratam de produtos de caráter previdenciário, em que o horizonte de investimento precisa ser maior.
Crescimento e valor
Segundo José Tovar, CEO da Truxt, o retorno obtido no ano passado se deve em grande medida a uma postura um pouco mais conservadora que já vinha mesmo antes da pandemia, por conta dos níveis em que estavam os preços na ocasião, considerados relativamente esticados pelos especialistas.
Após o baque inicial causado pela Covid-19, e com a ajuda extraordinária promovida pelos governos, a decisão da Truxt foi apostar as fichas nos nomes que mais se beneficiariam do isolamento social, diz Tovar, que cita como exemplo as ações da Magazine Luiza, do Mercado Livre, da Stone, da XP e do BTG Pactual.
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A diferença de retorno em relação à estratégia original, que rendeu cerca de 33%, explica o CEO da Truxt, se deve principalmente à limitação do investimento dos fundos de previdência em ativos negociados nas bolsas internacionais.
Quando o fundo de previdência da Truxt foi criado, a permissão regulatória para ativos no exterior era de apenas 10%, explica Tovar. Em produtos criados a partir de 2020, a exposição internacional pode chegar a até 40%, no caso dos veículos voltados para o investidor qualificado.
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Com a forte alta do setor de e-commerce desde meados de abril, e as perspectivas positivas para a recuperação da economia global por conta do gigante chinês, a gestora decidiu recentemente reduzir a posição em ações de tecnologia, e dar maior foco ao setor de commodities, por meio de papéis como da Vale e da PetroRio. “São ações que a gente já tinha na carteira e nos quais aumentou a posição no fim do ano.”
Commodities em alta
Quem também conseguiu se destacar na classe em 2020, tendo nascido em novembro de 2019, foi o Kinea Prev Ações, que rendeu cerca de 15% nos últimos 12 meses.
Rafael Soares Oliveira, responsável pelos fundos de ações da gestora, explica que, na fase mais aguda da crise, também concentrou a carteira nas empresas que mais ganharam com o aumento da digitalização, como Mercado Livre e BTG Pactual.
A partir de meados de outubro, com a rotação que teve início das ações de tecnologia para aquelas que ficaram para trás na crise, a opção foi reforçar a aposta em nomes do setor de commodities que já vinham na carteira, como Vale, Petrobras, Gerdau, Suzano e CSN.
Por outro lado, Oliveira afirma estar com uma visão um pouco menos construtiva no momento em relação às empresas de consumo, como Lojas Renner, Lojas Americanas, Iguatemi e BR Malls.
Isso porque, na visão do especialista, o agravamento da pandemia por conta das festas de fim de ano e o consequente aumento das restrições de locomoção ainda podem penalizar esses papéis.
Energia, tecnologia e líderes
No caso do Dahlia 100 Fife Prev, três grandes teses de investimento estão presentes nos portfólios desde a criação da gestora, em 2018, se mantiveram firme e fortes ao longo de 2020 e devem prosseguir assim em 2021, conta a sócia Sara Delfim.
Empresas do setor de energia que se beneficiem de um cenário de juros estruturalmente baixos no Brasil, as brasileiras de tecnologia e empresas líderes em seus segmentos de atuação são apontadas pela especialista como as principais teses a guiar a gestão da Dahlia.
“90% das empresas que temos hoje na carteira já tínhamos no início do fundo, giramos muito pouco”, afirma Sara, acrescentando que o veículo previdenciário foca a atuação exclusivamente em ações da Bolsa local.
Criado em março de 2019, o fundo rendeu aproximadamente 20% no ano passado. Embora faça uso de uma estrutura de multimercado por questões operacionais, o fundo replica a principal estratégia de ações brasileiras da casa.
Entre as empresas de energia, a Eneva é uma das preferências, em um setor de caráter defensivo em momentos de forte queda do PIB, diz a gestora, devido à demanda inelástica com geração de caixa previsível, além de ser um grande pagador de dividendos.
Já em relação à tecnologia local, nomes como Magazine Luiza e Totvs dividem espaço com outros que, à primeira vista, podem não parecer tão óbvios para o segmento, mas que também têm investido pesado na área de inovação, como Weg e Tim, explica o gestor Mauricio Fernandes.
Entre as empresas líderes em seus segmentos de atuação, que se beneficiam tanto em um cenário de forte crescimento da economia como em ciclos de recessão, por ganharem participação de mercado de concorrentes de menor porte, Localiza, Petz e Alpargatas estão entre as apostas da Dahlia.
Juros e dívida privada
Entre os multimercados, um dos destaques do período com uma alta de 15,6% foi o ARX K2 Inflação Curta, fundo dedicado a ativos privados de renda fixa denominados “high grade”, ou grau de investimento, explica o gestor de crédito, Pierre Jadoul. Entre os nomes na carteira, ele cita Itaúsa e CTEEP.
Além das dívidas corporativas, o fundo carrega posições via derivativos atreladas ao desempenho de títulos públicos indexados à inflação, tendo o IMA-B 5 da Anbima como benchmark. O índice mede o desempenho de títulos Tesouro IPCA+ com vencimento de até cinco anos, e encerrou 2020 com valorização de 8%.
Durante o ano passado, o veículo conseguiu tirar proveito tanto das posições em títulos privados como das referenciadas nos títulos públicos, que se beneficiaram do fechamento de taxas observada no período, ainda que com muita volatilidade no meio do caminho, recorda Jadoul. “Soubemos defender bem o fundo quando teve o estresse na curva de juros, assim como nos reposicionar na recuperação.”
Ele diz ainda que, até mesmo por ter sido criado pouco antes da pandemia, em meados de março o fundo estava com uma posição confortável de caixa, o que permitiu aos gestores aproveitar as oportunidades em títulos de crédito emitidos por empresas de boa qualidade, que negociavam a CDI mais 1% de spread aproximadamente antes da pandemia, que chegou à casa dos 5% na crise.
Jadoul explica que, embora o fundo tenha o IMA-B 5 como benchmark, os gestores têm liberdade para buscar os vértices da curva em que enxergam a melhor relação entre risco e retorno, bem como dívidas corporativas de longo prazo, acima de dez anos.