Caso Gamestop: o que se fortalece e se enfraquece na disputa de indivíduos x Wall Street

Mais do que descrever os fatos, que estão amplamente divulgados (quem não falou sobre isso nos últimos dois dias em algum chat que atire a primeira pedra!), o que farei aqui é uma análise do episódio sob alguns prismas, tentando encontrar o que se enfraquece e se fortalece.

Gustavo Cunha

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Mais do que descrever os fatos, que estão amplamente divulgados (quem não falou sobre isso nos últimos dois dias em algum chat que atire a primeira pedra!), o que farei aqui é uma análise do episódio sob alguns prismas, tentando encontrar o que se enfraquece e se fortalece.

Vale ressaltar que nada terminou ainda, e fazer a análise nesta fase dos acontecimentos a torna, no mínimo, parcial.

Vamos lá

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O que se enfraquece:

1 – Modelos de precificação de ativos baseados em estatísticas passadas

A utilização desses modelos puramente, de uma forma ou de outra, já estava caindo em desuso. Usar dados passados pode até ser útil quando vamos fazer a valorização de uma empresa estabelecida, mas está longe de ser completa.

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Para a precificação de startups isso nem é possível, dado que os dados passados podem não ter correlação alguma com o que virá a seguir.

Como é sempre falado no jargão das startups, tudo é impossível, até que não o é!

2 – Sistema financeiro americano

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Apesar de os EUA serem a maior economia do mundo, o sistema financeiro americano não é lá dos melhores. Altas alavancagens são possíveis, as bolsas não têm sistemas de controle robustos de movimentos bruscos de ativos, os registros na bolsa são feitos em nome das corretoras e não dos usuários finais (pessoas jurídicas ou físicas) e por aí vai.

Todos esses controles estão totalmente implementados no Brasil e ajudam na robustez do nosso mercado financeiro, o que impede, ou ao menos dificulta muito, que movimentos como o ocorrido nos EUA aconteçam aqui.

3 – Corretoras americanas

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A decisão da Robinhood de travar a negociação da ação da GameStock um dia após ela ter subido imensamente e de liquidar a posição de alguns usuários é compreensível do ponto de vista de manutenção do negócio – e muito provavelmente previsto nas linhas pequenas do contrato que todos assinaram.

Trata-se de uma empresa regulada, e, caso seja comprovado um episódio de manipulação de mercado, pode haver consequências para ela. Por outro lado, essa decisão não é aceitável do ponto de vista do trader/usuário que quer correr aquele risco. Como disse a um amigo: quem disse que o mercado é livre?

4 – Sistema financeiro tradicional

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A confirmação de um sistema no qual a liberdade de tomada de decisão não é livre, em que as consequências para quem toma posições erradas não é direta, as falhas, ou melhor, falta de controle para impedir o que aconteceu, dentre outros fatores, demonstram um sistema frágil sob o aspecto de controle. E isso é tudo que ninguém quer que transpareça. O mercado financeiro vive de reputação, e a história mostra que, se ela é abalada, as consequências podem ser devastadoras.

O que se fortalece:

1 – Modelos de precificação baseados em comportamento

Não preciso me estender muito aqui. Modelos que incluem monitoramento de sentimento do mercado por meio da atuação em mídias sociais, por exemplo, poderiam ter identificado esse movimento. Talvez não no instante da fagulha inicial, mas muito antes dele se tornar exponencial. Ou seja, ponto positivo para os modelos de análise de comportamentos que explicitam a não racionalidade dos agentes.

2 – DEFI (finanças descentralizadas)

Por ter plataformas de negociação totalmente descentralizadas, em que a censura não cabe, essa nova arquitetura do mercado financeiro deve atrair inúmeros usuários que ficaram frustrados, para dizer o mínimo, com as restrições impostas pelas corretoras nas ações que eles queriam negociar.

Muito tenho falado aqui sobre DEFI e acho que esse movimento de liberdade individual, que cada vez mais aparece presente (ao menos no Ocidente), deve dar um impulso ainda maior para esse setor.

3 – Mídias sociais

O poder de maximização, ou de dar voz a minorias dessas redes, mais uma vez se faz presente. Já tínhamos visto vários episódios em que as redes sociais, por meio da conectividade que elas permitem, foram usadas em várias causas.

Talvez no Brasil, uma das mais emblemáticas tenham sido as manifestações de 2017. Mas pouco se via esse tipo de movimento afetando o mercado financeiro. Talvez pela maior complexidade ou regulação desse mercado, não sei. A verdade é que essa barreira foi quebrada.

Isso tem pontos positivos e negativos, mas está claro que elas conseguem dar voz a grupos que não conseguiriam se organizar antes delas.

Muita coisa ainda está obscura e deverá ser resolvida com o tempo, como:

1 – Como esse episódio será tratado pelos reguladores? Será julgado como um movimento de manipulação de mercado? Haverá um culpado ou essa culpa recairá sobre as mais de 3 milhões de pessoas que negociaram a ação? Elon Musk, a pessoa mais rica da atualidade, será implicado nessa investigação por ter “tuitado” somente o nome da empresa?

2 – Quem são os efetivos ganhadores e perdedores desse movimento? Se a empresa não tiver fundamento para o preço presente, é provável que sua queda seja tão brusca quanto a alta.

E aí, onde você concorda e discorda de mim?

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Gustavo Cunha

Autor do livro A tokenização do Dinheiro, fundador da Fintrender.com, profissional com mais de 20 anos de atuação no mercado financeiro tradicional, tendo sido diretor do Rabobank no Brasil e mais de oito anos de atuação em inovação (majoritariamente cripto e blockchain)