Títulos públicos caem até 7,3% em março e juros voltam a níveis de 2019; vale aproveitar e investir?

Segundo especialistas, prêmios desse papéis estão em patamares atrativos e oferecem excelente oportunidade de investimento

Mariana Zonta d'Ávila

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(Esta matéria teve os dados de variações mensais dos títulos públicos alterados às 12h25 do dia 1º de abril de 2021. Na versão original, eles contemplavam o período dos últimos 30 dias.)

SÃO PAULO – A “dança das cadeiras” no governo, a intensificação do risco fiscal diante do impasse no Orçamento de 2021 e o cenário ainda imprevisível da pandemia no Brasil, com a determinação de novas medidas de isolamento social para conter o ritmo de contágio e o número de mortes, têm levado ao aumento dos prêmios oferecidos pelos títulos públicos negociados no Tesouro Direto.

No caso dos papéis indexados à inflação, por exemplo, as taxas voltaram a atingir níveis de quase um ano atrás, com prêmios acima de 4% ao ano na maioria dos papéis, caso do Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2055. O título chegou a pagar juro real de 4,62% no dia 25 de março, o maior patamar desde 14 de maio de 2020 (4,67%).

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Já nos papéis prefixados, em que o investidor sabe exatamente o quanto vai receber no vencimento, as taxas são as maiores desde 2019, com prêmios na casa dos 9% ao ano.

Com isso, todos os papéis – com exceção dos indexados à taxa Selic – atualmente disponíveis para compra via Tesouro Direto, programa do governo federal de compra e venda para pessoas físicas, voltaram a registrar queda nos preços em março. Em fevereiro, as baixas já haviam se aproximado dos 4%.

A maior queda do mês passado partiu do título Tesouro IPCA+ com vencimento em 2045, com desvalorização de 7,3%, levando o prêmio real pago pelo papel a 4,06% ao ano.

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Entre os prefixados, o destaque negativo ficou com o Tesouro Prefixado com juros semestrais e prazo em 2031, que recuou 4,78% em março, com prêmio anual oferecido de 9,3%.

Exceção do período, os papéis Tesouro Selic, que acompanham a variação da Selic e são menos expostos à volatilidade do mercado, registraram ganhos de 0,13% em março, no prazo em 2024, e de 0,27%, no vencimento em 2027.

No acumulado em 12 meses, todos os papéis disponíveis para compra ainda acumulam alta, com destaque para o título Tesouro IPCA+ 2045, com valorização de 20,8%.

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Diante da avaliação de assimetria de risco e retorno nas taxas pagas atualmente e com revisões consecutivas para cima nas perspectivas de alta para a inflação, gestores de patrimônio e especialistas de investimento têm ampliado a exposição em títulos públicos indexados ao IPCA.

A avaliação é de que os prêmios desses papéis estão em patamares atrativos e oferecem uma excelente oportunidade de investimento para os investidores com perfil de médio e longo prazo.

Confira a seguir como se comportaram os títulos públicos disponíveis para novos investimentos em março, no acumulado do ano e em 12 meses, quando os dados estiverem disponíveis.

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É importante lembrar que o investidor só terá as perdas ou os ganhos apontados se efetivamente vender os papéis antecipadamente. Se carregá-los até o vencimento, o retorno vai respeitar as taxas e as condições contratadas no momento de aquisição dos títulos.

O melhor “cavalo” para se estar posicionado

Para Renan Rego, sócio da gestora de patrimônio G5 Partners, os títulos públicos atrelados à inflação oferecem melhor oportunidade para ganho real do que papéis de crédito privado.

Ele avalia que as taxas acima de 4% não são sustentáveis no longo prazo quando comparadas com as de países em situações consideradas piores que o Brasil, como a Argentina – o que abre oportunidade para compra.

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Com relação ao ponto de entrada, Rego ressalta que há fatores que podem levar a novas aberturas nas taxas, como o encaminhamento de reformas, troca de ministros, subida de juros pelo Banco Central, e que, por isso, não tem aumentado a posição de uma única vez, com novas compras conforme feitas o aumento de estresse do mercado.

Em dezembro, a gestora havia reduzido as posições em títulos públicos atrelados ao IPCA por entender que os prêmios a serem captados estavam menores. A exposição se aproximou de 10% a 12% no portfólio dos clientes e hoje já está mais perto de 22%, com foco nos papéis de vencimento intermediário, entre 2028 e 2030. “É o melhor cavalo para estar posicionado hoje”, defende o sócio.

Assim como na G5, a XP Advisory tem ampliado a fatia em títulos atrelados à inflação dada a visão de relação entre risco e retorno interessante. O percentual alocado em papéis Tesouro IPCA+, que beirava os 10% no início do ano na carteira dos clientes de perfil moderado, hoje encontra-se entre 15% e 20%.

O posicionamento, segundo Guilherme Anversa, sócio e gestor da XP Advisory, se deve à vantagem desses títulos, que protegem o poder de compra dos investidores. “A inflação pode se acomodar nesse patamar e as NTN-Bs [Tesouro IPCA+] vão ajudar com um possível fechamento de taxa, o que não é o cenário base. E com uma inflação mais elevada, esses ativos funcionam como proteção”, destaca.

De acordo com o relatório Focus, do Banco Central, mais recente, a expectativa é de alta de 4,81% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) este ano, acima da meta de 3,75%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Segundo Anversa, o momento é interessante para o investidor com foco no longo prazo que quer ter ganho real, com preferência pelos títulos com vencimentos até 2035 e com o objetivo de carregar o papel até o vencimento.

O gestor prefere evitar papéis com vencimentos a partir desse prazo, dado o risco de mais oscilações e pela maior sensibilidade à questão fiscal brasileira, com o mercado à espera de sinalizações mais claras após a reforma ministerial, além de expectativas com relação ao avanço na agenda de reformas.

Nos portfólios geridos pelo escritório Guelt Investimentos, a fatia alocada em títulos indexados ao IPCA também tem se destacado.

Para investidores de perfil conservador, a preferência recai sobre o Tesouro IPCA+ com vencimentos entre 2026 e 2028. Já para perfis moderados, o meio da curva de juros, entre 2035 e 2040, pode ser uma boa opção, diz Flavio Byron, sócio da Guelt.

“Se o investidor estiver apenas em títulos indexados à Selic ou prefixados, ele vai perder poder de compra caso os bancos centrais ao redor do mundo decidam manter os juros baixos e se mostrem mais tolerantes à inflação – que é o cenário atual”, argumenta.

Para o investidor que aceita mais risco e quer captar boas oportunidades, afirma Byron, ele pode optar pelos vencimentos mais longos, como 2045 e 2055, que pagam juro real na casa dos 4% a 4,4% ao ano, permitindo uma proteção do poder de compra do investidor no longo prazo.

Prefixados: melhor esperar

Com um cenário ainda muito incerto no país, com possível piora fiscal e alta da inflação, os gestores consultados têm preferido observar de longe o comportamento dos títulos prefixados, sem montar posição.

Byron, da Guelt, afirma que as taxas elevadas desses papéis, na casa dos 9%, dão a sensação de que há ganhos, principalmente quando analisado o patamar atual de 2,75% da taxa Selic.

“Em um primeiro momento, o ativo parece atrativo, mas temos que lembrar que vivemos no Brasil e que o cenário muda do dia para a noite. Então ficar amarrado a uma taxa prefixada hoje pode não ser o melhor em um futuro próximo. A inflação poderá estar alta e os juros reais, muito menores do que se o investidor tivesse um papel indexado ao IPCA”, diz.

Na avaliação de Anversa, da XP, os prêmios atuais começam a ficar interessantes, mas, por ora, ele prefere esperar para investir.

Segundo o gestor, enquanto não houver uma divulgação clara de como será resolvido o orçamento doméstico, é melhor ficar de fora desses ativos, concentrando as alocações em títulos Tesouro IPCA+, que oferecem o benefício da proteção contra a inflação.