“Não acredito que ela vá se meter com a política”, diz Lula sobre chapa com Luiza Trajano

Em entrevista, ex-presidente buscou defender mais uma vez o que chama de parceria entre capital e trabalho, mas sem antecipar nomes

Ricardo Bomfim Priscila Yazbek

O ex-presidente Lula em pronunciamento no sindicato dos Metalúrgicos (crédito: Reprodução YouTube)
O ex-presidente Lula em pronunciamento no sindicato dos Metalúrgicos (crédito: Reprodução YouTube)

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SÃO PAULO – Em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que apesar de considerar Luiza Trajano, dona do Magazine Luiza, uma empresária maravilhosa, não acredita que ela irá entrar para a política.

Ao ser perguntado sobre a formação de uma possível chapa “Lula-Trajano”, Lula ressaltou que ele e a ex-presidente Dilma Rousseff têm ótimas relações com Luiza, mas que pela carreira construída pela empresária no setor privado dificilmente ela aceitaria disputar as eleições de 2022. “Não acredito que ela vá se meter com a política”, disse.

Lula também afirmou que gostaria de participar de uma discussão com o “tal do mercado” para lembrar que durante o seu governo a economia brasileira apresentou forte crescimento. “O mercado, se tivesse juízo, ia para Aparecida do Norte fazer promessa para eu voltar”, disse Lula.  Ainda falando sobre a gestão econômica de seu governo, disse: “O melhor que oferecemos foi incluir os pobres no Orçamento e inseri-los no mercado.”

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O ex-presidente afirmou também que é contra um governo empresarial, mas a favor de um governo indutor do desenvolvimento.

“A Petrobras não é uma empresa estatal, é uma empresa pública de economia mista, com ações na Bolsa de Nova York. O Banco do Brasil não é um banco estatal, é um banco de economia mista, tem ações. Acontece que eu sou contra o governo empresarial. Veja, eu vou repetir para ninguém ter dúvida: eu sou contra o governo empresarial. Mas eu sou favorável a um governo que seja indutor do processo de desenvolvimento”, disse Lula.

Questionado se faria privatizações caso fosse eleito novamente, Lula disse que “depende do setor”.

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“Os setores estratégicos não serão privatizados. É importante dizer isso. Eu acho que Furnas [uma subsidiária da Eletrobras] não pode ser privatizada, ela pode ser uma empresa de economia mista. A Eletrobras pode ser uma empresa de economia mista, a Caixa Econômica pode ser uma empresa de economia mista. Olha, por que não pode colocar ações e esses bancos serem de economia mista, para o Estado ter instrumento de fazer investimento?”, questionou o petista.

Aceno ao mercado e ao Congresso

Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, Lula foi o que se espera dele neste momento. “Ele coloca a política fiscal como indutora do crescimento, como ele e o PT sempre acreditaram”, diz.

O economista acrescenta que não foi uma surpresa o ex-presidente ter reforçado mais uma vez que não vai privatizar empresas de alguns setores. “Duvido que o capital de qualquer uma dessas empresas mencionadas por ele seja aberto. Seria importante o Congresso acelerar o processo de capitalização da Eletrobras para evitar riscos de que ela continue estatal em 2023.”

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Thiago Vidal, gerente de análise política da Prospectiva, concorda que de fato não é novidade o fato de Lula reforçar que não é um “privatista” em seu discurso, mas avalia que o elemento novo é o posicionamento do ex-presidente menos rigoroso em relação ao tema.

“Ao fazer um discurso a favor da economia mista, citando Petrobras e Banco do Brasil, ele diz o seguinte: ‘Olha, eu sei que privatizar não é fácil, eu não quero privatizar. Esse governo está tentando privatizar há dois anos e meio e até agora nada. Mas existe uma terceira via’. Então ele não fala em não privatizar ou em privatizar tudo, mas fala sobre uma terceira via que é fazer o que já acontece no Banco do Brasil e Petrobras e que já tem funcionado”, diz Vidal.

Para o analista político, ao mencionar uma “terceira via” em relação à pauta de privatizações, Lula faz um aceno ao Congresso e, ao mesmo tempo, ao mercado financeiro.

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“Isso é importante porque é esse tipo de agenda que pega bem no Congresso. Os parlamentares são contra a privatização em si, mas favoráveis à capitalização de empresas, venda de subsidiárias. Então é um discurso direcionado ao mercado: ele mostra que é desenvolvimentista, mas com margem para negociação, dizendo que  deixar essas empresas totalmente na órbita do Estado seria economicamente irracional. E por outro lado ele diz: ‘Também tenho um flerte com Congresso, que é contra 100% de privatização'”, avalia Vidal.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.