É hora de olhar de novo para Petrobras? BBI e Credit elevam recomendação para ações, mas seguem atentos aos riscos

Bancos têm retomado uma visão de maior confiança com a estatal após a turbulência em fevereiro, mas ainda não mostram tanto ânimo com o case

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Passado o momento de maior turbulência para a Petrobras (PETR3;PETR4), os analistas têm olhado cada vez mais para a estatal. Porém, o cenário segue de cautela para a companhia.

Em relatório publicado na noite da última quinta-feira (29), o Bradesco BBI destacou que agora é a hora de recuperar a confiança no case de investimentos, mas faz algumas ressalvas.

Vicente Falanga e Gustavo Sadka, do BBI, apontam que os eventos recentes foram bastante traumáticos, mas a relação de risco retorno parece atrativa. Depois de rebaixarem a recomendação para underperform (desempenho abaixo da média do mercado) em 21 de fevereiro na esteira da saída de Roberto Castello Branco, então CEO da Petrobras, com a insatisfação do presidente Jair Bolsonaro sobre a política de combustíveis, os analistas elevaram a recomendação para neutra um pouco mais de dois meses depois. O preço-alvo também foi elevado, passando de R$ 24 para R$ 32 para os ativos PETR4.

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Os analistas apontam que três eventos importantes aconteceram desde fevereiro e que corroboram um cenário menos nebuloso para a estatal.

Em primeiro lugar, a companhia recompôs seu Conselho de Administração e o corpo de diretores executivos com nomes técnicos e qualificados, após a turbulência com a saída de diversos nomes importantes na esteira da demissão de Castello Branco. Além disso, o novo CEO, o general da reserva Joaquim Silva e Luna, expressou o desejo de continuidade em relação ao plano estratégico da empresa.

Silva e Luna afirmou em seu discurso de posse que a companhia pretende reduzir a volatilidade dos preços dos combustíveis (mudanças bruscas dos preços nas refinarias), mas sem desrespeitar a paridade internacional (alinhamento com os preços externos).

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Em segundo lugar, a Petrobras elevou os preços da gasolina e do diesel em R$ 0,72 o litro no acumulado do ano (excluindo o anúncio da redução dos preços nesta sexta-feira), adicionando outros US$ 5,5 bilhões ao seu fluxo de caixa livre para o patrimônio líquido (FCFE).

O último ponto é que há especulação de que o governo esteja estudando maneiras de construir um fundo de compensação por meio dos leilões de Sépia e Atapu, de forma a evitar a volatilidade do preço do diesel.

Assim, embora alguns eventos anteriores tenham sido bastante traumáticos, os analistas acreditam que eventos futuros (pelo menos até a próxima eleição em 2022) devam ser marginalmente positivos, enquanto o lado negativo deve ser limitado.

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“A ação Petrobras já está sendo negociada a um nível de EV/Ebitda [valor da firma sobre o Ebitda] historicamente baixo, de três vezes. Quaisquer impactos negativos sobre fluxo de caixa, como cortes injustificados de preços de combustível, podem justificar outro potencial de queda de cerca de 10% dos papéis. Mas, se a nova gestão conseguir impulsionar o plano estratégico anterior, o potencial de valorização pode ultrapassar 50%”, avaliam os analistas.

O real mais forte também diminui, na avaliação de Falanga e Sadka, as tensões relacionadas aos caminhoneiros e fecha a caixa de “criatividade” do governo.

Na mesma linha, nesta semana, o Credit Suisse também elevou a recomendação dos ativos da companhia para neutra, tendo elevado o preço-alvo do ADR correspondente aos ativos ON (PBR) de US$ 8 para US$ 10 (veja mais clicando aqui).

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Os analistas destacam que o case de investimento da Petrobras tem sido controverso nos últimos meses e apontam que o valuation permanece extremamente descontado, assumindo preços de combustível inalterados. Eles também avaliam que algumas das incertezas se dissiparam (veja mais clicando aqui).

O Credit Suisse possui estimativa de US$ 66 o barril para o petróleo brent em 2021 e a US$ 68 o barril em 2022, mudança que leva à revisão para a projeção do lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) de US$ 30 bilhões para US$ 39 bilhões neste ano e de US$ 32 bilhões para US$ 41 bilhões em 2022.

De acordo com os analistas do banco suíço, a leitura de que o mercado estava diante de um case de alto risco e alto retorno ganhou mais adeptos a partir de março. Assim, a cada dia que se passa sem nenhuma novidade de interferência na estatal, os investidores vêm ganhando algum nível de confiança sobre os ativos.

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Contudo, cenário segue de incertezas

Porém, ainda há riscos no radar que impedem os analistas de ficarem mais construtivos com o case.

Na avaliação do BBI, “enquanto o discurso de posse de Luna foi muito positivo para os acionistas, as ações importam mais do que palavras”.

O principal risco é de que a sua fala possa ser esquecida em meio às turbulências. Além disso, eles também veem a eleição presidencial de 2022 como um fator-chave de risco, ainda que mais distante temporalmente.

Além disso, uma visão mais otimista sobre o case da estatal requer vendas de ativos e/ou a implantação efetiva de um fundo de estabilização de combustível pelo governo para ajudar estruturalmente a resolver a questão do reajuste de combustíveis.

De qualquer forma, os analistas reduziram o risco de um pagamento de dividendos menor em 2022 com base no discurso de Luna e Silva; eles assumem um pagamento de US$ 7,7 bilhões em dividendos no próximo ano.

Já os analistas do Credit apontam que parece razoável dizer que a política de preços ainda está em risco e a companhia não deve capturar por completo uma eventual alta do petróleo. Os  riscos de investimentos em capital parecem razoáveis, além de parecer factível acontecer algum overhang (alta disponibilidade de ações da companhia no mercado, pressionando os papéis) por conta dos riscos das eleições de 2022 e uma eventual venda de participação dos ativos da companhia pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Cabe destacar que, já em março, outras casas de análise, como Itaú BBA, Morgan Stanley e o Bank of America, haviam revisado a recomendação para as ações para equivalente à neutra, também apontando que havia espaço de recuperação, mas ainda muitas incertezas no radar.

Desta forma, os analistas agora têm mais confiança no case de investimentos do que ao final de fevereiro (quando a Petrobras registrou o seu momento mais turbulento no ano), mas o otimismo com a companhia segue bem menor do que no início do ano.

Um grande indicativo disso é o compilado de recomendações da Refinitiv para os papéis PBR, ADRs da estatal negociados na Bolsa de Nova York: em janeiro, doze casas recomendavam compra para os ativos; agora, apenas duas. Enquanto isso, o número de casas que possuem recomendação neutra foi de uma para oito. Já para as recomendações de venda, há uma atualmente, sendo que não havia essa orientação em janeiro. Isso mostra que, apesar do voto de confiança, a companhia ainda terá que dar mais sinais para os investidores antes do ânimo voltar.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.