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SÃO PAULO – O resultado ligeiramente abaixo das expectativas da Suzano (SUZB3) não abalou em nada o otimismo dos analistas com a ação. E as razões para isso são a demanda global aquecida por celulose e a confirmação de um investimento amplamente esperado pelo mercado, o apelidado “Projeto Cerrado”, que prevê R$ 14,7 bilhões para erguer o que a empresa chamou de “maior fábrica de celulose de linha única de eucalipto do mundo”, em Ribas do Rio Pardo (MS).
A Suzano registrou um prejuízo de R$ 2,755 bilhões no primeiro trimestre deste ano, mostrando uma boa melhora em relação ao resultado negativo de R$ 13,419 bilhões um ano antes. Apesar disso, o número representa uma piora ante o lucro de R$ 5,914 bilhões do quarto trimestre de 2020.
Já o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado ficou em R$ 4,864 bilhões entre janeiro e março, sendo que a divisão de celulose respondeu por 92% e a de papel 8%. O dado representa alta de 61% ante os R$ 3,026 bilhões do primeiro trimestre de 2020, e um avanço de 23% na comparação trimestral.
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A melhora operacional da companhia foi apoiada pelos preços maiores de celulose. A commodity registrou uma alta de 14% ante o início de 2020, para um preço médio de US$ 532 por tonelada.
As ações da Suzano fecharam o dia em queda de 2,22%, cotadas a R$ 66,90.
Projeto Cerrado ofusca balanço fraco
O Credit Suisse resumiu bem o sentimento do mercado no título do relatório divulgado nesta quinta-feira (15): “Primeiro trimestre nada inspirador, mas com o tão esperado Projeto Cerrado aprovado”.
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O banco disse que o Ebitda ajustado da Suzano ficou levemente abaixo (-1,6%) das suas estimativas, por causa dos dados fracos de embarques de celulose, que ficaram 2% abaixo das projeções. Despesas financeiras, com aumento de taxas e custos com capital de giro, também pesaram negativamente. Por outro lado, os analistas destacaram que os preços ficaram dentro do esperado, impulsionados pelas cotações elevadas da celulose e a apreciação do dólar frente ao real.
Em relação ao Projeto Cerrado, o banco suíço estima que a nova fábrica deve adicionar um valor presente líquido (fluxo de caixa trazido a valor presente, NPV na sigla em inglês) de R$ 10 por ação. Os analistas veem o investimento como estratégico do ponto de vista do financiamento, ressaltando que a Suzano deve ser capaz de usar somente sua geração de caixa para pagar o empreendimento.
O banco suíço reforça que a Suzano permanece sendo a ação preferida no setor de celulose (top pick), já que é a empresa mais bem posicionada para capturar a recuperação nos preços da celulose. “A Suzano está negociando a um múltiplo projetado para 2021 de 5,7 vezes o valor de mercado mais a dívida líquida sobre o EBITDA (EV/Ebitda) e pode entregar neste ano uma sólida geração de caixa líquido por ação (FCF yield) de 13%, além de redução na alavancagem de 3,9 vezes para 2,2 vezes a dívida líquida sobre Ebitda”, comenta o Credit, que tem preço-alvo de R$ 86,50 para as ações.
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O Itaú BBA também comentou o anúncio do Projeto Cerrado e, assim como o Credit Suisse, também calcula que a nova fábrica pode adicionar R$ 10 por ação ou R$ 13 bilhões em valor presente líquido para a Suzano. O banco afirmou ainda que não espera que o investimento de R$ 14,7 bilhões afete o comprometimento da Suzano com sua política de gestão responsável de dívida. O banco mantém recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) e preço-alvo de R$ 101 em 2021 para a Suzano.
Os analistas do Bradesco BBI estimam o mesmo VPL do Credit e do BBA para o Projeto Cerrado. Eles destacam que a Suzano já comprou 100 mil hectares de terreno para o empreendimento e divulgou custos de produção extremamente competitivos. A estimativa inicial do banco sobre o acréscimo potencial de Ebitda do projeto, considerando um preço de celulose de US$ 540 por tonelada, é de R$ 4,7 bilhões por ano, o que corresponde a 30% do Ebitda da Suzano em 2020.
O BBI afirma que o pico de alavancagem da fabricante de celulose, considerando os R$ 14,7 bilhões previstos para Ribas de Rio Pardo, deve chegar a 2,3 vezes a dívida líquida sobre o Ebitda (ND/EBITDA, na sigla em inglês) no quarto trimestre de 2023, um nível bastante confortável na visão dos analistas. O banco reitera a recomendação de outperform para a Suzano e tem preço-alvo de R$ 100 para as ações.
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Ao analisar os resultados da Suzano, a Levante Ideias de Investimentos afirma que com as paradas de manutenção das principais plantas já realizadas no ano de 2020, a companhia seguirá produzindo em ritmo forte, o que deve manter o custo caixa de produção em níveis baixos. Sem novas interrupções, a empresa também deve aumentar a exportação, gerando um duplo efeito positivo de preços e volumes maiores nos próximos resultados, diz a casa de análise.
“A geração de caixa ainda deve ser cada vez mais impulsionada positivamente pelos instrumentos de fixação de câmbio via derivativos, que ainda se encontram em patamares abaixo do dólar negociado atualmente, porém vêm subindo trimestre a trimestre e já alcançando uma faixa média de R$ 5,00 a R$ 5,70 e segue aumentando”, completa a Levante ao comentar o efeito do câmbio, que vem impactando as despesas financeiras da Suzano.
Fábrica em MS consolida Suzano como líder global, mas há pontos de atenção
Conforme destaca o Bradesco BBI, o anúncio da nova fábrica consolida ainda mais a posição da Suzano como “líder absoluta no mercado de celulose de fibra curta”, destacando que a empresa deve se beneficiar das tendências estruturais de aumento da demanda.
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Gilberto Cardoso, analista de commodities da OhmResearch avalia que a decisão da Suzano foi feita com base na chamada “Teoria dos jogos” do matemático John Nash, vencedor do Prêmio Nobel, que inspirou o filme “Uma Mente Brilhante”. “A Suzano, como maior produtora de celulose de eucalipto do mundo, vê o aumento da demanda e, com condições financeiras ofertar primeiro a celulose, e com os custos mais competitivos do mundo, aproveita a chance e anuncia o investimento”, diz.
O analista avalia que a decisão foi acertada, uma vez que deve elevar em 20% a capacidade de produção da empresa. Mas Cardoso ressalta que as condições de endividamento da Suzano devem ser monitoradas pelos investidores.
Outro ponto de atenção seria o aumento da oferta de celulose no mercado. Atualmente, os estoques baixos estão segurando os preços da commodity. Mas conforme analistas destacaram em reportagem recentemente publicada pelo InfoMoney, assim que a cadeia de suprimentos voltar a se ajustar no pós-pandemia e as maiores economias do mundo, como China e Estados Unidos, iniciarem um processo de desaceleração os preços podem começar a ceder.
É o que destacou o banco Credit Suisse, em relatório sobre o mercado de celulose publicado em abril: “Com o início da sazonalidade mais fraca no período de junho a agosto e a entrada de nova oferta substancial já no quarto trimestre, esperamos que os preços da celulose voltem a ficar sob pressão no segundo semestre de 2021.”
O Bradesco BBI, no entanto, não acredita que o Projeto Cerrado represente um risco significativo para a dinâmica de oferta do mercado global de celulose, diante da expectativa de um crescimento saudável da demanda no período de 2021 a 2025, que praticamente deve igualar o aumento de capacidade no mercado. Por outro lado, eles ponderam que alguns detalhes do projeto permanecem obscuros, especialmente em relação ao potencial investimento florestal e de terras.
A Levante afirma que o Projeto Cerrado, junto aos resultados em linha com o esperado da Suzano, podem levar a uma reação levemente negativa das ações SUZB3 no curto prazo. “[O projeto Cerrado] consumirá um montante de caixa adicional relevante para os próximos anos, dando um ritmo mais lento na desalavancagem da companhia, atualmente em 3,9 vezes”, diz.
Mas, a despeito do efeito no curto prazo, a Levante afirma que o projeto Cerrado deve gerar um resultado relevante mais à frente, sobretudo em eficiência de produção, “sendo a maior planta em linha única de produção de celulose da companhia, podendo reduzir ainda mais o custo caixa de produção no longo prazo, ampliando a liderança da Suzano neste indicador”.
Ao comentar a nova fábrica em Ribas do Rio Pardo, o Bank of America destacou o potencial de produção de 2,3 milhões de toneladas por ano e o início da operação previsto para o primeiro trimestre de 2024. O BofA comentou ainda que, com os resultados do trimestre e o anúncio do novo projeto, as ações da Suzano devem ser reavaliadas em várias dimensões.
“Nós mantemos recomendação de compra para as ações devido à perspectiva construtiva de celulose, forte geração de caixa da empresa, o potencial de alta para o nosso preço-alvo e à nossa visão de que SUZB3 deve ser reavaliada em várias dimensões (com a desalavancagem, fatores relacionados a ESG e preços). Planejamos revisar nosso modelo e projeções após a teleconferência da Suzano na quinta-feira (13/05), às 9h”, completa o BofA, que tem preço-alvo de R$ 99 para as ações.
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