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SÃO PAULO – As companhias aéreas são provavelmente as empresas mais afetadas pela pandemia de Covid-19. Impossibilitadas de realizar viagens por contra das restrições de mobilidade, essas empresas tiveram que passar boa parte do último ano com uma fração da receita que tinham anteriormente. Hoje, com a disponibilidade de vacinas contra o vírus, o setor vem se recuperando, mas não de maneira uniforme no mundo nem entre todas as empresas.
Um estudo da consultoria Economatica mostra que o valor de mercado das companhias aéreas que atuam na América Latina e dos Estados Unidos desabou de US$ 186,6 bilhões em 20 de janeiro de 2020 para US$ 69,3 bilhões em 15 de maio daquele mesmo ano.
Veja abaixo o gráfico de valor de mercado consolidado do setor na região:
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Conforme as restrições foram se flexibilizando, um novo topo foi atingido em 17 de março de 2021, data em que as empresas do setor batem US$ 190 bilhões de valor de mercado e no fechamento de 19 de maio as companhias valiam, juntas US$ 178,4 bilhões.
É interessante perceber a desigualdade nessas recuperações.
Enquanto a mexicana Volaris cresceu 78,7% em valor de mercado de 20 de janeiro de 2020 a 19 de maio de 2021, a taiwanesa China Southern Airlines se expandiu 27% e as americanas Allegiant Travel, Mesa Air e Southwest Airlines avançam respectivamente 25,3%, 24,1% e 23,4% no período, a colombiana Avianca se desvaloriza em 94%, a chilena Latam perde 73,9% de seu valor e as brasileiras Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) caem 49% e 45,7% respectivamente. Cabe destacar que a Latam está em processo de recuperação judicial; já em 2020, a Justiça decretou a falência da Avianca Brasil.
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Cabe destacar também a diferença na velocidade da vacinação entre os países, o que também pode ajudar a explicar a recuperação relativamente mais forte dos EUA, que já vacinou cerca de metade da população com pelo menos uma dose, aumentando as perspectivas de reabertura mais rápida. Já no Brasil, cerca de 19% da população foi imunizada.
Além disso, cabe destacar a valorização do dólar em relação ao real no período do estudo, de cerca de 27%, indo da casa dos R$ 4,18 para R$ 5,30: além de impactar os resultados das brasileiras por conta da dívida em dólares, o valor de mercado em dólares é impactado pela desvalorização do real.
Veja a lista completa na tabela abaixo:
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Resultados de Azul e Gol
Especificamente sobre as brasileiras, os analistas Victor Mizusaki e Wellington Lourenço do Bradesco BBI, avaliam que a Azul demonstrou no resultado do primeiro trimestre que a recuperação de sua lucratividade ainda está “atrasada” devido à Covid-19.
O Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciações e Amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) da companhia foi de R$ 130 milhões, em linha com o estimado pelo banco, porém uma queda de 80% na comparação anual, e a receita líquida totalizou R$ 1,8 bilhão, o que representa uma retração de 35% ante os três primeiros meses do ano passado.
“Capacidade e demanda registraram queda de 23% e 27,4%, na comparação anual no primeiro trimestre de 2021, respectivamente, enquanto a capacidade doméstica ultrapassou o nível de 2019”, destaca a equipe de análise.
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Os analistas também comentam que a tarifa aérea média ajustada caiu 17%, o que ajudou a estimular a demanda e as receitas de carga aumentaram 63%.
“Enquanto o preço do combustível da empresa subiu 6,3% na comparação anual no primeiro trimestre de 2021, iniciativas de redução de custos e eficiência compensaram o impacto mencionado”, ressalta a equipe do Bradesco BBI como ponto positivo, ao passo que sublinha o efeito negativo da queda nos preços do petróleo bruto, que afetou negativamente a posição de hedge de combustível da Azul e os R$ 1,6 bilhão em perdas monetárias relacionadas à desvalorização do real, que expandiram a dívida em moeda estrangeira.
“A Azul reportou uma robusta posição de caixa de R$ 3,3 bilhões, que, combinada com R$ 6,3 bilhões em depósitos, reservas de manutenção e contas a receber, parece suficiente para superar a pandemia de Covid-19. Mesmo assim, a dívida líquida aumentou para R$ 17,5 bilhões no primeiro trimestre de 2021, a partir de R$ 14,8 bilhões no quarto trimestre de 2020 (com as debêntures conversíveis), refletindo o consumo de caixa operacional e a depreciação do real. O aumento da alavancagem financeira pode continuar a limitar a geração de valor para os acionistas, uma vez que os lucros de curto prazo ainda podem ser prejudicados pela pandemia”, concluem os analistas.
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O Bradesco tem recomendação neutra para as ações AZUL4 e reduziu o preço-alvo para os papéis em 5% para R$ 38,00 diante do resultado. Esse valor corresponde a uma queda de 5,5% nos preços das ações em relação ao fechamento desta quinta (20).
Segundo dados da Refinitiv, as ações da Azul acumulam três recomendações de compra, seis neutras e duas de venda, com preço-alvo médio de R$ 37,58, uma queda de 6,54% sobre o patamar atual.
Sobre a Gol, a percepção também é cautelosa, a receita líquida da companhia somou R$ 1,6 bilhão, em queda de 50% na comparação anual e o Ebitda foi de R$ 354 milhões, o que representa uma queda de 75% ante o primeiro trimestre de 2020.
Para os analistas, o resultado foi impactado pela segunda onda do coronavírus no Brasil, que obrigou a empresa a reduzir a capacidade doméstica e total em 35% e 44% na comparação anual, enquanto as passagens aéreas caíram 14% na mesma base.
Na parte positiva, a equipe de análise lembra que, excluindo efeitos cambiais, o CASK (custo operacional assentos-quilômetros oferecidos) ajustado para voos operacionais caiu 13% ante o primeiro trimestre de 2020, refletindo iniciativas de corte de custos implementadas em 2020, já que as despesas com vendas caíram 45% na mesma base de comparação.
“O resultado do trimestre não incorporou os potenciais benefícios da saída da Smiles, visto que a operação foi aprovada pelos acionistas minoritários da Smiles em 24 de março. Na próxima semana expirará o prazo para os acionistas exercerem o direito de recesso, após o qual terão um período de 30 dias para escolha da oferta base ou alternativa. O fechamento do negócio ocorrerá no segundo trimestre de 2021, e a empresa espera capturar R$ 400 milhões em sinergias por ano com uma eficiente gestão da receita e estrutura tributária”, explicam.
O Bradesco manteve recomendação neutra para Gol, com preço-alvo estimado em R$ 20, o que corresponde a uma queda de 22,9% nas ações GOLL4 em comparação com o fechamento de hoje.
Segundo dados da Refinitiv, as ações da Gol acumulam duas recomendações de compra, oito neutras e duas de venda, com preço-alvo médio de R$ 23,89, uma queda de 7,9% sobre o patamar atual.
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