Ata amplia apostas de alta da Selic em 1 ponto no próximo Copom e juro em patamar “contracionista” ao final do ciclo

Economistas passam a projetar Selic a 7% ao ano no fim do ciclo de alta, considerado acima da taxa de juros neutra para manutenção do ritmo da atividade

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O comunicado da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do última dia 16 de elevar a Selic em 0,75 ponto percentual, a 4,25% ao ano, já tinha sido considerado “hawkish”, que define os defensores de juros mais altos e de uma política de austeridade mais forte. Isso porque deixou uma janela para um ritmo de alta mais forte.

Já a ata divulgada na manhã desta terça-feira (22) evidenciou ainda mais esse cenário, levando várias instituições a revisarem para cima suas projeções para a Selic. Além disso, passa a ganhar força a discussão de que o ciclo de alta da Selic pode chegar a um patamar considerado contracionista para a atividade econômica.

O comitê avaliou a possibilidade de acelerar a alta dos juros em sua reunião da semana passada, mas entendeu que seria mais adequado manter o ritmo de aperto de 0,75 ponto percentual, com a indicação de um aperto maior no encontro seguinte, mostrou o documento.

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Conforme destaca Caio Megale, economista-chefe da XP, o Copom fez uma avaliação dura para o lado da inflação sobre a economia, enfatizando que a atividade econômica tem sido melhor do que o esperado e o choque de inflação corrente tem se mostrado mais persistente do que o antecipado.

Em seu cenário básico, o Comitê menciona que a inflação para 2022 atinge a meta – que é de 3,50% – com um ajuste completo da política monetária. Ou seja, com a Selic em níveis neutros (nem em patamares estimulativos nem contracionistas). As projeções são de a taxa de juros neutra se encontre por volta de 6,5%. Porém, o Copom destacou que o balanço de riscos para esta previsão da inflação é altista.

Além disso, o Copom afirmou que as projeções do PIB para 2021 da pesquisa Focus são mais otimistas do que suas projeções (o que dá margem para uma revisão para cima nas projeções).

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Assim, aponta Megale, o documento lançou luz sobre o que pode levar o Copom a acelerar o ritmo de alta da Selic, de 0,75 pontos-base para, possivelmente, 1 ponto. “O Comitê acompanhará não apenas indicadores quantitativos (expectativas de inflação da pesquisa Focus e inflação implícita nos mercados), mas também avaliações qualitativas, como a percepção de que as pressões inflacionárias estão se espalhando pela economia. A nosso ver, a ata vai um passo além (em relação ao pronunciamento) em ganhar flexibilidade para que o Copom aumente o ritmo da alta de juros ou vá além do neutro”, avalia o economista.

O Bradesco também ressalta que o Copom reforçou intenção de fazer o ajuste da política monetária, voltando ao nível neutro.

Para a reunião seguinte, existe a possibilidade de aceleração do grau de ajuste monetário, condicionado ao comportamento das expectativas de inflação e da evolução dos preços mais inerciais. “Em nossa avaliação, por ora, o fluxo de dados quanto à atividade econômica, à taxa de câmbio e às expectativas determinarão o ritmo de elevação em agosto”.

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A expectativa dos economistas do Bradesco dos juros chegando a 6,50% ao ano no final de 2022 deve ser antecipada para este ano, apontaram.

Já Alberto Ramos, economista-chefe do Goldman Sachs para América Latina, vê nesse momento alta de 0,75 ponto da Selic na próxima reunião. Contudo, elevou a probabilidade de um aumento maior, de 1 ponto, de 33% para 50%, dado o tom da ata e o fato de o Copom já ter discutido aumentar o ritmo na reunião de junho. Ramos espera alta constante e relativamente rápida em direção à neutralidade, com crescente probabilidade de uma alta de 7% na Selic em 2022.

O Bank of America, por sua vez, avalia que a Selic poderia se mover além do nível neutro – ou seja, a um patamar que levaria a uma desaceleração da atividade – e aponta que os riscos de inflação devido ao cenário fiscal podem empurrar os juros para cima. Assim, os economistas esperam que o ritmo de alta acelere para alta de 1 ponto nas próximas duas reuniões. Essas altas se seguiriam a um aumento de 0,50 ponto em outubro e um aumento final de 0,25 em dezembro, atingindo 7% ao final do ano (ante previsão anterior de 6,50%). Para 2022, a expectativa é de manutenção da taxa a 7%.

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Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra, destacou para a Bloomberg que também vê a possibilidade de taxa de juros básica no terreno contracionista no final deste ciclo, o que levaria a Selic a 7% no final de 2021. Oliveira aponta que o final do ciclo pode não ser no final de 2021 e o ajuste pode prosseguir nos primeiros meses de 2022 – porém, esse não é o cenário base da instituição.

(com Bloomberg e Reuters)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.