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SÃO PAULO – O setor de seguros acumulou uma receita de R$ 273,7 bilhões no ano de 2020, segundo a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg). Mas os números poderiam ser bem maiores: o segmento representa apenas 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. 70% dos automóveis por aqui rodam sem seguro automotivo, enquanto 81% dos brasileiros não têm um seguro de vida.
A Pier é uma das startups que atuam para levar tecnologia ao mercado de seguros – e conquistar mais usuários pela experiência ou pelo menor impacto no bolso. A insurtech atende 50 mil clientes com seguros de smartphone e de automóvel, concedidos após análise de dados dos usuários por inteligência artificial e machine learning (aprendizado de máquina). Nesta semana, recebeu uma injeção de capital para expandir sua proposta.
A Pier fez uma rodada série B de R$ 108 milhões (US$ 20 milhões), liderada pelo Raiz Investimentos. O Raiz é o single family office de Ivan Toledo, fundador do Sem Parar, para investir em infraestrutura, tecnologia e telecomunicações.
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“O mercado financeiro está sendo transformado por etapas. Existiu um trabalho forte em investimentos com a XP, e em adquirência com PagSeguro e Stone. Mas o setor de seguros ainda não sofreu essa disrupção, e isso se vê em sua subpenetração. Nos Estados Unidos, os seguros representam 12% do PIB. Então, vemos uma grande oportunidade”, contou Igor Mascarenhas, cofundador da Pier, ao Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney.
Seguro com inteligência artificial e machine learning
A Pier foi fundada por Igor Mascarenhas, Lucas Prado e Rafael Oliveira em 2018. Os sócios vêm da área de investimentos em tecnologia: Mascarenhas foi diretor de investimentos na Startup Farm; Prado trabalhou no fundo Tarpon e no grupo Somos Educação; e Oliveira fundou diversas empresas de tecnologia.
“Conversamos com usuários de seguros e identificamos dois problemas: eles têm medo de não receber, e de esse processo ser muito burocrático. Então focamos em criar um produto fosse fácil de contratar, fácil de usar e que coubesse no bolso”, diz Mascarenhas.
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A insurtech apostou em infraestrutura e análise de dados para conferir mais aprovações e mais agilidade no reconhecimento de sinistros e no pagamento das indenizações. “Como recorde, aprovamos um sinistro em um segundo e o pagamento foi concedido em 11 segundos. Mesmo em casos como perda total de veículo, pudemos realizar o pagamento em 24 horas”, diz Mascarenhas.
Os usuários que se cadastram no empreendimento colocam apenas informações básicas, como CPF, CEP, e-mail e dados do item segurado. Mas a Pier afirma coletar dezenas de milhares de dados em centrais de informações e vendo o comportamento do usuário (como IP, horário, quantas vezes acessou e por qual canal chegou à insurtech). Esses dados passam por modelos proprietários de inteligência artificial e machine learning (aprendizado de máquina) da Pier. Assim, a insurtech decide rapidamente qual usuário deve ou não ter seu seguro aprovado.
A Pier tem 120 funcionários. Metade deles estão na equipe de dados, produto e tecnologia. “Pedimos 10 vezes menos informações do usuário, mas analisamos 300 vezes mais informações do que os incumbentes. E mantemos uma sinistralidade na linha do mercado, estimada em 40% a 45% para smartphone e em 60% para auto”, afirma o cofundador.
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A Pier começou pelo seguro de smartphones. Mascarenhas estima que esse mercado seja de R$ 1 bilhão a R$ 2 bilhões por ano. “Todo modelo de aprendizado de máquina precisa de exemplos para aprender. Como o seguro de smartphones tem alta número de sinistros, foi algo fundamental para acelerar a curva de aprendizado dos nossos modelos”. A Pier expandiu mais recentemente para o seguro de automóveis. Esse é um mercado maior, estimado entre R$ 30 bilhões e R$ 40 bilhões por ano.
Hoje, o negócio atende 50 mil clientes com seus seguros de smartphone e de automóvel. 75% deles não tinham seguros antes de contratar a Pier. “Isso mostra nosso impacto e como não estamos numa guerra de roubar clientes das grandes seguradoras. É um mercado com muito espaço ainda”, diz Mascarenhas.
Alguns competidores tradicionais que entraram para o mercado de seguros acessíveis com contratação digital são Ciclic (Banco do Brasil) e Youse (Caixa Seguradora). Um exemplo de outra insurtech é a Justos, que oferece um seguro automotivo com base no comportamento de direção do usuário.
O preço do seguro de smartphone na Pier parte de R$ 8, com tíquete médio de R$ 57 reais. Já o seguro auto parte de R$ 30, com tíquete médio de R$ 65. Mascarenhas afirma que o valor do seguro de automóvel está 30% mais barato do que o praticado por um incumbente.
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A insurtech está em uma crescente de faturamento. Em 2019, foram R$ 4,6 milhões. Em 2020, R$ 11 milhões. Para 2021, a projeção é faturar R$ 30 milhões.
Investimento e expansão
A rodada de US$ 20 milhões, uma série B, veio apenas dez meses depois da série A. A Pier havia captado US$ 14,5 milhões em uma rodada liderada pela Monashees. Antes ainda, recebeu um aporte semente de US$ 7,6 milhões. “Em tese, uma nova rodada costuma acontecer apenas 12 a 18 meses depois. Mas vivemos um cenário de alta liquidez e juros ainda baixos, e tínhamos uma boa relação com a Raiz Investimentos. Resolvemos antecipar a rodada para acelerar nossos planos”, diz Mascarenhas.
A Pier pretende pedir uma licença definitiva de seguradora – hoje, opera por meio do sandbox da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Nesse programa, a Susep autoriza que startups operem com produtos e riscos específicos. O compliance é simplificado e se exige um capital mínimo menor. Por outro lado, a Pier tinha limitações como apenas cobrir automóveis de até R$ 100 mil e não cobrir danos a terceiros. Com a aprovação definitiva, a Pier pretende cobrir essas lacunas.
“O sandbox define limites importantes inclusive para a segurança do consumidor. Se as startups validarem seu modelo de negócio, podem se tornar seguradoras definitivas. Estamos nessa fase para dar uma experiência superior no seguro auto. O valor do veículo segurado agora dependerá apenas da nossa reserva de capital”, diz Mascarenhas.
Com o investimento, o seguro auto também receberá a mesma tecnologia de inteligência artificial e machine learning vista no seguro para smartphone. “Temos regulação e liquidação automática de sinistros no caso dos smarpthones. No seguro auto, temos uma mistura de processos digitais e humanos. Queremos treinar o modelo para automatizar a regulação e acelerar a liquidação no seguro auto. A liquidação automática ainda não é possível porque alguns documentos ainda precisam de assinatura física nesse segmento”, diz Mascarenhas.
As mudanças pedem investimento em equipe. A Pier vai dobrar seu quadro de funcionários, indo para 240 pessoas.
Mais do que o faturamento projetado de R$ 30 milhões neste ano, a Pier está de olho no faturamento anualizado de R$ 60 milhões – a receita projetada para dezembro deste ano, multiplicada por 12. “Como somos uma startup e estamos sempre crescendo a altas taxas, é importante olhar para o faturamento anualizado”, diz Mascarenhas. O número de clientes deve chegar a 80 mil neste ano. A meta é ambiciosa para 2022: faturar R$ 100 milhões e chegar a 250 mil clientes.