Publicidade
SÃO PAULO — Nesta semana, a Caixa Econômica Federal subiu a taxa de juros de uma de suas linhas de financiamento imobiliário. A modalidade de taxa fixa mais Taxa Referencial (TR) — atualmente zerada — foi de 7,25% ao ano (a.a.) mais TR para entre 8% e 8,99% a.a. mais TR, dependendo do relacionamento do cliente com o banco.
O movimento ocorre na esteira da elevação da taxa básica de juros, a Selic, que subiu recentemente para 7,75% ao ano — e o consenso do mercado indica que uma nova alta deve ser anunciada na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) no mês que vem.
Leia também: 3 pontos-chave na operação da Caixa que devem ganhar mais relevância em 2022, segundo CEO
Continua depois da publicidade
Outros bancos também ajustaram suas respectivas taxas de crédito imobiliário neste ano, como Santander e Itaú. Segundo Pedro Guimarães, presidente da Caixa, o aumento praticado pelo banco foi pontual e técnico, e não focado em aumentar o spread da instituição (lucro obtido na diferença de juros entre o dinheiro que o banco capta e o dinheiro que ele empresta).
“A Caixa exerce uma função social importante no Brasil. Somos líderes no crédito imobiliário e temos as menores taxas do mercado. Não queremos fazer lucro com esse ajuste, mas não tem como manter o mesmo juro que tínhamos com a Selic em 2% ao ano agora que ela está acima de 7%. É um ajuste para que matematicamente a linha de crédito faça sentido”, disse o executivo em entrevista ao InfoMoney.
Atualmente, a Caixa tem quatro linhas de financiamento imobiliário:
Continua depois da publicidade
Modalidade | Taxas cobradas atualmente |
TR | TR (atualmente zerada) + taxa fixa (que varia entre 8,0% a.a. e 8,99% a.a.) |
IPCA | Variação do IPCA + taxa fixa (que varia entre 2,95% a.a. e 4,95% a.a.) |
Poupança | Remuneração da poupança (hoje em 5,43% ao ano) + taxa fixa (que varia entre 2,95% a 3,79% a.a.) |
Taxa pré-fixada | Taxa fixa (que varia entre 9,50% a.a. e 9,95% a.a.) |
“Nosso custo de captação, com a Selic acima de 8,5% a.a., é a poupança, que rende TR + 6,17%. E como a TR está zero, mas não é zero, o que interessa é essa diferença entre a poupança e a taxa que vamos ofertar ao cliente. Então você tem o spread. Com a Selic passando desse patamar, e a poupança rendendo 6,17% não podemos ter uma taxa TR mais 6%, como foi meses atrás, porque vamos perder dinheiro e não queremos isso”, justifica Guimarães.
A remuneração da poupança é limitada a 6,17% a.a. mais a TR. O teto existe porque a poupança rende 70% da Selic mais a TR quando a Selic é menor ou igual a 8,5% a.a. — cenário atual. Mas se a taxa básica passa de 8,5% a.a., ela retorna à regra antiga e passa a render 6,17% a.a. mais a TR (ou 0,5% ao mês mais a TR), que é sua remuneração máxima.
Por isso, o spread do banco federal é a parte fixa que ele propõe em suas taxas, já que a remuneração da poupança, bem como a TR têm regras definidas.
Continua depois da publicidade
Selic alta até quando?
Somado a isso, o presidente da Caixa acredita que o movimento de alta na Selic é de curto prazo e sinalizou que as taxas podem voltar a cair a depender do cenário do país.
“A Selic está subindo, mas em hipótese alguma acreditamos que seja sustentável e consistente. É movimento de seis meses, um ano. Vai subir e depois vai cair e nós vamos fazer ajustes.”
Ele acrescentou que o produto financiamento imobiliário é de longo prazo, chegando em até 35 anos.
Continua depois da publicidade
“Por isso, nós olhamos para frente: ou seja, não fazemos alterações pensando na Selic, mas no DI [curva de juros futura] de oito anos porque nosso duration [prazo médio que o banco recupera o dinheiro emprestado] fica entre oito e dez anos”, completou o CEO.
Essas taxas são formadas a partir de negociações que acontecem com DIs futuros, ou seja, com títulos cujas taxas são baseadas nas expectativas dos investidores sobre os juros do país no futuro. Portanto, a chamada curva futura de juros é uma espécie de termômetro que mostra o custo do dinheiro no longo prazo.
Vale lembrar também que a alta da Selic está diretamente relacionada aos custos dos empréstimos imobiliários porque as instituições financeiras, responsáveis por ofertar esse tipo de financiamento, como a Caixa, costumam repassar parte do aumento da taxa básica de juros às taxas cobradas nos contratos — o que torna as prestações mais caras para o consumidor final.
Continua depois da publicidade
Com Selic em alta, parte fixa das taxas não deve subir
Ainda, Guimarães ressaltou que o banco não vai subir mais as taxas fixas de suas linhas de crédito diante do cenário atual.
“As taxas fixam não vão subir, o que vai mudar é o componente variável somente. Pelo contrário, a parte fixa tende a reduzir. O componente fixo é nosso spread e o variável vai para um lado e para o outro. Inclusive, já reduzimos o nosso spread na linha de poupança, enquanto a Selic subiu. Queremos oferecer as menores taxas do mercado, mas precisamos manter o negócio rentável: pagando nos funcionários e mantendo as agências”, afirmou o executivo.
Em setembro, o banco federal anunciou uma redução de seu spread: a parte fixa mínima foi reduzida de 2,99% a.a. para 2,95% a.a. somadas à remuneração da poupança — ainda assim, essa parte fica pode chegar a 3,79% para os clientes sem relacionamento com o banco.
Hoje, o juro na modalidade é de 9,22% ao ano (3,79% fixos + 5,43% da remuneração da caderneta). Com a Selic acima de 8,5% pode chegar a 10% a.a. (3,79% fixos + 6,17% da remuneração da caderneta).
Microcrédito Caixa Tem
Em abril deste ano, em live promovida pelo InfoMoney, Guimarães anunciou que lançaria uma nova modalidade de microcrédito, a Caixa Tem. Depois de alguns meses de espera, o produto está sendo disponibilizado de forma gradual e totalmente digital aos clientes do banco — conforme a data de aniversário. Por enquanto, clientes nascidos entre janeiro e julho já podem acessar a linha.
A taxa de juros da modalidade é de 3,99% ao mês — considerada alta por especialistas consultados pelo InfoMoney, embora o próprio presidente tenha admitido a necessidade deste patamar. “Temos uma taxa elevada de 3,99%, o que matematicamente aguenta uma inadimplência alta.”
“O crédito pessoal ainda é um segmento que perdemos dinheiro, somos pequenos. Lançamos o Microcrédito Caixa Tem, que será uma grande operação, mas estamos começando. […] Neste momento ainda existem restrições para o público que vai ter acesso, e teremos um balanço mais completo dessa operação no início de 2022”, disse.
Público-alvo
A megaoperação de crédito busca atingir cerca de 40 milhões de pessoas, que segundo Guimarães, não têm emprego formal e nem se encaixam no grupo que receberá o Auxílio Brasil.
“Nosso foco é atingir o público dos invisíveis, que não tem emprego formal e quando vão pegar empréstimo são muitas vezes negados e partem para agiotas ou financeiras que vão cobrar 20% ao mês. Já temos 3 milhões de pessoas demandando a linha e estamos analisando caso a caso”, explicou.
Qualquer cliente Caixa pode solicitar o crédito pelo app do Caixa Tem — e todos estão sujeitos à avaliação do banco.
Carência para começar a pagar
Hoje, a modalidade permite empréstimos de até R$ 1 mil em até 24 meses com a taxa de 3,99% ao mês, mas o presidente confirmou que a linha passará por melhorias.
“Queremos aumentar para até R$ 3 mil, em até 48 meses e reduzir a taxa. Mas precisamos de mais tempo para acompanhar o cliente, a pessoa vai pagando e vai entrando na nossa base de análise para conseguirmos oferecer algo melhor.”
Ainda segundo Guimarães, outra possibilidade é dar carência entre 3 e 6 meses para a pessoa começar a pagar. “A ideia do microcrédito é gerar renda. Se tiver esse período de carência para começar a pagar, a máquina de pipoca já vai estar gerando alguma renda para esse cliente.”
Ele não detalhou quando as novidades vão chegar, mas estão nos planos de curto prazo.
Crédito para o agronegócio
Um dos destaques no balanço trimestral da Caixa, divulgado nesta quinta-feira (18), está na carteira de empréstimos: um aumento de 79,4% no crédito para o agronegócio em 12 meses, setor que deve receber novidades nos próximos anos.
“Não vejo um segmento com mais vantagem competitiva em relação a outros países do mundo do que o agronegócio no Brasil. Vamos focar muito no setor. O cliente agro é o cliente imobiliário também tanto na baixa, quanto na média renda. Vamos financiar pequenos e médios agricultores e temos correlação com a parte imobiliária”, disse.
A carteira de crédito imobiliário da Caixa atingiu R$ 500 bilhões em outubro deste ano ante R$ 441 bilhões em janeiro de 2019.
Além de agronegócio, Guimarães também indicou outros dois segmentos que vão receber total atenção da gestão daqui para frente: cartão de crédito e o IPO da Caixa Asset.
CDB com 300% do CDI? XP antecipa Black Friday com rentabilidade diferenciada para novos clientes. Clique aqui para investir agora!