Guimarães explica por que a Caixa subiu o juro do crédito imobiliário corrigido pela TR e sugere microcrédito com carência

Mudança na remuneração da poupança com o aumento da Selic é crucial para o reajuste do custo do financiamento pelo banco público

Giovanna Sutto

(Divulgação/Caixa)
(Divulgação/Caixa)

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SÃO PAULO — Nesta semana, a Caixa Econômica Federal subiu a taxa de juros de uma de suas linhas de financiamento imobiliário. A modalidade de taxa fixa mais Taxa Referencial (TR) — atualmente zerada — foi de 7,25% ao ano (a.a.) mais TR para entre 8% e 8,99% a.a. mais TR, dependendo do relacionamento do cliente com o banco.

O movimento ocorre na esteira da elevação da taxa básica de juros, a Selic, que subiu recentemente para 7,75% ao ano — e o consenso do mercado indica que uma nova alta deve ser anunciada na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) no mês que vem.

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Outros bancos também ajustaram suas respectivas taxas de crédito imobiliário neste ano, como Santander e Itaú. Segundo Pedro Guimarães, presidente da Caixa, o aumento praticado pelo banco foi pontual e técnico, e não focado em aumentar o spread da instituição (lucro obtido na diferença de juros entre o dinheiro que o banco capta e o dinheiro que ele empresta).

“A Caixa exerce uma função social importante no Brasil. Somos líderes no crédito imobiliário e temos as menores taxas do mercado. Não queremos fazer lucro com esse ajuste, mas não tem como manter o mesmo juro que tínhamos com a Selic em 2% ao ano agora que ela está acima de 7%. É um ajuste para que matematicamente a linha de crédito faça sentido”, disse o executivo em entrevista ao InfoMoney.

Atualmente, a Caixa tem quatro linhas de financiamento imobiliário:

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Modalidade  Taxas cobradas atualmente
TR TR (atualmente zerada) + taxa fixa (que varia entre 8,0% a.a. e 8,99% a.a.)
IPCA Variação do IPCA + taxa fixa (que varia entre 2,95% a.a. e 4,95% a.a.)
Poupança Remuneração da poupança (hoje em 5,43% ao ano) + taxa fixa (que varia entre 2,95% a 3,79% a.a.)
Taxa pré-fixada Taxa fixa (que varia entre 9,50% a.a. e 9,95% a.a.)

“Nosso custo de captação, com a Selic acima de 8,5% a.a., é a poupança, que rende TR + 6,17%. E como a TR está zero, mas não é zero, o que interessa é essa diferença entre a poupança e a taxa que vamos ofertar ao cliente. Então você tem o spread. Com a Selic passando desse patamar, e a poupança rendendo 6,17% não podemos ter uma taxa TR mais 6%, como foi meses atrás, porque vamos perder dinheiro e não queremos isso”, justifica Guimarães.

A remuneração da poupança é limitada a 6,17% a.a. mais a TR. O teto existe porque a poupança rende 70% da Selic mais a TR quando a Selic é menor ou igual a 8,5% a.a. — cenário atual. Mas se a taxa básica passa de 8,5% a.a., ela retorna à regra antiga e passa a render 6,17% a.a. mais a TR (ou 0,5% ao mês mais a TR), que é sua remuneração máxima.

Por isso, o spread do banco federal é a parte fixa que ele propõe em suas taxas, já que a remuneração da poupança, bem como a TR têm regras definidas.

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Selic alta até quando?

Somado a isso, o presidente da Caixa acredita que o movimento de alta na Selic é de curto prazo e sinalizou que as taxas podem voltar a cair a depender do cenário do país.

“A Selic está subindo, mas em hipótese alguma acreditamos que seja sustentável e consistente. É movimento de seis meses, um ano. Vai subir e depois vai cair e nós vamos fazer ajustes.”

Ele acrescentou que o produto financiamento imobiliário é de longo prazo, chegando em até 35 anos.

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“Por isso, nós olhamos para frente: ou seja, não fazemos alterações pensando na Selic, mas no DI [curva de juros futura] de oito anos porque nosso duration [prazo médio que o banco recupera o dinheiro emprestado] fica entre oito e dez anos”, completou o CEO.

Essas taxas são formadas a partir de negociações que acontecem com DIs futuros, ou seja, com títulos cujas taxas são baseadas nas expectativas dos investidores sobre os juros do país no futuro. Portanto, a chamada curva futura de juros é uma espécie de termômetro que mostra o custo do dinheiro no longo prazo.

Vale lembrar também que a alta da Selic está diretamente relacionada aos custos dos empréstimos imobiliários porque as instituições financeiras, responsáveis por ofertar esse tipo de financiamento, como a Caixa, costumam repassar parte do aumento da taxa básica de juros às taxas cobradas nos contratos — o que torna as prestações mais caras para o consumidor final.

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Com Selic em alta, parte fixa das taxas não deve subir

Ainda, Guimarães ressaltou que o banco não vai subir mais as taxas fixas de suas linhas de crédito diante do cenário atual.

“As taxas fixam não vão subir, o que vai mudar é o componente variável somente. Pelo contrário, a parte fixa tende a reduzir. O componente fixo é nosso spread e o variável vai para um lado e para o outro. Inclusive, já reduzimos o nosso spread na linha de poupança, enquanto a Selic subiu. Queremos oferecer as menores taxas do mercado, mas precisamos manter o negócio rentável: pagando nos funcionários e mantendo as agências”, afirmou o executivo.

Em setembro, o banco federal anunciou uma redução de seu spread: a parte fixa mínima foi reduzida de 2,99% a.a. para 2,95% a.a. somadas à remuneração da poupança — ainda assim, essa parte fica pode chegar a 3,79% para os clientes sem relacionamento com o banco.

Hoje, o juro na modalidade é de 9,22% ao ano (3,79% fixos + 5,43% da remuneração da caderneta). Com a Selic acima de 8,5% pode chegar a 10% a.a. (3,79% fixos + 6,17% da remuneração da caderneta).

Microcrédito Caixa Tem

Em abril deste ano, em live promovida pelo InfoMoney, Guimarães anunciou que lançaria uma nova modalidade de microcrédito, a Caixa Tem. Depois de alguns meses de espera, o produto está sendo disponibilizado de forma gradual e totalmente digital aos clientes do banco — conforme a data de aniversário. Por enquanto, clientes nascidos entre janeiro e julho já podem acessar a linha.

A taxa de juros da modalidade é de 3,99% ao mês — considerada alta por especialistas consultados pelo InfoMoney, embora o próprio presidente tenha admitido a necessidade deste patamar. “Temos uma taxa elevada de 3,99%, o que matematicamente aguenta uma inadimplência alta.”

“O crédito pessoal ainda é um segmento que perdemos dinheiro, somos pequenos. Lançamos o Microcrédito Caixa Tem, que será uma grande operação, mas estamos começando. […] Neste momento ainda existem restrições para o público que vai ter acesso, e teremos um balanço mais completo dessa operação no início de 2022”, disse.

Público-alvo

A megaoperação de crédito busca atingir cerca de 40 milhões de pessoas, que segundo Guimarães, não têm emprego formal e nem se encaixam no grupo que receberá o Auxílio Brasil.

“Nosso foco é atingir o público dos invisíveis, que não tem emprego formal e quando vão pegar empréstimo são muitas vezes negados e partem para agiotas ou financeiras que vão cobrar 20% ao mês. Já temos 3 milhões de pessoas demandando a linha e estamos analisando caso a caso”, explicou.

Qualquer cliente Caixa pode solicitar o crédito pelo app do Caixa Tem — e todos estão sujeitos à avaliação do banco.

Carência para começar a pagar 

Hoje, a modalidade permite empréstimos de até R$ 1 mil em até 24 meses com a taxa de 3,99% ao mês, mas o presidente confirmou que a linha passará por melhorias.

“Queremos aumentar para até R$ 3 mil, em até 48 meses e reduzir a taxa. Mas precisamos de mais tempo para acompanhar o cliente, a pessoa vai pagando e vai entrando na nossa base de análise para conseguirmos oferecer algo melhor.”

Ainda segundo Guimarães, outra possibilidade é dar carência entre 3 e 6 meses para a pessoa começar a pagar. “A ideia do microcrédito é gerar renda. Se tiver esse período de carência para começar a pagar, a máquina de pipoca já vai estar gerando alguma renda para esse cliente.”

Ele não detalhou quando as novidades vão chegar, mas estão nos planos de curto prazo.

Crédito para o agronegócio

Um dos destaques no balanço trimestral da Caixa, divulgado nesta quinta-feira (18), está na carteira de empréstimos: um aumento de 79,4% no crédito para o agronegócio em 12 meses, setor que deve receber novidades nos próximos anos.

“Não vejo um segmento com mais vantagem competitiva em relação a outros países do mundo do que o agronegócio no Brasil. Vamos focar muito no setor. O cliente agro é o cliente imobiliário também tanto na baixa, quanto na média renda. Vamos financiar pequenos e médios agricultores e temos correlação com a parte imobiliária”, disse.

A carteira de crédito imobiliário da Caixa atingiu R$ 500 bilhões em outubro deste ano ante R$ 441 bilhões em janeiro de 2019.

Além de agronegócio, Guimarães também indicou outros dois segmentos que vão receber total atenção da gestão daqui para frente: cartão de crédito e o IPO da Caixa Asset.

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Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.