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Uma desavença entre dois projetos que rodam na Cardano chegou às redes sociais e o clima ficou tão pesado que o fundador da blockchain, Charles Hoskinson, fez uma live no YouTube nesta semana para repreender os times – sem economizar nos palavrões.
No centro do conflito estão os líderes dos projetos CardStarter (uma “aceleradora descentralizada” para startups da Cardano”) e SundaeSwap (exchange descentralizada que roda na blockchain), que se desentenderam começaram a acusar um ao outro de quebrar promessas e não cumprir compromissos verbais.
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A disputa é vista como negativa para a Cardano, por vezes descrita como uma “matadora de Ethereum” por conta da ambição de competir com a segunda maior blockchain do mundo — e hoje a principal plataforma para desenvolvimento de tecnologias que vão das finanças descentralizadas (DeFi) aos NFTs. Hoskinson, que ajudou a fundar a Ethereum, admitiu que o caso pode prejudicar a “marca do ecossistema como um todo”.
O embate com a CardStarter não é a primeira controvérsia envolvendo a SundaeSwap, que foi lançada na semana passada e imediatamente criticada por usuários que reclamaram do recebimento bastante atrasado dos tokens do projeto, chamados de SUNDAE. Representantes da exchange tiveram que publicar uma nota pedindo paciência aos usuários.
Os desentendimentos entre a CardStarter e a SundaeSwap se desenrolam há nove meses, começando com um plano de aliança e terminando com duras acusações de ambos os lados, além de queixas de grandes prejuízos financeiros.
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Para os investidores da Cardano, o episódio serve de exemplo para mostrar o quanto pode ser complexo construir uma comunidade de projetos de blockchain com desenvolvedores e traders sem passar por dificuldades.
Começo promissor
Em abril de 2021, a CardStarter divulgou o lançamento da CardSwap, uma exchange descentralizada (DEX) anunciada como similar à Uniswap, da Ethereum, mas que roda na Cardano. Ela lançaria um programa de fornecimento de liquidez com oferta de tokens CSWAP como recompensa aos usuários, e um incentivo para quem entrasse logo no começo do projeto.
Em junho do mesmo ano, os projetos selaram um acordo para se unir, com a CardStarter interrompendo o desenvolvimento de uma exchange rival e prometendo contribuir com liquidez para a SundaeSwap .
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Em julho, numa sessão de perguntas e respostas no Twitter, um usuário perguntou para o consultor de operações sênior da CardStarter, Ashwin Somasundaram: “Essa mudança é uma integração entre a CSWAP e a SundaeSwap? A CardSwap vai ser substituída?”. E a resposta foi: “É uma fusão e Sundae é o nome da DEX principal onde tudo isso vai acontecer”.
Somasundaram ainda afirmou que a comunidade da CSWAP seria “muito bem cuidada por todos nós” e que o acordo seria “ótimo”.
Segundo o CEO da CardStarter, Aatash Amir, os funcionários da SundaeSwap então concordaram em reservar 150 milhões de tokens SUNDAE para a parceria com a aceleradora.
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Em 24 de janeiro deste ano, a CardStarter postou no Twitter prints de um grupo do Telegram que mostram o trecho de uma conversa em que o CTO explica a Amir que 7,5% do estoque de SUNDAE havia sido reservado para a parceria — ou seja, 150 milhões de tokens do total de 2 bilhões.
Mais tarde, no grupo do Telegram com a equipe da CardStarter, Artem Wright, cofundador da SundaeSwap, falou que o número de tokens alocados para a parceria seria reduzido para 10 milhões. Quando perguntado sobre a redução, Wright confirmou a mudança e disse: “Acreditamos que 10 milhões é a quantia justa para o que está disponível hoje”.
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Os prints da conversa, publicados pela CardStarter, mostram que essa redução foi baseada na “diminuição significativa” do valor total bloqueado (TVL) esperado por ambas as entidades no pool de liquidez da CardSwap. O valor total bloqueado é uma métrica comumente usada em DeFi e aponta o quanto de capital em garantia existe em um protocolo. É uma boa maneira de medir o tamanho e a popularidade de um projeto.
Em entrevista para a CoinDesk, Wright afirmou que a CardStarter prometeu à SundaeSwap US$ 200 milhões ou mais em TVL. “Durante o período de negociação, partimos de uma expectativa de US$ 200 milhões em liquidez para US$ 10 milhões. Em troca, o número de tokens negociados também diminui”, disse.
A CoinDesk contatou a CardStarter para saber se a equipe concordou em providenciar US$ 200 milhões em TVL, mas, até o fechamento da matéria, não teve resposta.
O que dizem os dados
A CoinDesk verificou os dados da Uniswap, exchange de DeFi, para avaliar, de maneira independente, o TVL associado à CardStarter.
Em 31 de outubro, no dia em que a SundaeSwap supostamente concordou em oferecer 150 milhões de tokens SUNDAE para compradores da CSWAP, a CARDS tinha um TVL de US$ 18,5 milhões, segundo dados da Uniswap. No dia 20 de janeiro, a cifra caiu um pouco, chegando a US$ 17,5 milhões.
James Thornton, consultor de TI do Reino Unido e investidor da CSWAP, afirmou que duvidava que o time da CardStarter aceitaria somente 7,5% dos tokens SUNDAE em troca de US$ 200 milhões em TVL.
“Nenhum parceiro de exchange descentralizada jamais aceitaria parar de fazer sua própria DEX para entregar US$ 200 milhões em TVL em troca de 7,5% de tokens”, afirmou ele. “Eles iam querer, no mínimo, 80%.”
Seja como for, a decisão da SundaeSwap de reduzir a quantia alocada indica que os compradores da CSWAP não iriam receber os tokens SUNDAE que achavam que receberiam.
Conforme as informações iam vazando, o token CARDS, da aceleradora, antes negociado a US$ 9, caiu para US$ 3. Em maio do ano passado, estava por volta de US$ 80.
No Twitter, Discord e Telegram, fornecedores de liquidez da CardStarter começaram a expressar sua frustração e acusar o projeto de aplicar um rug pull (puxada de tapete, em português), golpe em que os desenvolvedores abandonam um projeto e embolsam o dinheiro dos investidores.
Em entrevista à CoinDesk, Alec Yu, universitário de Melbourne, na Austrália, comentou que perdeu US$ 300 mil em tokens CSWAP farmados e disse que “jamais teria investido se a SundaeSwap não tivesse apoiado esse acordo publicamente e dado a impressão de que compradores de CSWAP seriam muito bem cuidados”. Ele investiu seu dinheiro para fornecer liquidez à futura DEX da SundaeSwap, achando que seria recompensado com o token SUNDAE.
“Muita gente segurou a liquidez de CSWAP de maio e junho de 2021 até agora, já que estávamos migrando para a SundaeSwap”, disse Darren, profissional de saúde australiano que perdeu cerca de US$ 116 mil e pediu para não revelar seu sobrenome. “O resultado disso é que ficamos sujeitos a perdas com a depreciação do CARDS, um pouco por conta das condições do mercado e mais por causa das notícias.”
Thornton afirmou ter perdido mais de US$ 200 mil fornecendo liquidez. “O acordo foi por água abaixo e os tokens CARDS despencaram”, lembrou. “Durante nove meses, coloquei todas as minhas economias para fornecer liquidez para a nova DEX da SundaeSwap e achei que seria recompensado com tokens SUNDAE. Depois de nosso dinheiro ser segurado por mais de seis meses e perder 90% de seu valor, ainda não temos nenhum acesso à nossa liquidez”, acrescentou.
Segundo o agregador de preços CoinMarketCap, os tokens CSWAP estavam sendo negociados a US$ 0,21 pouco antes do anúncio da SundaeSwap no dia 20 de janeiro. Hoje, esse valor é de US$ 0,03.
No Twitter, a exchange respondeu às críticas, negando um acordo de fusão ou promessa de tokens SUNDAE, e afirmou: “A SundaeSwap e a CardStarter fizeram um ‘Acordo de Marketing e Colaboração’ em junho de 2021. Não era, de maneira alguma, uma ‘fusão’ das duas entidades, como foi explicado em nosso próprio anúncio sobre o acordo”.
A SundaeSwap admitiu que havia usado termos vagos em algumas ocasiões, ao conversar com usuários. “Em duas situações, membros da nossa equipe foram infelizes na escolha de palavras, ao caracterizar tanto o Acordo quanto a relação de expectativa de fornecimento de liquidez futuro”, disse a equipe em nota.
O cofundador da exchange, Artem Wright, afirmou que não foram feitas promessas à CardStarter quanto aos tokens SUNDAE. Em entrevista à CoinDesk, ele disse que o acordo de junho entre as duas entidades envolvia a promessa de que a aceleradora não desenvolveria sua própria DEX e “afirmava muito claramente que eles não ganhariam nada da SundaeSwap por isso”. Ainda anunciou que os prints tuitados pela CardStarter são “trechos incompletos de negociações que duraram meses”.
O que diz o acordo
A CoinDesk teve acesso à uma cópia do “Acordo de Marketing e Colaboração” de junho, que mostra que a SundaeSwap se comprometeu a favorecer pares de listagem dadas pela CardStarter no primeiro ano após o lançamento da exchange descentralizada. Não foi especificada nenhuma quantia de tokens no acordo, que ainda estipulava que o encargo de cada parte com a outra não excederia US$ 5 mil.
Esse documento, assinado por Motavaf (SundaeSwap) e Amir (CardStarter), declarava que nenhum outro acordo seria considerado juridicamente vinculativo, seja oral ou por escrito.
O endereço fornecido pela SundaeSwap fica em Greenbrae, na Califórnia. Já a CardStarter forneceu uma caixa postal nas Ilhas Virgens Britânicas.
Charles Hoskinson, fundador da Cardano
Após pedido de comentário nesta semana, Hoskinson enviou um e-mail para a CoinDesk dizendo que “não sabia bem do que se tratava a história e estava sendo atualizado”. “Podemos conversar ainda essa semana, depois que eu tiver um tempo para ler sobre o ocorrido”, disse.
Em live no YouTube, Hoskinson criticou a maneira como ambas as organizações conduziram a situação. Ele disse que era inaceitável que a SundaeSwap e a CardStarter usassem redes sociais, como Twitter, Reddit e Telegram, para defender a própria causa.
“É tão medíocre. A única coisa que faz é tentar se exonerar da responsabilidade pessoal e prejudicar a marca do ecossistema como um todo”, declarou o fundador. Ele ainda continuou: “Gente, por favor. Se resolvam!”, seguido de um palavrão. “Para as duas empresas, se juntem, entrem em consenso sobre a arbitragem, conversem entre si e façam o combinado. Se, por algum motivo, vocês não conseguirem sobreviver ao processo de arbitragem, a justiça está sempre aí”.
Quando perguntado se a disputa afetaria a reputação da Cardano, Denis Vinokourov, líder de research na Corinthian Digital, afirmou que o caso é mais um exemplo de comunicação cruzada no mundo dos lançamentos de ativos digitais e projetos de cripto. “Independentemente da situação entre as duas partes, agir como crianças birrentas em público não vai ajudar em nada e só prejudica a perspectiva da Cardano de competir por alocação de dinheiro institucional”, afirmou.
O token ADA, da Cardano, caiu 26% em um mês e era negociado a US$ 1,04 no fechamento da matéria. É importante lembrar que o Bitcoin e outras criptomoedas de peso também passaram por sell-off nos últimos dias , em movimento mais generalizado de liquidação do mercado.
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