Guerra na Ucrânia ou acordo com Irã? Entenda o que pesa mais sobre o preço do petróleo

Retomada de exportações do petróleo iraniano poderia aumentar oferta global da matéria-prima: mas até que ponto seguraria os preços?

Mitchel Diniz

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O clima de conflito entre Rússia e Ucrânia está piorando as perspectivas de oferta global do petróleo e há semanas tem feito os preços da matéria-prima se aproximarem da casa dos US$ 100; nesta terça, o contrato futuro do brent com vencimento em abril foi a US$ 99,50 o barril. Os adversários são produtores da matéria-prima, em especial a Rússia, um dos maiores players do segmento no mundo. Não há consenso sobre até onde o preço da commodity iria caso uma guerra ocorra de fato. Os mais pessimistas, porém, acreditam que o petróleo chegaria a US$ 120 ou até mais.

É o caso de Ricardo Kazan, gestor de commodities da Legacy Capital. “No cenário em que estamos hoje, podemos ir a um nível de preço que estrangularia a demanda”, disse ele em entrevista ao Stock Pickers, do InfoMoney. Kazan lembra que os estoques nos Estados Unidos caem, na média, em 10 milhões de barris de petróleo por semana, o que favorece uma escalada de preços mais intensa.

De acordo com análise do banco Julius Baer, é só uma questão de tempo para o petróleo chegar aos US$ 100. “A commodity se tornou um barômetro do medo da crise na Ucrânia”, escreveram os analistas. Com as relações diplomáticas estremecidas, crescem temores de sanções e disrupções na distribuição de energia.

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“A distribuição de óleo e gás da Rússia para a Europa é substancial e cortar esse fluxo deixa os dois mercados pesadamente desfalcados”, avalia o Julius Baer. O mercado de petróleo trabalha com fundamentos apertados, visto que o consumo se recuperou em ritmo mais rápido do que o crescimento da oferta.

“Vemos o mercado de petróleo em um período de nervosismo, temperado por medos e emoções geopolíticas. Dado esse clima, os preços do petróleo provavelmente vão subir para os três dígitos ainda no curto prazo”, diz a análise do banco.

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O Julius Baer, no entanto, lembra que explosões de mercado geradas por medos geopolíticos costumam ter vida curta. O banco acredita que a escalada de tensões não deve chegar ao limite máximo, pois há danos econômicos em jogo. Olhando para além do período de nervosismo, o Julius Baer vê preços do petróleo mais baixos no longo prazo.

“As tendências fundamentais estão se invertendo, pois o crescimento da oferta excede o crescimento da demanda”, explica a equipe de análise do banco. Na visão dos analistas, o petróleo tem pelo menos três pressões negativas:  uma queda da demanda na bomba, reflexo dos patamares atuais de preço; a possibilidade de um desfecho diplomático para conflitos no leste europeu; e a renovação de  um acordo nuclear com o Irã.

Mais petróleo iraniano no mercado

Ao mesmo tempo em que acompanham as tensões na fronteira ucraniana, os investidores também estão de olho na retomada de conversas entre Estados Unidos e o governo iraniano sobre o Plano de Ação Abrangente Conjunto (JCPOA, na sigla em inglês). No acordo firmado inicialmente em 2015, o Irã se comprometeu a reduzir seu programa nuclear. Em troca, Estados Unidos, União Europeia e outros países da ONU aliviaram sanções comerciais ao Irã.

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Contundo, em 2018, o então presidente americano Donald Trump abandonou o acordo. As sanções ao Irã foram retomadas e o país do Oriente Médio retomou o ritmo do seu programa nuclear. Ao que tudo indica, as nações podem chegar novamente a um entendimento agora e a perspectiva é que isso aumente a oferta global de petróleo.

“O Irã pode colocar 1 milhão de barris por dia [no mercado] e isso deve arrefecer petróleo, que vai deixar de subir da maneira que estava subindo”, afirma Ricardo Kazan. O gestor, contudo, explica que o impacto seria temporário. “Vai ceder de um determinado patamar e depois volta para o cenário estrutural de continuar subindo”, explicou. Contudo, apontou que a commodity para operar o risco geopolítico, segundo ele, é o ouro.

O Irã, inclusive, já teria retomado tratativas com a Coreia do Sul, um de seus principais compradores antes das sanções entrarem em vigor. China, Emirados Árabes e Taiwan também eram importadores frequentes do petróleo iraniano.

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Uma parte do mercado, porém, acredita que o Irã não seria capaz de incrementar a oferta global de forma significativa, como no passado, por conta de um histórico de baixos investimentos no setor e de exportações potencialmente ilegais. Além disso, estima-se que 85% dos estoques de petróleo iraniano seja do tipo condensado, que é mais leve, e dá mais trabalho no seu refinamento.

O Bradesco BBI, contudo, observa que o mercado está ávido por petróleo e acredita que adaptações de refino não seriam descartadas, já que a matéria-prima vinda do Irã ajudaria a aliviar rapidamente pressões sobre a oferta, trazendo um volume de 470 mil barris de petróleo por dia em um mês.

“Acreditamos que se o JCPOA for assinado, juntamente com um tratado de paz na Ucrânia, o Brent poderá se retrair ao nível do baixo US$ 80”, projetam os analistas do BBI. No entanto, o banco destaca que a capacidade ociosa para petróleo bruto está entre 3 e 4 milhões de barris de petróleo por dia, muito abaixo do nível de demanda. “Mais investimentos são urgentemente necessários para acompanhar a demanda futura”, conclui o relatório.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados