Ambev (ABEV3) à frente dos competidores, mas sentindo desafios do setor: veja o que esperar para o resultado do 4º tri

Analistas esperam queda das vendas no segmento de cerveja no Brasil, enquanto monitoram alta dos custos e sinais de novos impactos com Rússia-Ucrânia

Lara Rizério

(Paulo Fridman/Corbis via Getty Images)
(Paulo Fridman/Corbis via Getty Images)

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À frente de seus competidores, mas ainda assim sentindo a desaceleração do mercado – e de olho nos custos. Esses são alguns dos pontos a serem monitorados pelos analistas e investidores de mercado para o resultado do quarto trimestre de 2021 da Ambev (ABEV3), que será revelado na próxima quinta-feira (24) antes da abertura do mercado.

O Bradesco BBI espera uma redução de 2,5% em base anual nos volumes de cerveja brasileira da Ambev no quarto trimestre.

Dito isso, os analistas da casa notam que o desempenho de volume esperado da companhia no Brasil no quarto trimestre de 2021 é muito melhor do que as quedas de cerca de 7% e 11% na comparação anual calculadas pelo IBGE para a produção brasileira de bebidas alcoólicas durante os meses de outubro e novembro, respectivamente, dados que são geralmente um bom indicador de volumes de cerveja para a Ambev. Isso provavelmente se deve aos ganhos de participação de mercado da Ambev durante o trimestre.

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A XP destaca que a companhia deve ganhar participação de mercado mas que, devido ao agravamento do cenário macroeconômico para o Brasil e preocupações com novas variantes do Covid (como a ômicron), a estimativa é de que o volume de Cerveja Brasil diminua 5% na base de comparação anual. “No entanto, estimamos um aumento de 10% na base anual nos preços, o que deve compensar o menor volume e elevar a receita líquida em 5% na mesma base no trimestre”, avaliam.

O Credit Suisse reforça que, apesar de mais um trimestre de ganhos de market share, os volumes de cerveja da AmBev no Brasil não estão imunes à desaceleração da indústria por condições climáticas adversas e prováveis ​​ventos contrários de um ambiente de consumo mais fraco. Assim como o BBI, o banco suíço estima que os volumes de cerveja da AmBev no trimestre no Brasil caiam 2,5% na base anual.

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Para o banco, os preços devem ter registrado alta de 8% na base anual. Por outro lado, espera mais perda de fôlego no nível de lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) devido à já conhecida pressão de custos e despesas maiores impulsionadas por maiores acúmulos de bônus e gastos com marketing.

O Bradesco BBI, por sua vez, projeta um custo por produto vendido (CPV) por hectolitro de 2021 provavelmente dentro da projeção de crescimento esperada entre 20% e 23%. Os analistas esperam um aumento de 20% nas despesas com venda, gerais e administrativas devido aos pagamentos de bônus e maiores despesas comerciais.

Fatores a monitorar

A XP destaca que, mesmo com a Ambev superando seus pares no quarto trimestre de 2021, com o cenário macro mais difícil, além da Covid levando ao adiamento de eventos, o foco do setor passou de volume para pressão de preços para garantir melhores margens. Embora o on-trade (como bares e restaurantes) demore mais do que o esperado para retomar sua dinâmica de consumo, o off-trade (mercados e lojas varejistas em geral) continua sendo o canal principal para a maioria das indústrias, mas uma inflação persistente e crescente começou a corroer o poder de compra dos consumidores.

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A taxa de câmbio e os preços das commodities sustentarão as margens da Ambev pressionadas, não apenas no quarto trimestre de 2021, mas ao longo de 2022, avalia. Contudo, os analistas esperam que o Bees, plataforma pela qual as empresas que comercializam os produtos da Ambev podem fazer suas encomendas, tenha um impacto significativo no próximo ano, especialmente com mais de 80% dos clientes ativos já usando sua plataforma.

“Isso permite que a AmBev tenha uma estratégia de precificação mais eficiente, ao mesmo tempo em que melhora a qualidade do serviço prestado aos clientes, principalmente ao agregar novas empresas à sua base”, avalia.

Para o Credit Suisse, apesar do resultado, que deve vir pouco inspirador, a percepção é de que o mercado já espera a pequena queda de volume de vendas e que o foco agora vai se voltar para o guidance de 2022 a ser anunciado pela gestão. Contudo, os analistas ressaltam que, apesar de muitos investidores reconhecerem que a empresa tem tido um desempenho além da indústria, os desafios de curto prazo desanimam uma maior exposição aos papéis.

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Neste sentido, adicionando um desafio à empresa, está a tensão entre Rússia e Ucrânia, que afeta os preços das commodities agrícolas e, consequentemente, os custos para a companhia.

Dependendo da escala de qualquer ação militar entre os países, a produção e exportação de commodities agrícolas ucranianas, incluindo milho e trigo, podem ser afetadas. Para a Rússia, quaisquer sanções financeiras dificultariam o comércio, o que poderia afetar as exportações agrícolas. A Rússia deve se tornar o maior exportador de trigo do mundo nesta temporada, depois da União Europeia.

Para o BBA, a inflação de custos mais alta pode atingir a lucratividade de 2023, estimando que cerca de 10% do CPV da unidade de negócios de Cerveja Brasil da Ambev estejam relacionados ao milho e ao trigo.

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“De acordo com nossos cálculos, essas commodities desempenham um papel fundamental na estrutura de custos da Ambev e quaisquer aumentos adicionais de preços podem prejudicar a lucratividade da empresa. Isso é vital para determinar a rentabilidade da Ambev em 2023, principalmente porque o ambiente de consumo parece resistente ao repasse de preços em 2022 e 2023”, avaliam os analistas da casa. Para eles, porém, a estratégia de hedge da Ambev provavelmente atrasará qualquer impacto até 2023.

Assim, esse é mais um ponto será monitorado de perto pelos analistas e investidores que pode impactar os custos da companhia. O BBA tem recomendação neutra para os papéis, com preço-alvo de R$ 18, um potencial de alta de 22,4% em relação ao fechamento da véspera. O Credit Suisse tem recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado), com preço-alvo de R$ 18,50, ou potencial de alta de 26%, mesma recomendação do BBI que, contudo, tem preço-alvo de R$ 21 para os ativos ABEV3 (ou upside de 42,8%). A XP também recomenda compra com preço-alvo de R$ 18,80, ou upside de 27,8%.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.