Moradores de Xangai questionam custo humano de quarentenas contra Covid-19 na China

Os enfermeiros publicaram pedidos de ajuda em redes sociais, dizendo que estavam sobrecarregados.

Reuters

Estátua de Mao e bandeira da China 
 (Foto: Getty Images)
Estátua de Mao e bandeira da China (Foto: Getty Images)

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XANGAI (Reuters) – Lu, de 99 anos, residia há muito tempo no hospital Donghai Elderly Care, em Xangai, e seus entes queridos tinham certeza de que ela estava recebendo atendimento 24 horas no maior centro desse tipo da cidade.

Isso foi antes da Covid-19 voltar a atingir a maior cidade da China no mês passado, o pior surto do país desde que o vírus surgiu em Wuhan no final de 2019, infectando vários pacientes, médicos e profissionais de saúde na instalação de 1.800 leitos.

Os enfermeiros publicaram pedidos de ajuda em redes sociais, dizendo que estavam sobrecarregados. Parentes disseram à Reuters que houve várias mortes.

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Lu, cujos parentes pediram que ela fosse identificada apenas pelo sobrenome, tinha doença cardíaca e pressão alta. Ela pegou Covid e, embora não apresentasse sintomas, foi transferida para uma instalação de isolamento. A família dela foi informada da transferência em 25 de março.

Ela morreu lá sete dias depois. A neta disse que a causa da morte foram complicações geradas por suas comorbidades.

Entre as perguntas que ela tem sobre os últimos dias de Lu está por que os pacientes idosos tiveram que ficar em quarentena separadamente, longe dos profissionais de saúde mais familiarizados com suas condições sob as regras de quarentena da China.

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As frustrações refletem as de muitos com a política de tolerância zero sobre a Covid-19 na China. Todos com teste positivo devem ficar em quarentena em locais de isolamento especializados, independentemente de apresentarem sintomas ou não.

Xangai tornou-se um caso de teste para a política estrita do país. A quarentena em casa não é uma opção e, até a indignação pública provocar uma mudança, Xangai estava separando as crianças positivas para Covid de seus pais.

De 1º de março a 9 de abril, o centro financeiro da China relatou cerca de 180 mil infecções transmitidas localmente, 96% das quais eram assintomáticas. Não relatou nenhuma morte para o período.

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Um funcionário de Donghai que atendeu o telefone no domingo se recusou a responder perguntas, direcionando a Reuters para outro departamento, que não comentou o assunto.

Solicitado a comentar, o governo de Xangai enviou uma reportagem da mídia local com um relato em primeira pessoa da vida em um dos centros de quarentena. O autor não identificado disse que queria dissipar os temores de que esses locais são terríveis, dizendo que foi bem alimentado e medicado, mas recomendando que as pessoas levem tampões para os ouvidos e máscaras para os olhos.

As autoridades não fizeram mais comentários.

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Os Estados Unidos levantaram preocupações sobre a abordagem da China sobre a Covid-19, aconselhando na sexta-feira que norte-americanos reconsiderarem viagens para o país asiático “devido à aplicação arbitrária de leis locais e às restrições relacionadas à Covid-19”. Pequim descartou as preocupações dos EUA como “acusações infundadas”.

Quando Lu estava em quarentena, a família perguntou: “Quem vai cuidar dela? Haverá cuidadores, médicos?”, disse sua neta. “Minha avó não é alguém que pode viver de forma independente.”

“Se o cuidador dela tinha Covid e não apresentava sintomas, por que eles não podiam ficar juntos?”, disse ela. “O caos e as tragédias que acontecem em Xangai desta vez realmente se resumem a políticas cruéis.”

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Um parente de outra paciente de Donghai, Shen Peiying, 72, que informou seu sobrenome como Qiu, disse acreditar que a política de quarentena contribuiu para a morte dela em 3 de abril.

Ela não pegou Covid, disse ele, citando registros de testes que viu no aplicativo de saúde da China. Após semanas de pouca comunicação, a equipe ligou para dizer que Shen havia morrido de uma infecção no peito.

Qiu se recusou a consentir com a cremação de Shen, citando perguntas não respondidas, como os cuidados que ela recebeu depois que seu cuidador regular foi colocado em quarentena.

“Se todos estavam em quarentena, quem estava lá para cuidar dos pacientes?”, disse Qiu.

Xangai está dobrando os esforços na política de quarentena, convertendo escolas, blocos de apartamentos recém-concluídos e vastas áreas de exposições em centros de atendimento, o maior dos quais pode acomodar 50.000 pessoas. As autoridades disseram na semana passada que montaram mais de 60 dessas instalações.

Essas medidas, incluindo o envio de pacientes para locais de quarentena nas províncias vizinhas, foram recebidas pelo público com uma mistura de admiração pela velocidade e horror pelas condições, levando alguns moradores de Xangai a pedir a permissão da quarentena domiciliar.

Embora a mídia estatal chinesa tenha mostrado hospitais com apenas dois ou três pacientes por quarto, pacientes como os enviados para os gigantescos centros de exposições de Xangai dizem que vivem lado a lado com milhares de estranhos, sem paredes ou chuveiros e com as luzes do teto acesas o tempo todo.

Vídeos nas mídias sociais chinesas mostraram locais de quarentena convertidos às pressas, incluindo uma fábrica abandonada em ruínas onde foram colocadas várias camas de acampamento, um local feito de contêineres e uma escola com um cartaz dizendo que cobertores e água quente não estavam disponíveis.

Um vídeo viral na semana passada mostrou pacientes em um local tido como hospital improvisado de Nanhui com dificuldades para receber suprimentos.

Entre os que publicaram relatos em mídias sociais está o morador de Xangai Li Tong, que pediu ajuda depois que sua esposa foi enviada para um dos centros. Ele disse que as coisas melhoraram quando mais funcionários chegaram para organizar os pacientes, mas que ficou chocado com o que os vídeos mostraram e o que sua esposa lhe disse.

“Eu não consegui acreditar que Xangai, em 2022, poderia ser assim”, disse ele.

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