A PagSeguro (PAGS34) informou na última quarta-feira (8) ter registrado um lucro líquido de R$ 350 milhões no primeiro trimestre de 2022, alta de 29% ante um ano antes. Em termos ajustados, o lucro de R$ 371 milhões foi 14% maior.
Os números do resultado foram vistos, no geral, como positivos pelos analistas. Contudo, preocupações mais à frente, o dia bastante negativo e o rali de 40% das ações no último mês acabaram levando a uma sessão pós-resultado de derrocada para as ações, de 23,78%, nesta quinta-feira (9).
Entre os fatores para o aumento do lucro, esteve a gradual flexibilização das medidas de isolamento social, que permitiu uma retomada do consumo para níveis similares aos de antes da pandemia de Covid-19. Os números também foram apoiados também no reforço da base de clientes e na expansão das receitas devido a maiores vendas de produtos financeiros.
A companhia listada em Nova York teve de janeiro a março receita total de R$ 3,42 bilhões, aumento de 66% ano a ano, recorde, refletindo um aumento de 60% no volume de pagamentos processados (TPV), de R$ 80,1 bilhões.
“O Brasil observou queda no número de pessoas infectadas e de óbitos por Covid-19 e os eventos sociais e atividades comerciais voltaram a um patamar similar ao de antes da pandemia. Esse cenário resultou em maior volume de pagamentos de transações e, consequentemente, maiores receitas”, afirmou a companhia no relatório de resultados.
Os números reforçam a tendência mostrada por rivais que já divulgaram seus resultados do período, como StoneCo ( STOC31) e Cielo (CIEL3), com aceleração dos volumes de pagamentos, o que permitiu melhora das margens operacionais.
O lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado no período somou R$ 769 milhões, avanço de 12% ano a ano. Além disso, a empresa manteve seus custos e despesas em ritmo inferior ao das receitas. As despesas com transações, por exemplo, avançaram 54%, enquanto as com marketing caíram 9% ano a ano e as com pessoal cresceram apenas 10,3%.
“Fomos mais racionais com algumas despesas”, disse o co-presidente-executivo da PagSeguro Alexandre Magnani, falando a jornalistas.
Isso compensou em parte os efeitos das despesas financeiras, que deram um salto de 1.300%, a R$ 620,6 milhões, refletindo entre outros fatores o aumento das taxas de juros sobre a dívida da companhia.
Números foram bons?
A equipe de research do Itaú BBA destacou que a companhia reportou resultados acima do esperado pela casa, com as melhores receitas impactadas positivamente por uma maior taxa de aceitação, impulsionadas ainda mais pela alavancagem operacional. O lucro líquido de R$ 350 milhões superou as expectativas de R$ 311 milhões do banco.
O guidance (projeções) mostra um crescimento contínuo do lucro líquido, apesar das margens líquidas mais baixas. A reprecificação está se mantendo sem prejudicar os volumes.
O banco mantém classificação outperform (desempenho acima da média do mercado) para PagSeguro, e preço-alvo de R$ 28 frente a cotação de quinta-feira (9) para o BDR, ou um potencial de valorização de 68%.
“O lucro já passou pelo pior momento e carrega uma capacidade de margem líquida significativa uma vez que as taxas de juros básicas caem em 2023”, avaliam os analistas, vendo crescimento com valuation atraentes.
Para o Credit Suisse, a Pagseguro conseguiu entregar resultados robustos apesar de um cenário macro desafiador. Os analistas do banco suíço acreditam que a empresa deve continuar entregando forte volume total de pagamentos (TPV, na sigla em inglês) e crescimento de receitas, juntamente com sólido lucro líquido ao longo de 2022.
Analistas ainda enxergam chances do segundo trimestre ser mais forte do que o primeiro trimestre devido à alavancagem operacional. O banco reitera recomendação outperform para PagSeguro e preço-alvo de US$ 40, ou potencial de valorização de 132% em relação ao fechamento das ações negociadas na véspera nos EUA.
O Morgan Stanley também aponta que as receitas superaram as expectativas, impulsionadas pela força no pré-pagamento. A empresa também forneceu uma projeção positiva para o 2T22 – com receitas e lucro líquido 3-9% e 0-3% acima do consenso – sugerindo que o impulso da receita deve continuar ao longo do ano, principalmente devido às iniciativas bem-sucedidas de reprecificação que podem seguir no radar e sucesso nas operações de Hubs e PagBank.
Do lado negativo, o guidance implica em uma contração sequencial da margem líquida, como resultado de maiores custos de captação devido a maiores taxas de juros.
O Morgan Stanley permanece overweight (exposição acima da média do mercado) em PagSeguro e preço-alvo de US$ 50, um expressivo potencial de alta de 190,7% ante o fechamento da véspera.
Por outro lado, o Bradesco BBI avaliou que a empresa teve resultados neutros no primeiro trimestre, o 2T22 não deve trazer surpresas positivas materiais no front das receitas, enquanto as despesas financeiras devem seguir como fonte de pressão nos resultados.
Do lado negativo, os números fracos de adições líquidas e a desaceleração implícita no crescimento do volume total de pagamentos (TPV, na sigla em inglês) podem trazer preocupações adicionais para as perspectivas de crescimento na segunda metade do ano.
O BBI mantém recomendação neutra para o papel e preço-alvo de US$ 21, ou potencial de alta de 22% frente o fechamento da véspera.
No pré-market do mercado americano desta quinta-feira (9), às 9h58 (horário de Brasília), as ações tinham baixa de US$ 3,60%, a US$ 16,58. Contudo, na abertura do pregão regular, a baixa se intensificou e o papel fechou com uma impressionante queda de 23,78%, a US$ 13,11. Os BDRs da companhia, por sua vez, fecharam em queda de 22,80%, a R$ 12,90.
O dia foi negativo também para o seu par no setor Stone, cuja ação caiu 14,89%, a US$ 10,12, na Bolsa americana; já os BDRs STOC31 desabaram 13,36%, a R$ 49,82. O dia foi de queda forte para o mercado como um todo em meio à expectativa do mercado com os dados de inflação nos EUA, a serem divulgados na próxima sexta.
Contudo, as avaliações menos otimistas sobre o resultado da PagSeguro e perspectiva para o segundo trimestre sobre receita, além da contínua pressão sobre a despesa financeira, também preponderam nas análises sobre o balanço.
Além disso, algumas casas de análise cortaram as suas projeções para a companhia após o balanço. A Wells Fargo cortou o preço-alvo de US$ 23 para US$ 21, mantendo recomendação equivalente à neutra, enquanto a Evercore ISI cortou de US$ 19 para US$ 17, também com recomendação neutra.
“Gostaríamos de ver mais fluxo para os resultados da empresa neste momento do ciclo, principalmente devido às nossas preocupações com a desaceleração do crescimento da receita no próximo ano”, escreveu Jeff Cantwell, analista da Wells Fargo, em nota.
O BTG Pactual também tem essa recomendação, com preço-alvo de R$ 22 para o BDR da companhia. Os analistas justificam a recomendação apontando o forte rali do papel de 40% nos últimos 30 dias, juntamente com uma crescente preocupação com a distribuição e a “qualidade do lucro” (uma vez que as despesas com capital foram muito altas).
(com Reuters)
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