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Quem acompanha as postagens de Daiane Alves Gubert no perfil “Endinheirando Mulheres” nas redes sociais, com desenvoltura e didática para decifrar as entrelinhas do mercado financeiro, não imagina que a investidora e assessora de investimentos já tenha feito faxina, trocado almoço por biscoitos por falta de dinheiro e experimentado sérios problemas financeiros na vida real, chegando até a ter seu nome negativado. “Não tinha sido educada para cuidar do dinheiro”, diz Daiane, que hoje tem uma carteira de clientes que a acompanha há mais de uma década.
Muito além dos conhecimentos sobre renda fixa ou variável, Daiane – hoje com 41 anos – carrega na sua carteira de vida experiências financeiras nem sempre positivas, mas idênticas às vividas por milhares de brasileiras. No papel de mãe e profissional, em muitos momentos precisou optar entre alimentar os filhos ou pagar as contas, sem qualquer brecha para poupar.
A adolescente que sonhava em ser pedagoga, inspirada pela mãe professora, descobriu muito cedo que mulheres precisam de independência financeira. Mãe solteira aos 17 anos, Daiane soube durante a gestação que sua filha tinha uma doença rara. Com tumores no coração, Larissa sempre precisou de acompanhamento médico, sobretudo neurológico.
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Aos 20 anos, vivendo em Florianópolis (SC), Daiane fez vestibular e passou para Pedagogia, mas não conseguiu cursar a faculdade. Sem a opção de estudar à noite, trancou o curso porque precisava trabalhar e pagar os tratamentos da filha.
“Continuei a trabalhar como operadora de telemarketing, vendendo cartões numa operação do Citibank. Mas mais de 60% do meu salário eram gastos com remédios para minha filha. Nas horas extras, fazia faxinas na casa da minha irmã, para ter o dinheiro das fraldas”, lembra Daiane.
Volatilidade nos mercados – e na vida
Enquanto morava na casa dos pais, Daiane fazia questão de ter o próprio dinheiro e bancar os custos dos tratamentos médicos da filha. Menos de dois anos depois de conhecer o primeiro marido, acabou se mudando para São Paulo, em 2002, onde conseguiu emprego numa agência bancária. A vida parecia estar entrando nos trilhos.
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Em São Paulo, Daiane se desenvolveu como profissional da área financeira e recebeu uma proposta para trabalhar em outro banco. Na segunda metade dos anos 2000, engravidou novamente, teve um menino e continuou sua escalada profissional. Ganhou um cargo de gerência e começou fazer faculdade de marketing.
Mas, assim como no mercado financeiro, os altos e baixos fazem parte da vida de Daiane. O casamento começou a passar por momentos difíceis e ela acabou se separando do marido. Longe da família, equilibrava-se para pagar aluguel, prestação do carro, alimentação e outros gastos com os filhos, embora tivesse ajuda do ex-marido para as despesas com a escola.
“Tinha um custo muito alto de aluguel, porque eu precisava morar perto do trabalho e da escola das crianças. Vivia na base de empréstimos. Quando conseguia equilibrar as contas, havia sempre uma despesa extra que me desestabilizava novamente”, conta.
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Diante da separação conturbada, Daiane pensou em voltar para Florianópolis, onde teria o apoio da família. Conseguiu um acordo com a ex-chefe e foi demitida. “Ela me perguntou como poderia me ajudar. Respondi: me demita. Com dinheiro da rescisão, equilibro as contas e volto para Florianópolis. Mas um ex-cliente não queria que eu deixasse São Paulo e me ajudou a conseguir um emprego em outro banco”, diz Daiane.
Nome “sujo”
Com a carreira em ascensão e a carteira de clientes em expansão, Daiane foi transferida para Curitiba (PR) em 2007. A mudança de cidade provocou novas complicações na relação com o ex-marido. Daiane foi obrigada a deixar os filhos com os avós temporariamente, em Florianópolis, até se estabelecer na nova cidade.
A primeira semana em Curitiba foi traumática. A mudança chegou, mas o apartamento que tinha alugado não estava pronto. “Eu estava em reunião com um cliente, quando o funcionário da transportadora disse que eu teria duas horas para resolver em que endereço eles deixariam os móveis. Caso contrário, ficariam na calçada em frente ao banco. Na mesma hora, o cliente me ofereceu ajuda para deixar meus móveis numa garagem desocupada que ele tinha”, detalha Daiane.
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Sempre bem informada e em busca de atualizações profissionais, Daiane cuidava com esmero dos investimentos de seus clientes – sua própria vida financeira, no entanto, estava longe do apogeu. “Comia biscoitos, porque usava o tíquete alimentação para fazer compras de supermercado e ter comida para meus filhos em casa. Recusava convites dos colegas para almoçar, porque eu não tinha dinheiro. A máquina de café do banco era a minha salvação”, diz.
Nessa época, Daiane ficou negativada. Sem poder acessar crédito, por cartão ou cheque especial, a saída foi voltar para a casa dos pais, em 2010. Com menos despesas fixas, Daiane recuperou aos poucos a pontuação nos birôs de crédito.
“Não me endividei porque fiz viagens ou gastei em shoppings. Não tinha maturidade para fazer contas na minha vida pessoal. Meus filhos sempre foram prioridade e minha preocupação era garantir o melhor sustento deles. Não fui educada para cuidar do dinheiro”, afirma. “Percebi que falar sobre investimentos e dinheiro é um tabu na sociedade brasileiras. É mais fácil falar sobre sexo”.
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De repente, assessora de investimentos e influenciadora
A volta para Florianópolis marcou uma virada na vida financeira de Daiane. Com as contas estabilizadas, ela alugou um apartamento confortável para morar com os filhos. Começou a montar sua carteira de investimentos e não esbanjava.
“Meu lazer era jogar beach tennis, mas eu trocava o valor da mensalidade por uma consultoria de marketing. A proprietária da arena era minha amiga e precisava de ajuda para captação de patrocínio. Fazíamos uma troca”, conta.
Na segunda metade da década de 2010, foi convidada por um ex-chefe para fazer parte de uma sociedade num escritório de investimentos. “Fiquei animada com a oportunidade. Levei minha carteira de clientes e achei que seria uma fase mais feliz da minha vida”, diz.
A lua-de-mel profissional durou pouco tempo. Era a única mulher na sociedade, em um mercado predominantemente masculino. E isso pesava. Daiane sentia que poderia ir além e montar uma operação que refletisse seus valores e convicções.
“Durante a pandemia, comecei a repensar minha carreira. É preciso falar abertamente de dinheiro, sem pudores, usar uma linguagem simples, acessível para todo mundo. As mulheres precisam sair da poupança e assumir as rédeas da sua vida financeira”, afirma Daiane. Foi como surgiu a ideia de criar o perfil “Endinheirando Mulheres”.
Entre agosto de 2020, quando o perfil entrou no ar, e o início de 2021, Daiane começou a receber convites para falar em rádios e dar palestras. A experiência no mercado financeiro e a simplicidade para explicar operações sofisticadas permitiram que começasse a colher os frutos da sua carreira de influenciadora digital na área financeira.
Seu lema é que as mulheres precisam ser livres para exercer sua feminilidade sem que isso prejudique sua assertividade profissional. “Se as mulheres querem ser empoderadas, precisam de independência financeira. Não sou feminista, não sou de rasgar sutiã praça pública. Só quero poder imprimir no nosso trabalho os atributos femininos que são positivos”, diz. Para ela, as mulheres são mais éticas, lidam melhor com a diversidade e são mais responsáveis com os gastos.
Agora, Daiane acaba de inaugurar seu próprio escritório de assessoria financeira, em Florianópolis. O escritório Phidias nasceu com uma equipe comercial totalmente feminina e uma carteira de clientes que a acompanha há mais de uma década.
À frente do novo negócio, Daiane almeja ver outras mulheres crescendo profissionalmente no escritório, que leva o nome de um escultor da Grécia Antiga. Phidias viveu no Século de Péricles, 400 anos antes de Cristo. Era famoso pela precisão matemática em suas esculturas – razão da admiração de Daiane por ele.
Carteira diversificada
A fase em que não tinha dinheiro para almoçar com os colegas de trabalho ficou definitivamente no passado. Hoje, Daiane está contente com seu patrimônio. Há quatro meses, realizou o sonho de casar vestida de noiva. Seu atual marido é um empresário no segmento de TI para o agronegócio e também tem origem humilde.
Daiane prioriza fundamentos e se define como uma investidora moderada, que dificilmente embarca em modismos. É uma defensora da diversificação e gosta de investimentos com propósito. Embora não se encaixe no papel de ativista, gosta de ativos ligados a propostas de sustentabilidade. Também é fã de fundos multimercados.
Atualmente, a carteira da assessora financeira está dividida entre renda fixa (30%), multimercados (30%), ações (10%), fundos alternativos (15%), COEs – Certificados de Operações Estruturadas (5%) e fundos imobiliários (10%).
Nas horas de lazer, quando não está na companhia dos filhos e do marido, Daiane gosta de ler e ver séries. Atualmente está vidrada em Borgen, que conta a história da primeira mulher a assumir o governo da Dinamarca. Daiane se identifica com a protagonista da série, Brigitte Nyborg. “Temos que afastar a síndrome da impostora a valorizar nossas conquistas”, diz.
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