Inflação nos EUA está disseminada e Fed vai precisar subir juros mais rápido, dizem analistas

Ainda que a inflação tenha sido puxada pela alta dos combustíveis, itens do núcleo, como serviços, também escalaram de preço

Mitchel Diniz

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O índice de preços ao consumidor dos Estados Unidos (CPI, na sigla em inglês) veio acima da média das projeções do mercado e azedou o humor dos investidores. Há motivos para isso: o CPI de junho, que avançou 1,3% na comparação com maio, é o mais elevado da série histórica. Além disso, a inflação acumulada em 12 meses, de 9,1%, é a maior em mais de 40 anos.

Os preços de energia avançaram 7,5% em junho e foram o grande vilão do indicador, depois que o preço do galão de gasolina chegou ao inédito patamar de US$ 5. Porém, mesmo o núcleo do índice, que não leva em conta preços mais voláteis como alimentos e energia, superou as estimativas dos analistas, subindo 0,7% na comparação mensal e 5,9%, na anual. Na análise da CM Capital, a inflação do núcleo foi mais modesta, porém preocupante.

“Em suma, o indicador mostra cada vez mais uma inflação semelhante entre os seus grupos e disseminada na economia, o que não é, de forma alguma, uma boa notícia”, escreveu a equipe de análise da casa.

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Alexandre Manoel, economista-chefe da AZ Quest, explica que as surpresas vieram, justamente, no núcleo da inflação. “Serviços vieram na máxima das nossas projeções, de 0,70%, e os bens 0,78%, 8 pontos base acima do que estávamos esperando”, afirma. Manoel também destaca a aceleração das médias móveis trimestrais do índice, o que sinaliza persistência da inflação inflacionária no curto prazo. De acordo com o economista, o CPI mostra a inflação não está só relacionada a pressões de choques.

“Agora a gente tem uma inflação mais espalhada e com o núcleo pressionado, principalmente pela inflação de serviços, que tende a ser uma inflação mais resistente”, complementou o economista.

Sávio Barbosa, economista-chefe da Kínitro Capital, também observa uma difusão muito elevada da inflação americana, enquanto itens mais persistentes, como aluguéis e serviços de saúde, continuam acelerando. “Esse resultado indica que a pressão inflacionária tende a se manter alta ao longo dos próximos meses”, afirma Barbosa.

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Ainda que a recente queda no preço das commodities possa moderar o ritmo do CPI cheio do próximo mês de julho, a expectativa é que o núcleo da inflação registre forte variação mensal. “Acreditamos que o total CPI deve fechar o ano perto de 7,0% (ano a ano) e o Core CPI perto de 5,5%”, conclui o economista da Kínitro.

Para Felipe Sichel, economista-chefe do banco Modal, há riscos advindos de novas pressões em combustíveis e itens de alimentação, assim como da inflação subjacente, consequência de um mercado de trabalho aquecido. “Tanto headline [do CPI] como a composição do índice são bastante negativas para a trajetória da inflação nos Estados Unidos”, afirma.

Mais trabalho para o Fed

Na visão de Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, o CPI de junho confirma que o Federal Reserve vai precisar subir os juros da economia americana em 75 pontos base na reunião dos próximos dias 26 e 27 de julho. “O mercado está bem distante da realidade ao precificar uma taxa de juros abaixo de 4% no final do ano”, afirmou. Para ele, a autoridade monetária vai precisar subir os juros mais rápido e para patamares ainda mais elevados.

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“O mercado não foi tranquilizado, pelo contrário: está mais tenso em relação à inflação, o que pode e deve impactar nas decisões futuras do Fed sobre a política monetária nos EUA”, afirma Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag.

Amanhã sai um outro indicador de inflação que será acompanhado com lupa pelo mercado: o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês). O consenso Refinitiv aponta para uma alta de 0,8% em junho na comparação com maio.

“Mesmo sem o PPI de junho ter sido divulgado, a defasagem entre a inflação ao consumidor e a inflação ao produtor segue elevada. Cabe ressaltar que os custos são integralmente repassados para o consumidor final por lá, uma vez que o alto nível de demanda, somado ao baixo nível de desemprego permite que esse movimento aconteça, diferentemente do que ocorre no Brasil”, destaca análise da CM Capital.

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Para o BofA, o CPI de junho endossa a visão do banco de que a inflação vai pesar sobre o gastos com consumo, levando a economia para uma leve recessão. “O indicador mantém o Fed em seu caminho de aperto monetário. Continuamos esperando um aumento de 75 pontos base em julho e de 50 pontos em setembro”, afirmam os analistas do BofA.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados