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Ao combinar redução de impostos com expansão de gastos sociais, a resposta do governo contra os efeitos da escalada inflacionária no bolso dos brasileiros produz distorções na dinâmica de preços com consequências socioeconômicas e monetárias.
Os economistas estão prevendo um quadro no qual as famílias mais pobres convivem com preços altos por mais tempo, os juros demoram em voltar a cair e, no fim, a inflação termina o ano que vem ainda mais alta do que se previa antes das medidas.
Embora a desoneração dos combustíveis seja eficiente em derrubar abruptamente o índice oficial de preços, a ponto de a deflação – ou seja, redução de preços – ser consenso no mercado ao IPCA deste mês, o pacote do governo gera pressão inflacionária nos demais produtos, seja por aumentar a renda disponível ou deslocar gastos, seja por elevar a percepção de risco fiscal, pressionando, assim, tanto o câmbio quanto as expectativas de inflação.
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Como consequência, enquanto os preços administrados – aqueles regulados pelo setor público, como combustíveis e energia elétrica – caminham para fechar o ano perto do zero, sendo que a deflação é uma possibilidade considerada, os preços livres, aqueles regidos pelas forças do mercado, incluindo alimentação, que tem maior peso no orçamento das famílias de baixa renda, devem mostrar inflação mais persistente e próxima do patamar dos dois dígitos.
“Os preços livres seguirão pressionados, sendo que o ônus maior deve recair sobre os brasileiros mais pobres. Os auxílios trazem, num primeiro momento, sensação de maior poder de compra, mas que num prazo de dois a três meses é consumida pela inflação”, comenta a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta.
“Para as pessoas de classe média, a tendência é que a desinflação seja mais percebida, já que o teto do ICMS causou redução significativa dos preços da gasolina [consumida por essa camada da população]”, acrescenta a economista.
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Auxílios devem ir para o consumo e pressionar preços
Com a criação e ampliação de auxílios a famílias carentes, caminhoneiros e taxistas a partir da aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dos benefícios, também conhecida como PEC das bondades, o governo injeta na economia R$ 41 bilhões que, pelas restrições financeiras do público beneficiado, devem se converter totalmente em consumo.
É de se esperar, assim, pressão sobre os preços. Entre os resultados previstos por economistas, esses recursos podem fazer com que a inflação continue alta nas regiões do País mais dependentes de programas sociais.
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A inflação dos serviços, já em aceleração e a qual o Banco Central (BC) é sensível nas decisões sobre os juros, tende também a ganhar novo impulso, não apenas pela renda adicional gerada pelo pacote, mas também pela possibilidade de a economia com os combustíveis, agora mais baratos, ser direcionada a gastos em restaurantes, salões de beleza e viagens, entre outros.
A depender de como a conta é feita e das variáveis consideradas, as estimativas de economistas variam bastante, indo de impactos marginais, praticamente desprezíveis, à eliminação de quase toda a contribuição vinda do corte de impostos estaduais, dado o teto do ICMS, e federais aplicados nas vendas de gasolina e etanol.
Há, porém, consenso na avaliação de que o pacote de bondades anula, no mínimo, os efeitos secundários – isto é, o repasse aos demais produtos – da redução do ICMS da energia, onde o imposto estadual também passou a ter um teto de 17%.
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Estrategista de inflação da Renascença DTVM, Andrea Angelo lembra que a liberação de recursos a populações com alta propensão a consumir, como a antecipação do décimo terceiro salário a aposentados e a autorização de saques de até mil reais do FGTS, ajudou a dar um fôlego aos preços que não estava nas previsões do mercado no início do ano, levando o IPCA ao pico de pouco mais de 12% em doze meses até abril.
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