Vale (VALE3) ou Gerdau (GGBR4): quem reserva mais dividendos no setor de commodities metálicas?

Mineradora deixou lista das maiores pagadoras de dividendos do mundo, enquanto Gerdau galgou degraus na preferência dos analistas

Katherine Rivas

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As produtoras de matérias-primas ganharam espaço nas recomendações dos analistas para estratégias de dividendos em 2022. Mas enquanto petroleiras, com destaque para a Petrobras, se tornaram quase unanimidades, ao oferecer os maiores retornos com dividendos do Ibovespa, as empresas dedicadas às commodities metálicas atualmente dividem o mercado. Volatilidade nos preços, fretes caros e incertezas sobre a economia chinesa colocam em xeque os resultados futuros de mineradoras e siderúrgicas.

A mineradora Vale (VALE3), por exemplo, perdeu o seu lugar ao sol entre as dez maiores pagadoras de dividendos do mundo no segundo trimestre de 2022 – ela figurava na nona posição no trimestre anterior, de acordo com o Índice Global de Dividendos da Janus Henderson. No levantamento, divulgado na semana passada, a gestora britânica destacou que os proventos das mineradoras poderiam ter atingido um pico, que antecederia uma queda nas distribuições.

Nas carteiras recomendadas de dividendos de corretoras e casas de análise, o efeito ainda é discreto. Até agosto, a Vale ainda era a ação mais recomendada por dez casas acompanhadas pelo InfoMoney – mas não mais liderando isolada, e sim dividindo o pódio com as ações do Banco do Brasil (BBAS3).

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A siderúrgica Gerdau (GGBR4), por outro lado, têm chamado atenção dos analistas, especialmente depois de divulgar o balanço do segundo trimestre de 2022. Há quem prefira as ações da Gerdau para o curto prazo, mas ainda acredite na Vale para o longo, enquanto outros já sugerem substituir de vez a segunda pela primeira no portfólio.

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Josias de Matos, analista da Toro Investimentos, ainda nutre esperanças, embora reconheça que as ações da Vale devem sofrer no curto prazo. Na visão dele, a mineradora demostrou força operacional nos últimos anos, mas está descontada dado o aumento das incertezas sobre a demanda chinesa por aço e a volatilidade nos preços do minério de ferro. A Vale, em suas contas, negocia a um múltiplo EV/EBITDA (valor da empresa sobre a geração de caixa operacional) de 2,5 vezes, bem abaixo da média histórica de 4,4 vezes.

“A Vale é uma empresa cíclica, mas robusta, e acreditamos que este cenário não mudou. Projetamos um dividend yield [taxa de retorno com dividendos] de 15% para 2022, com preço-alvo de R$ 130”, diz Matos.

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A mineradora passou a distribuir dividendos polpudos a partir de 2021. Segundo dados da Comdinheiro, foi nesse ano que o dividend yield da companhia superou 15%. Antes, nunca ultrapassava 6,5%. A política de dividendos da Vale também ganhou regularidade só mais recentemente, a partir de 2020. Segundo Enrico Cozzolino, analista da Levante Investimentos, a mineradora paga proventos duas vezes ao ano: em março, referentes aos resultados do segundo semestre do exercício anterior, e em setembro, sobre os resultados do primeiro semestre.

“A remuneração é de 30% do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado, descontado o investimento corrente”, explica. A Vale pode ainda pagar dividendos extraordinários, geralmente deliberados pelo Conselho em dezembro, embora os analistas não acreditem que isso ocorrerá em 2022.

Cozzolino também acredita que a ciclicidade do negócio não elimina os fundamentos da Vale para dividendos. Ele destaca que embora as altas (ou baixas) nos preços das commodities favoreçam (ou prejudiquem) os resultados das empresas no curto prazo, estes efeitos não devem predominar para quem monta uma carteira visando ao longo prazo. Nesse caso, diz Cozzolino, importa mais investir em empresas estruturadas e com políticas favoráveis à distribuição de proventos.

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A Vale registrou um lucro líquido de US$ 6,2 bilhões no segundo trimestre de 2022, queda de 18% frente ao mesmo período do ano anterior, e um Ebitda de US$ 5,5 bilhões, resultados abaixo do esperado pelos analistas – que, em alguns casos, chegaram a rebaixar as recomendações para a ação.

Apesar disso, enquanto o mercado acreditava que a mineradora pagaria dividendos menores, a Vale anunciou o pagamento de R$ 3,57 por ação para setembro, equivalente a um dividend yield de 5,31% no segundo trimestre, muito semelhante ao de março deste ano, de R$ 3,72 por ação e yield de 5,27%.

“A empresa demonstrou que a consistência de distribuição de proventos não é impactada pelos resultados de curto prazo. Acreditamos que no primeiro semestre de 2023 os dividendos devem se manter elevados”, diz Cozzolino.

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Os desafios, contudo, permanecem, com a recuperação tímida dos preços do minério de ferro e a desaceleração econômica não apenas da China, como dos Estados Unidos e da Europa.

Gerdau ganha destaque

Após lucrar R$ 4,3 bilhões no segundo trimestre de 2022, as ações da Gerdau entraram nas preferências do setor de siderurgia. Isso respingou nas análises de perspectivas para dividendos, embora poucos analistas vejam a empresa como uma opção para o longo prazo.

Em junho deste ano , o Bradesco BBI já tinha projetado que a Gerdau poderia pagar R$ 20 bilhões em dividendos até 2023. Mas diante das dificuldades econômicas da China, a diversificação geográfica das receitas da Gerdau melhorou ainda mais essa avaliação.

Atualmente, 35% das receitas da companhia vêm da operação na América do Norte. “Embora haja preocupações sobre uma recessão nos Estados Unidos, essa exposição será um trunfo, dadas as incertezas na Ásia”, afirma Matos, da Toro.

Para ele, o cenário de curto prazo é positivo para a empresa, com a recuperação da demanda por aço, por conta do início de obras previstas em um pacote de infraestrutura de US$ 1,2 trilhão aprovado pelo congresso dos Estados Unidos, em novembro de 2021. O pacote representou uma vitória do presidente Joe Biden e deve modernizar portos, aeroportos, estradas e linhas de trem do país, entre outros.

O analista projeta um dividend yield de 9% para Gerdau em 2022, com preço-alvo de R$ 33,60. Na sua visão, Gerdau é uma opção para o curto prazo e Vale, para o longo.

Niels Tahara, head de análise fundamentalista da Benndorf Research, prefere ter apenas Gerdau para dividendos e recomenda fazer a troca da Vale. Segundo ele, enquanto a Gerdau tem capacidade de entregar um retorno de 15% nos próximos 12 meses, o dividend yield da Vale deve recuar para 12% ou menos.

Tahara destaca os “ótimos” resultados trimestrais da Gerdau e a dívida confortável de R$ 12 bilhões. Para ele, bons dividendos estão garantidos pelo menos até 2024, quando deve ocorrer uma reversão por causa de o fim do ciclo de alta das commodities.

Por isso, sua visão é de que o investimento em Gerdau é pontual, aproveitando o cenário positivo, mas não serviria para uma estratégia de longo prazo. Ele recomenda a compra de GGBR4 com preço-alvo de R$ 40.

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Cozzolino, da Levante, gosta tanto de Gerdau quanto de Vale, e prefere estratégias complementares. Ele cita que a Gerdau possui uma política de dividendos bem definida, com um payout (parcela do lucro líquido destinada ao pagamento de proventos) de 30% do lucro líquido ajustado, no mínimo. “Desde 2018, o payout da Gerdau está acima de 33%. No segundo trimestre foi de 30%”, diz.

O analista destaca o programa de recompras de ações da Gerdau, iniciado em maio, que até o segundo trimestre teve uma conclusão de 32%.  “Ainda há margem para o crescimento de proventos por meio da diminuição do free float (ações em livre circulação)”.

O que diz o histórico de distribuições de VALE3 e GGBR4

Considerando o histórico de dividendos das empresas de commodities metálicas, Fábio Sobreira, analista CNPI-P da Ivest Consultoria de Investimentos, avalia que Vale e Gerdau estão entregando atualmente um retorno em dividendos “exagerado”, por estar muito acima das médias dos últimos anos.

Ele explica que o chamado “poder de lucro” destas empresas – a capacidade de pagar dividendos se a empresa distribuir 100% do seu lucro – seria de 38,84% para Gerdau e 31,03% para Vale atualmente. À primeira vista os números apontam que ambas as companhias seriam potenciais grandes distribuidoras de dividendos nos próximos 12 meses, destaca ele.

Contudo, a realidade seria outra se observada a média das distribuições dos últimos dez anos, corrigidas pela inflação e ajustadas pelo crescimento médio real do setor, de 12%, além dos preços atuais dos papéis.

Nesse caso, o “poder de lucro” cairia para 10,77% no caso da Gerdau e 8,89% para Vale. Considerando que as companhias não distribuem todo o seu lucro aos acionistas, e sim uma média de 50%, um dividend yield mais realista para os próximos 12 meses seria de 5,38% para a Gerdau e 4,45% para Vale, estima Sobreira.

É um contraste em relação ao retorno com dividendos destas empresas nos últimos 12 meses, até o dia 24 de agosto, que foi de de 14,12% para Gerdau e de 22,61% para Vale.

Para Sobreira as ações destas companhias podem estar descontadas justamente por este motivo. “O mercado pune incertezas, e talvez por causa disso os bons números que são apresentados atualmente podem ser meras ilusões”, afirma.

Observando os números das outras empresas do setor nos últimos dez anos, apenas a CSN (CSNA3) teria capacidade de oferecer um dividend yield de 12% nos próximos 12 meses, na avaliação de Sobreira, dado o seu histórico consistente. Mas na visão de outros analistas, nem CSN e nem Usiminas são adequadas para estratégias de dividendos no momento. CSN Mineração (CMIN3), para eles, também poderia pagar bons proventos no curto e médio prazo, mas há incertezas, como a dependência da China e a ausência de uma política de distribuição bem definida.

Ação Poder de lucro Atual Poder de lucro em 2023* DY projetado 12 meses** DY Atual
CSN Mineração (CMIN3) 14,21% 7,20% 3,60% 13,96%
CSN (CSNA3) 16,11% 24,00% 12,00% 5,52%
Gerdau (GGBR4) 38,84% 10,77% 5,38% 14,12%
Usiminas (USIM5) 52,92% 10,75% 5,38% 20,64%
Vale (VALE3) 31,03% 8,89% 4,45% 22,61%

Fonte: levantamento Fábio Sobreira, Ivest Consultoria

Poder de lucro: capacidade de uma empresa pagar dividendos se distribuir 100% do seu lucro 

* Poder de lucro 2023: considera a média das distribuições dos últimos 10 anos, corrigidos pela inflação e ajustados pelo crescimento médio real do setor de 12%

DY atual: de 24 de agosto de 2021 até 24 de agosto de 2022

**DY projetado 12 meses: considera a média das distribuições nos últimos dez anos e o poder de lucro 2023

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.