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É bem provável que Bradley Hendricks, Travis Howell e o professor Christopher Bigham nem saibam disso, mas um estudo conduzido pelo trio e publicado na Harvard Business Review no ano passado mostrou a Guilherme Benchimol, fundador da XP, que ele tomou a decisão certa há pouco mais de um ano, quando decidiu abrir mão do cargo de CEO da XP Inc. e passou a bastão a Thiago Maffra.
De forma resumida, o estudo com 2 mil companhias de capital aberto indica que, em geral, a presença de um fundador como CEO de uma empresa eleva em cerca de 10% seu valor no momento da abertura de capital (IPO, na sigla em inglês). Mas isso muda rapidamente na sequência. Três anos depois do IPO, esse “prêmio” cai a zero e, a partir daí, a presença do fundador na cadeira de CEO passa a ser uma desvantagem, com perda de valor da companhia.
“Li o estudo e guardei. Adoro fatos e dados. E talvez o maior mérito que eu tenha tido na empresa nesses anos todos tenha sido a capacidade de mudar as pessoas, de não ter medo de fazer mudança”, explicou Benchimol a Martin Escobari, co-presidente da gestora de private equity General Atlantic no podcast “Breakthrough Labs”, disponível desde ontem nas plataformas de podcast.
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Segundo Benchimol, depois da listagem da XP na bolsa americana Nasdaq, em dezembro de 2019, sua agenda ficou bem mais complicada. “Passei a ter uma agenda muito intensa com investidores, a ser muito demandado em agendas comerciais e essas coisas eram difíceis de serem delegadas. No Brasil, a gente fala que o pato é um bicho que anda, nada e voa, mas não faz nada direito. Eu estava me sentindo um pouco um pato, não conseguia me concentrar naquilo que achava importante.”
A decisão de passar o bastão para Thiago Maffra, atual CEO da XP, foi anunciada em março do ano passado e sacramentada dois meses depois. A Escobari, Benchimol disse que Maffra, então responsável pelo time de tecnologia da XP, já tinha uma liderança natural e era mais detalhista e organizado do que ele. “O fundador fala muito com o estômago, é mais passional. Isso é bom e ruim. Às vezes, a paixão é exagerada”, admitiu Benchimol, que ficou 20 anos no cargo de CEO.
Hoje presidente do conselho de administração da XP, Benchimol diz que ele e Maffra se complementam. “O Thiago se preocupa com os próximos três anos, e eu olho a partir do terceiro até o décimo”, diz. “Todo fundador e CEO que está há muito tempo no cargo deveria fazer uma transição similar. Quando você está há muito tempo nesta posição, percebe que outras pessoas fariam melhor. E também percebe que poderia aproveitar o tempo disponível para fazer coisas ainda mais incríveis pela empresa.”
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No podcast de 40 minutos, Guilherme Benchimol criticou a concentração bancária, reforçando que hoje 90% dos serviços financeiros estão concentrados em cinco bancos, explicou como a General Atlantic ajudou na evolução da XP, contou o início da XP e de sua vida como empreendedor (empreendedorismo é hoje sua grande bandeira), explicou o conceito de meritocracia na XP e revelou que se pudesse jantar com uma pessoa hoje, escolheria sentar à mesa com Ayrton Senna, piloto de Fórmula 1 morto em 1994.
A General Atlantic é acionista da XP desde 2012 – e Martin Escobari na época já era o sócio da GA que participava do conselho da XP. A gestora chegou a ter 49% do capital da instituição, reduziu sua participação na abertura de capital e em vendas subsequentes e recentemente anunciou que voltou a comprar ações, elevando sua participação a 5,7% do capital.
O podcast “Breaktrough Labs” está disponível no Spotify. O estudo que relaciona o papel dos CEOs e o valor das empresas pode ser obtido neste link e o texto publicado na Harvard Business Review está disponível aqui.