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Mesmo com ganhos de até 20,63% entre janeiro e setembro deste ano, os fundos multimercados acumulam saídas líquidas – diferença entre as aplicações e os resgates – de R$ 79,7 bilhões nos últimos nove meses.
Apenas em setembro, as captações nos multimercados estão negativas em R$ 10,5 bilhões, o que representa uma piora em relação aos R$ 4,0 bilhões positivos registrados um mês antes.
Os dados fazem parte de levantamento divulgado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
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O movimento chama atenção, especialmente porque algumas classes de multimercados apresentam retornos de dois dígitos ao longo deste ano, caso dos fundos do tipo “long and short” neutro (que investem em pares de ativos com perspectivas opostas de desempenho) e do tipo macro (que investem em várias classes de ativos, como Bolsa, dólar, juros), com ganhos de 20,63% e de 15,65%, respectivamente.
A situação também é complicada para fundos de ações. Somente no mês passado, as perdas líquidas chegaram a R$ 3,9 bilhões. Ao longo de 2022, as retiradas líquidas alcançaram R$ 57,9 bilhões. Mesmo em meio a fortes perdas, alguns produtos de ações apresentam retornos superiores a 20% no acumulado do ano.
Como exemplo, há os fundos do tipo mono ação (que aplicam em um único papel) e os fundos do tipo FMP-FGTS, ou seja, produtos que investem em ações de empresas estatais em processo de desestatização ou capitalização cujos aportes são feitos a partir de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). No primeiro caso, a rentabilidade no ano chegou a 22,91%, enquanto o outro produto ofereceu 20,07% de retorno.
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Na avaliação de analistas do Bradesco, os montantes altos de resgate nos fundos de ações e multimercados indicam que o apetite ao risco dos investidores brasileiros segue baixo. “Na nossa visão, nós só veremos uma reversão mais significativa dessa tendência [de saques] depois que a percepção de risco das eleições passar e nós começarmos a ter maior visibilidade do potencial da manutenção e do declínio da taxa de juros”, afirmaram os especialistas em relatório.
Fundos de índice (ETFs) também acumulam mais saídas do que depósitos ao longo deste ano. Segundo a Anbima, os resgates líquidos nesse tipo de produto alcançaram os R$ 2,4 bilhões em 2022. Apenas em setembro, as perdas líquidas somaram R$ 562,1 milhões e foram concentradas em produtos de renda variável, já que ETFs de renda fixa terminaram o mês com captação positiva de R$ 155,0 milhões, enquanto opções de maior risco tiveram saídas líquidas de R$ 717,1 milhões.
Ao olhar para a indústria como um todo, os fundos de investimento também apresentaram mais resgates do que entradas neste ano, ao acumular perdas líquidas de R$ 17,1 bilhões, montante que foi o menor dos últimos cinco anos, segundo a Anbima.
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Captações no campo positivo
Enquanto os fundos multimercados lideraram as captações negativas em setembro, os fundos de renda fixa seguiram sendo os mais beneficiados pela disparada da Selic neste ano, com depósitos líquidos de R$ 94,7 bilhões. Em setembro, no entanto, houve mais resgates do que entradas, o que fez com que o resultado fosse uma retirada líquida de R$ 12,2 bilhões.
Ainda que a Selic tenha subido, as captações de fundos de renda fixa perderam ritmo em relação ao mesmo período do ano passado. De janeiro a setembro de 2021, por exemplo, as entradas líquidas em fundos do tipo alcançaram R$ 239,1 bilhões.
Em um cenário de Selic elevada por mais tempo, a explicação para a redução de entrada de recursos em fundos de renda fixa na comparação com o ano passado pode estar na maior concorrência.
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Segundo a Anbima, produtos isentos de Imposto de Renda para pessoa física como Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e Imobiliário (LCIs) ganharam atratividade e passaram a concorrer com os fundos, o que pode ter pesado negativamente sobre os produtos.
Fundos de investimento em participações (FIP) apareceram na sequência entre as opções com maior captação positiva ao longo deste ano, no valor de R$ 13,2 bilhões. Em setembro, os depósitos líquidos em produtos do tipo somaram R$ 740,8 milhões.
Fundos de previdência também seguiram entre os destaques de captação, com entradas líquidas de R$ 10,4 bilhões no acumulado de 2022 e de R$ 2,5 bilhões em setembro. Fundos com foco em renda fixa e em multimercados ficaram entre as classes com maiores aportes líquidos no mês passado.
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Na sequência apareceram fundos de investimento em direito creditório (FIDCs), com captações líquidas de R$ 4,3 bilhões e de R$ 1,6 bilhão em setembro.
Fundos cambiais, por sua vez, ficaram em último lugar entre os produtos com maior entrada líquida em 2022, no valor de R$ 327,7 milhões. Em setembro, porém, tais fundos acumularam saídas líquidas de R$ 618,3 milhões.