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Com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais do último domingo (30), a agitação em torno da transição de poder pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e as incertezas sobre a política econômica do próximo governo, investidores mais preocupados com uma possível deterioração dos ativos locais voltaram a buscar investimentos no exterior.
Embora a alocação em produtos internacionais seja sempre recomendada com foco em diversificar as carteiras, profissionais ouvidos pelo InfoMoney apontam que os riscos no exterior são significativos neste momento, com a elevação de juros nos Estados Unidos pelo Fed (Federal Reserve, banco central americano) e na Europa pelo Banco Central Europeu (BCE), além da instabilidade intensificada pela guerra entre Rússia e Ucrânia.
Nesse sentido, a avaliação dos especialistas é de que o melhor é aguardar uma sinalização mais clara de qual será o novo ministro da Economia e da política econômica que o governo deverá adotar, especialmente no que diz respeito à responsabilidade fiscal, antes de aumentar a alocação no exterior.
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Rodrigo Sgavioli, head de alocação e fundos da XP, conta que hoje a exposição ao mercado internacional nas carteiras recomendadas pela casa está na mínima histórica, e que o foco agora tem sido aumentar a posição em ativos locais, como renda fixa e renda variável.
Em relatório divulgado nesta semana pela XP, Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig calculam que a Bolsa brasileira está atrativa ao negociar com o múltiplo de Preço/Lucro (PL) de 7,1 vezes, o que representa um desconto de 37% em relação à média histórica.
Além disso, os três afirmam que a perspectiva é de que a Selic permaneça em 13,75% ao ano até meados de 2023 e caia para 10% até o fim do ano que vem, ao mesmo tempo em que a trajetória das taxas globais é bastante incerta e o mercado acionário externo deve ser penalizado pelas restrições das condições financeiras.
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“As bolsas lá fora ainda não precificam uma recessão mais dura. Se esse cenário acabar ocorrendo, ainda haveria muito espaço para realização [venda de ações pelos investidores e consequente queda nos preços]”, observa Sgavioli. Segundo ele, a XP está com uma visão entre negativa e neutra para a maior parte das regiões.
Outra instituição que está mais cautelosa com o cenário internacional é a BGC Liquidez. Erminio Lucci, CEO da BCG, cita o risco geopolítico, aliado a uma inflação elevada nos países desenvolvidos e a chance alta de recessão nos Estados Unidos e na Europa como fatores que precisam ser monitorados de perto pelo mercado.
Já a Rico Investimentos chama atenção para a turbulência envolvendo um pacote econômico polêmico que abalou os mercados de dívida e de juros no Reino Unido em outubro e que não deve ver um desfecho tão cedo. Na semana passada, Jeremy Hunt, ministro das Finanças do País, adiou o anúncio de um plano para reparar as finanças públicas para 17 de novembro.
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Nos Estados Unidos, a situação não é muito diferente. Na avaliação dos analistas da Rico Investimentos, a alta de juros e o consequente freio na economia ajudaram a pressionar o desempenho das ações americanas, com destaque para as big techs, como Apple (AAPL34), Amazon (AMZO34), Google (GOGL34) e Meta (M1TA34).
“Caso essa temporada siga decepcionando investidores, podemos ver uma revisão na expectativa de lucro da Bolsa americana, abrindo mais espaço para quedas nos preços das ações”, avaliam os especialistas da casa.
Da mesma forma, os profissionais da corretora sugerem cautela ao alocar na renda fixa internacional. Em sua justificativa, por um lado, eles citam que essa classe de ativos tem sido afetada negativamente com o recuo nos preços dos papéis em decorrência do aumento das taxas.
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Por outro lado, eles destacam que a maior parte das empresas está mais saudável para enfrentar uma possível crise e que os níveis de inadimplência estão longe de patamares preocupantes. Nesse sentido, a Rico avalia que há oportunidades, mas que é preciso ter calma.
O que priorizar no exterior?
Sgavioli, da XP, concorda e acredita que se o investidor quiser ter uma parte da alocação no exterior, a melhor dica é começar aos poucos. “O ideal é que o investidor dê um tempo para entender qual será o time que o governo Lula vai montar, que postura ele vai ter em relação ao Congresso, e se há chance de uma guinada para um lado menos responsável”, afirma.
Para investidores com objetivo mais conservador, a sugestão do profissional é optar por fundos de renda fixa ou por bonds (títulos) de empresas brasileiras e internacionais. “Para a pessoa que acredita que o juro ainda pode abrir [subir] lá fora, pode ir colocando bem aos poucos”, avalia.
Na hora de escolher os bonds, o profissional da XP conta que a preferência deve ser por papéis focados em setores mais resilientes como energia, commodities de energia e utilidades. Já ao selecionar o fundo de renda fixa, a recomendação do especialista é buscar opções com hedge (proteção) cambial, ou seja, em que o investidor não está exposto à variação do câmbio.
“Se for sem hedge cambial, vira um fundo cambial e a pessoa não se beneficia tanto da valorização ou não dos ativos”, afirma Sgavioli.
A Rico Investimentos também prefere opções de renda fixa com hedge cambial. Já no quesito renda variável, a sugestão são fundos de renda variável internacional com ou sem hedge.
Sgavioli, por sua vez, defende ainda fundos multimercados globais, que conseguem montar posições em juros, Bolsa e moedas, ao mesmo tempo, por exemplo.