Vulcabras (VULC3) e SBF (SBFG3), dona da Centauro, fecham em forte alta após balanços: confira a visão dos analistas para as ações

Vulcabras apresentou resultados fortes; já SBF não agradou com números impactados por mudança em sistema, mas expectativa é positiva

Lara Rizério

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Duas companhias do setor de consumo e varejo divulgaram seus números do terceiro trimestre de 2022 (3T22) na noite da última terça-feira (3), com repercussões positivas no mercado, em linha com o desempenho de empresas varejistas no geral.

A ação da Vulcabras (VULC3) – dona das marcas Mizuno, Olympikus e Under Armour – fechou com alta de 5,23%, a R$ 15,08, com números considerados positivos pelos analistas. Já a SBF (SBFG3), dona da Centauro, avançou 7,62%, a R$ 20,35, mesmo com os resultados fracos, mas com a impressão de que o pior já pode ter passado para a companhia.

“A Vulcabras reportou um resultado sólido no 3T22 e acima de nossas expectativas”, apontou a Eleven, ressaltando que o volume comercializado totalizou 8,3 milhões de unidades (alta de 10,3% no ano). Destaque positivo para confecções e acessórios, que apresentaram um crescimento de 20% no ano devido ao forte crescimento de Under Armour e Mizuno, chegando a representar 21,3% do volume total, mas também com uma boa performance de outros calçados (alta de 19,6% no ano) e calçados esportivos (avanço de 5,4%).

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Com isso, a receita líquida foi de R$ 663,5 milhões (alta de 23,8% na base anual), com crescimento expressivo em todas as categorias, resultado de um bom desempenho de vendas ao longo do trimestre e de um ticket médio maior na comparação anual, demonstrando a capacidade de repasse de preços da companhia, ressaltaram os analistas.

“Mesmo diante de uma alta nos custos devido aos impactos da inflação e maiores preços de matéria prima, a VULC3 novamente apresentou uma expansão satisfatória de rentabilidade, com sua margem bruta aumentando 1,6 ponto percentual no ano, resultado do maior volume produzido, além da captura de sinergias na produção das marcas da companhia”, avaliam.

No operacional, o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) recorrente apresentou um crescimento de 31,1% no ano e 5,7% acima das projeções da Eleven, com ganho de 2,4 pontos percentuais de margem devido a uma maior diluição de despesas gerais e administrativas. Por fim, a queda no resultado financeiro foi mais do que compensada pelo forte crescimento na receita e otimização da estrutura, resultando num lucro líquido recorrente de R$ 99,9 milhões (alta de 35,7% no ano), com margem de 15,1% (+1,4 ponto percentual ano a ano).

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O Bradesco BBI reforça a avaliação de que a Vulcabras apresentou mais um forte resultado neste trimestre com receita acima do esperado, impulsionada pelo desempenho superior das categorias Vestuário e “Outros” (chinelos, botas e sapatos femininos).

O calçado desportivo também registrou um crescimento de volume (+5%), suportado pela marca Mizuno. As margens
aumentaram pelo sétimo trimestre consecutivo, mostrando a consistência do processo produtivo da Mizuno e a recepção positiva que as iniciativas da empresa em mercados de maior margem tiveram (por exemplo, produtos Olympikus na categoria corrida de alta performance e campanhas de marketing da Under Armour no basquete).

Ainda, em fato relevante, a companhia comunicou a celebração de um contrato de dois anos de licenciamento da marca Melissa com a Grendene (GRND3), com início dia 01 de novembro de 2022 e válido até 30 de outubro de 2024, podendo ser renovado por período adicional. Dessa forma, a Vulcabras passa a ser responsável pela produção e comercialização de calçados esportivos da marca Melissa para o Brasil e outros países, enquanto a Grendene receberá mensalmente um percentual da receita operacional líquida como pagamento de royalties.

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A Vulcabras ainda pagará juros sobre capital próprio no valor de R$ 90,9 milhões, equivalente a R$ 0,37 por ação. Terão direito ao benefício os acionistas que tiverem ações até o dia 10 de novembro, com o pagamento efetuado dia 22 e as ações passam a ser negociadas ex-dividendos a partir do dia 11.

“Com a consistência de bons resultados a cada trimestre, enxergamos a Vulcabras em um novo patamar de crescimento e rentabilidade, apresentando números extremamente satisfatórios principalmente quando levamos em conta o cenário macroeconômico adverso para o varejo brasileiro. Com o foco voltado para os calçados esportivos, a companhia tem conseguido aumentar seu retorno sobre capital, com um ROIC de 25,8% no 3T22 vs 18,3% em 2019. Dito isso, reforçamos nossa recomendação de compra com preço-alvo de R$ 18,00 para o final de 2023”, apontam os analistas da Eleven.

Já o BBI manteve recomendação neutra e elevou o preço-alvo para 2023 de R$ 15 para R$ 16, com base em estimativas mais altas. Na área de Vestuário e Calçados, os analistas apontaram preferirem Lojas Renner (LREN3), onde veem mais potencial de valorização (+31% versus +12% de Vulcabras) e valuation atrativo.

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SBF: o pior já passou?

Já o Grupo SBF, antiga Centauro, trouxe números mais fracos, impactados pela migração de sistemas, conforme ressalta a Levante Ideias de Investimento.

Uma das maiores varejistas brasileiras de artigos esportivos teve números baixo das estimativas nas principais linhas, com o resultado do trimestre tendo sido bastante impactado pela conclusão da migração da plataforma on-line da Fisia para
a plataforma proprietária do Grupo e pela migração do sistema ERP da Centauro para uma nova versão.

A receita líquida consolidada da empresa recuou 1,4% versus 3T21, totalizando R$ 1,47 bilhão no trimestre. Analisando por unidade de negócio, houve um crescimento de 11% na receita líquida da Centauro, que foi impulsionado pelas 9 lojas inauguradas nos últimos 12 meses. Já a Fisia (responsável pelas operações da Nike no Brasil) registrou queda de 12,8% em sua receita líquida em relação ao mesmo período do ano passado. No trimestre, 31,3% das vendas da companhia vieram dos canais on-line, o que representa um avanço de 9,3 pontos percentuais (p.p.) em comparação com o 3T21.

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Segundo relatado pela companhia, após a implantação de um novo sistema, é necessário um período de adaptação até que novas notas fiscais passem a ser emitidas, intervalo que durou 2 semanas, impactando o faturamento do Grupo tanto nas lojas quanto na plataforma digital. Durante esse tempo, a reposição de produtos nas lojas ficou suspensa e o prazo de entrega ficou maior que o normal na plataforma digital, afetando a conversão de vendas. Com isso, a empresa estima um impacto negativo de R$ 40 milhões no trimestre para a Centauro.

“Esses impactos tiveram um peso relevante nos números reportados do trimestre, entretanto, visto que constituem um efeito não-recorrente e que as migrações foram praticamente estabilizadas neste 3T22, a companhia destacou que espera um faturamento e margens bem maiores no 4T22”, ressalta a Levante.

Os analistas apontam que as principais alavancas de progresso da empresa são o crescimento das vendas DTC (direct to
consumer), que possuem margem duas vezes maior do que a do Atacado, e a abertura de novas lojas. Conforme observamos nos últimos trimestres, o DTC vem apresentando um avanço expressivo. No 3T22, 55% das vendas da Fisia vieram do DTC versus 34% no 3T21, mostrando crescimento de participação na receita. A organização inaugurou as 2 primeiras lojas Nike Direct Inline Store, as quais têm como foco o público feminino e a categoria Lifestyle, que são públicos não muito bem atendidos pela Centauro. Além disso, os investimentos em tecnologia já vêm dando resultados e se justificam com o crescimento robusto das vendas nos canais digitais da companhia.

O BBI também destacou ver os resultados do Grupo SBF no 3T22 como modestos, dada a contração da receita líquida e da margem, embora acreditem  que eles terão vida curta à medida que as migrações de ERP e plataforma forem concluídas.

“Do lado positivo, a expansão da margem bruta da Fisia finalmente mostrou acréscimo de um mix de vendas diretas ao consumidor mais alto, após ser compensado por um cenário de câmbio mais desafiador nos últimos trimestres. A abertura de novas lojas da Nike também é um avanço estratégico positivo e pode ser um vetor importante para liberar valor no futuro”, apontam os analistas.

Os analistas reconhecem que dois trimestres decepcionantes consecutivos não são um bom presságio para o desempenho de curto prazo do Grupo SBF, mas consideram positivas as indicações de que a lucratividade pode se recuperar para níveis mais saudáveis no 4T22, enquanto os pilares para aceleração de resultados nos próximos anos permanecem sólidos na visão dos analistas.

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“Assim, mantemos nossa recomendação de compra e preço-alvo para 2023 de R$ 32,00 enquanto revisamos nossas estimativas para cima (Ebitda +8 a +11% e lucro líquido +8 a +16%) dada a evolução positiva das margens. Vemos o valuation como atraente”, aponta o BBI.

Apesar do resultado fraco, a Eleven também ressalta ter visão de longo prazo construtiva para a SBFG3, com a companhia desenvolvendo seu ecossistema de esportes, mostrando uma boa execução do seu plano de expansão e uma excelente gestão estratégica quanto às avenidas de crescimento da FISIA. “Por isso, mantemos nossa recomendação de compra com preço alvo de R$ 32,00 para 2023”, ressalta a casa de análise.

Cabe destacar ainda que o Goldman Sachs destacou no início da semana a SBF como uma das apostas para as ações de consumo no curto prazo, ainda que a companhia tivesse que enfrentar um terceiro trimestre desafiador. Para os analistas, uma demanda adicional por produtos relacionados à Copa podem contribuir ainda para um bom desempenho das ações do grupo.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.