Tesouro Direto: após duas suspensões, títulos prefixados voltam a negociar com taxa de até 13,32% ao ano

A sexta-feira (11) fecha uma semana repleta de “emoção” nos mercado de títulos. A exemplo de quinta-feira (10), as negociações de títulos públicos do Tesouro Direto foram interrompidas duas vezes hoje, em razão da forte volatilidade de preços e taxas.

Quando isso acontece, o Tesouro suspende temporariamente as vendas e compras para evitar que o investidor feche temporariamente as transações a um preço que possa ficar rapidamente defasado.

Ontem, declarações do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sugerindo menos rigor fiscal do que o esperado, detonaram um clima de pânico entre os agentes financeiros. Os juros subiram nos mercados e refletiram na remuneração dos títulos públicos no Tesouro Direto. As taxas subiram — só amainaram no fim do dia, numa atualização tardia dos preços feita às 18h.

Hoje, as taxas abriram novamente subindo, disparando o mecanismo de suspensão logo pela manhã. Na reabertura, a alta havia suavizaram, mas foram suspensas novamente perto das 15h. Na última atualização, das 15h20, elas ainda estavam acima das de quinta-feira, mas avançavam em um ritmo menor.

A desaceleração veio após declaração dada por Wellington Dias (PT-PI) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que confirmaram que o anúncio do texto da PEC de Transição deverá ser adiado para depois do feriado, na quinta-feira (17). “Agora não é o momento, a PEC não está madura o suficiente”, disse Rodrigues, segundo a CNN Brasil.

Já a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, uma das integrantes da comissão de transição do governo eleito, falou sobre a declaração de ontem de Lula, que havia dito que estabilidade fiscal não pode ser conquistada à custa do sofrimento das pessoas. “O  mercado não precisa se preocupar com Lula, porque sabe como ele trabalha com as finanças públicas”, afirmou.

Se o objetivo era acalmar o mercado, a declaração da presidente do PT não obteve sucesso, de acordo com Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed. Para ele, Gleisi tentou justificar as palavras de Lula, mas o mercado não achou na fala algo que fizesse sentido.

“O mercado continua pressionado hoje, mas com uma magnitude menor do que o visto na véspera. Não sabemos qual será a atuação do Banco Central com relação a uma possível crise fiscal e risco inflacionário daqui para frente. As interrogações são muitas. Há dúvidas com relação ao que e como vai ser aprovado. Isso justifica a volatilidade de hoje”, detalha o especialista.

A repercussão da turbulência pode ser verificada também em um relatório do Citi, divulgado hoje. A instituição cortou a exposição a riscos do Brasil e analisa que mercado pode ter se enganado em relação ao presidente eleito. O comentário veio depois que os ativos brasileiros despencaram nesta quinta-feira, penalizados por temores de descontrole fiscal durante o governo petista.

Na atualização das 15h20, as taxas oferecidas pelos títulos públicos no Tesouro Direto tinham alta de até 35 pontos-base (0,35 ponto percentual), abaixo da subida registrada no começo do dia, quando os juros subiram até 67 pontos-base (0,67 ponto percentual).

Os papéis prefixados, por exemplo, ofereciam juros a partir de 13,24% ao ano. Tal retorno era entregue pelo Tesouro Prefixado 2033. Na véspera, a taxa era de 12,89%.

Entre os papéis atrelados à inflação, o maior retorno era de 6,12%, entregue pelo Tesouro IPCA+2032 e Tesouro IPCA+2045, com juros semestrais, no mesmo horário. O percentual está menor do que os 6,15% vistos no Tesouro IPCA+2032 e 6,19% entregues pelo Tesouro IPCA+2045 na véspera.

As negociações do Tesouro IPCA+ 2055 estão suspensas desde a última quarta-feira (9). A interrupção é fruto do pagamento do cupom semestral, previsto para a próxima quarta-feira (16).

O Tesouro Direto costuma proibir a compra do título quatro dias úteis antes do pagamento de cupom de juros. Além disso, também ficará suspensa, a partir dos dois dias úteis anteriores ao pagamento do cupom, a recompra desses títulos.

Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra na volta dos negócios no Tesouro Direto na tarde desta sexta-feira (11):

Lula comenta abalo do mercado

Após reação negativa de investidores ao seu discurso pela manhã, o presidente eleito Lula disse ontem (10) que não há razão para o mercado “ficar nervoso” e que não viu comportamento semelhante ao longo dos quatro anos de governo Jair Bolsonaro (PL).

“O mercado fica nervoso à toa, nunca vi um mercado tão sensível quanto o nosso. Engraçado que esse mercado não ficou nervoso com quatro anos do Bolsonaro”, disse a jornalistas ao deixar as instalações do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília. O Ibovespa encerrou ontem em queda de 3,35%, a 109.775 pontos.

China

Já na cena externa, os mercados asiáticos fecharam em alta, com destaque para Hang Seng, de Hong Kong, que subiu mais de 7%, com a mídia estatal chinesa informando que medidas de Covid para viagens serão facilitadas.

A flexibilização da política Covid Zero na China foi tratada pelos líderes chineses, que pediram às autoridades do País que tenham uma abordagem mais direcionada. Pequim cortou para cinco dias o tempo necessário de quarentena para viajantes e contatos próximos.