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Na noite da véspera, o Nubank (NYSE:NU; B3:NUBR33) informou que o seu fundador e presidente-executivo, David Vélez, decidiu encerrar um acordo que lhe dava direito a uma possível remuneração extra milionária em ações no futuro, gerando um efeito contábil positivo para o banco digital.
A remuneração adicional esteve no centro de uma polêmica que atingiu o Nubank em abril deste ano, quando o banco informou ao mercado previsão de pagamento total de até R$ 816 milhões aos diretores e conselheiros em 2022, gerando discussões nas redes sociais. Mais de 80% do valor era referente a efeitos contábeis do acordo de Vélez.
A decisão de Vélez também ocorre após queda no valor das ações do Nubank ante o IPO. A remuneração era baseada na performance das ações do banco em bolsa.
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O prêmio de incentivo de longo-prazo chamado Contingent Share Award (CSA) foi estabelecido em 2021, antes de uma oferta pública inicial de ações (IPO) do Nubank em Nova York. Segundo seus termos, Vélez ganharia 1% do total de ações caso os papéis Classe A do banco ficassem, em média, a US$ 18,69 na bolsa por 60 dias consecutivos, e teria direito a mais 1% caso o mesmo ocorresse a US$ 35,30.
Acontece que as ações do Nubank, que saíram a US$ 9 dólares cada no IPO e chegaram a US$ 12,24 na estreia, fecharam na última terça-feira a US$ 4,26. Ou seja, teriam que subir em mais de quatro e oito vezes, respectivamente, para a ativação do pagamento.
O Nubank estimou o valor justo da remuneração em US$ 423 milhões, um cálculo que, entre outras especificidades, tem como base números da época do acordo. Na prática, o valor recebido por Vélez seria maior, já que implicaria uma avaliação mais alta da empresa.
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A fintech disse que a economia contábil esperada entre novembro de 2022 a 2029 será de US$ 356 milhões, à medida que o banco não precisará mais reconhecer o efeito contínuo da potencial concessão futura da remuneração.
No entanto, o quarto trimestre de 2022 será impactado negativamente, com um reconhecimento único e não monetário de despesas no mesmo valor, afirmou a empresa, já que diretrizes contábeis exigem que a rescisão seja registrada como uma compra acelerada, mesmo que não haja aquisição ou desembolso real, segundo o Nubank.
A desistência da remuneração também evitará potencial diluição dos outros acionistas, em até 2% do total de ações ordinárias, disse o Nubank.
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O Nubank, que tinha 70 milhões de clientes em setembro entre Brasil, México e Colômbia, fechou o terceiro trimestre com lucro líquido ajustado de US$ 63,1 milhões, acima das estimativas de analistas. A ação ainda está longe dos US$ 9 do IPO, mas se recuperou frente ao valor mínimo de US$ 3,30, em junho.
Na avaliação do Itaú BBA, a notícia é positiva para os acionistas porque reduzirá as despesas em US$ 356 milhões até 2029 (US$ 70 milhões em 2023), o que aumenta em 15% a previsão dos analistas do banco de lucro líquido de US$ 485 milhões para 2023.
“Todos os esforços contam para o objetivo mais amplo de melhorar a eficiência. A não diluição também envia uma mensagem positiva a todos os acionistas, incluindo executivos, de que Vélez pratica o pensamento de parceria. Ele receberá basicamente um salário fixo até o final de 2023, quando os termos serão novamente discutidos”, avaliam os analistas.
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A equipe de análise do BBA aponta não gostar da configuração de incentivos baseados no preço das ações, como esse do qual Vélez abriu mão, apontando que muitas forças motrizes dos ciclos econômicos e dos preços das ações não dependem da execução da gestão.
“Não se espera que a mudança anunciada gere benefícios fiscais para Vélez ou para a empresa. O CEO mantém uma participação importante na empresa (US$ 4,2 bilhões atualmente) e esperamos que ele continue totalmente envolvido no negócio. Em suma, vemos isso como um gesto positivo que provavelmente será bem-vindo pelo mercado”, concluem os analistas.
O Bradesco BBI também lembra que as condições macro mudaram significativamente desde o IPO do banco, especialmente em termos de dinâmica de crédito, e a atitude de Vélez voltada para melhorar a eficiência parece correta.
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“No entanto, também é um sinal significativo de que a lucratividade acima da média inicialmente esperada pela administração está em risco. Em nossa opinião, embora vejamos isso [a notícia] como positivo para as despesas operacionais, temos preocupações sobre como o negócio bancário principal está evoluindo, especialmente para crescimento de empréstimos, spreads e qualidade de ativos. Além disso, esta decisão traz questionamentos sobre a evolução dos investimentos em novas geografias (isto é, México e Colômbia), pois tais iniciativas exigem maiores custos operacionais e investimentos em capital em um primeiro momento, até atingirem o ponto de equilíbrio. Em suma, reconhecemos os esforços na frente de eficiência, mas estamos nos questionando se isso pode ser um alerta de lucro”, avalia o banco.
O Goldman Sachs, por sua vez, destaca que a empresa realizou uma teleconferência com analistas após o comunicado, esclarecendo que o anúncio visa promover economia de custos e transferir valor aos acionistas. Além disso, a empresa mencionou que o cenário macro é hoje mais desafiador do que na época da criação do programa, mas continua empenhada em melhorar a rentabilidade.
“Embora o anúncio não fosse esperado, ele elimina a potencial diluição de 2% e Vélez ainda possui mais de 20% da empresa. Acreditamos que a empresa continua executando e gerenciando os riscos adequadamente, estando bem posicionada para continuar a monetizar sua base de clientes”, aponta.
O Goldman tem recomendação de compra para os ativos NU negociados na Bolsa de Nova York, com preço-alvo de US$ 11, ou potencial de valorização de 158% em relação ao fechamento da véspera. Itaú BBA e Bradesco BBI, por sua vez, têm maior ceticismo com os ativos, mantendo recomendação equivalente à venda para os papéis: BBI tem preço-alvo de US$ 3,30, ou um valor 23% menor frente o fechamento da véspera, enquanto BBA tem preço-alvo de US$ 3,50 (ou um valor 17,6% menor).
(com Reuters)