Quais são as possíveis surpresas e as apostas improváveis para o mercado em 2023? Standard Chartered e Saxo Bank traçam projeções

Standard estabeleceu série de cenários que têm uma “probabilidade diferente de zero” de ocorrer, enquanto Saxo trouxe "projeções improváveis" para o ano

Equipe InfoMoney

(Getty Images)
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Fim de ano é momento de rever e trazer lições do ano que passou, além de fazer projeções para o próximo ano. Contudo, há também acontecimentos considerados improváveis ou não imaginados que todos os anos acabam abalando o mercado, inclusive com maior impacto, levando em conta que não eram precificados pelos investidores.

Com base nisso, alguns bancos divulgam listas sobre eventos para ficar de olho, que devem ser improváveis – mas que, se ocorrerem, afetarão o mercado – , ou aqueles que não estão precificados pelo mercado.

No caso do Standard Chartered, o banco estabeleceu uma série de cenários que têm uma “probabilidade diferente de zero” de ocorrer em 2023 e que dizem serem “subestimados pelos mercados”.

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“Um colapso nos preços do petróleo e um declínio nas ações de tecnologia dos EUA que ultrapassem a baixa de 2022 podem não surpreender completamente um consenso já cauteloso, mas a magnitude dos movimentos seria um choque para o sistema financeiro”, disse Eric Robertson, estrategista-chefe do banco.

Robertson disse que os movimentos descomunais do mercado provavelmente continuarão no próximo ano, mesmo que os riscos diminuam e o sentimento melhore. Ele alertou os investidores a se prepararem para “mais um ano de nervos abalados”.

A maior surpresa de todas, de acordo com Robertson, seria um retorno de “condições econômicas e de mercado financeiro mais benignas”, uma vez que o consenso aponta para uma economia global em apuros e mais turbulência nas classes de ativos no próximo ano.

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Como tal, ele citou possíveis surpresas do mercado que têm uma “probabilidade diferente de zero” de ocorrer em 2023, que estão “substancialmente fora do consenso do mercado” ou das próprias visões de cenário-base do banco, mas que estão “subestimadas pelos mercados”.

Preços do petróleo em colapso

Os preços do petróleo dispararam no primeiro semestre de 2022 como resultado de persistentes bloqueios de oferta e da invasão da Ucrânia pela Rússia, e permaneceram voláteis durante o restante do ano. Eles caíram 35% entre 14 de junho e 28 de novembro, com cortes de produção da Opep+ e esperanças de um ressurgimento econômico na China impedindo que a queda se acelerasse ainda mais.

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No entanto, Robertson sugere que uma recessão global mais profunda do que o esperado, incluindo uma recuperação chinesa atrasada devido a um aumento nos casos de Covid-19, poderia levar a um “colapso significativo na demanda por petróleo” mesmo em economias anteriormente resilientes em 2023.

Caso ocorra uma resolução do conflito Rússia-Ucrânia, isso removeria os “prêmios de risco relacionados à guerra” – a taxa adicional de retorno que os investidores podem esperar por assumir mais riscos – do petróleo, fazendo com que os preços percam cerca de 50% de seu valor em o primeiro semestre de 2023, de acordo com a lista de Robertson de “surpresas em potencial”.

“Com os preços do petróleo caindo rapidamente, a Rússia não consegue financiar suas atividades militares além do primeiro trimestre de 2023 e concorda com um cessar-fogo. Embora as negociações de paz sejam demoradas, o fim da guerra faz com que o prêmio de risco que sustentava os preços da energia desapareça completamente”, especulou Robertson. “O risco relacionado ao conflito militar ajudariam a manter os preços dos contratos iniciais elevados em relação aos contratos diferidos, mas o declínio nos prêmios de risco e o fim da guerra fariam com que a curva do petróleo se invertesse no primeiro trimestre de 2023.”

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Nesse cenário potencial, o colapso dos preços levaria o petróleo brent (referência internacional) de seu nível atual de cerca de US$ 80 por barril para apenas US$ 40 por barril, seu ponto mais baixo desde o pico da pandemia.

Fed corta juros em 200 pontos-base

A principal narrativa do banco central americano em 2022 foi ter subestimado o aumento da inflação, levando a um mea culpa do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, de que a inflação não era, de fato, “transitória”.

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O Fed, na sequência, aumentou sua taxa de curto prazo de uma meta de 0,25% a 0,5% no início do ano para 3,75% a 4% em novembro, com um novo aumento esperado em sua reunião de dezembro. O mercado está precificando um eventual pico em torno de 5%.

Robertson destacou que um risco potencial para o próximo ano é que o Comitê Federal de Mercado Aberto tenha subestimado o dano econômico infligido pelos maciços aumentos das taxas de juros. Caso a economia dos EUA caia em uma recessão profunda na primeira metade do ano, o BC americano poderia ser forçado a cortar as taxas em até 200 pontos-base, de acordo com a lista de “surpresas potenciais” do estrategista.

“A narrativa em 2023 muda rapidamente à medida que as fragilidades se espalham dos setores mais altamente alavancados da economia até mesmo para os mais estáveis”, acrescentou. “A mensagem do Fomc também muda rapidamente da necessidade de manter as condições monetárias restritivas por um período prolongado para a necessidade de fornecer liquidez para evitar um grande pouso forçado”, complementa.

Ações de tecnologia caem ainda mais

As ações de tecnologia orientadas para o crescimento sofreram um golpe ao longo de 2022, à medida que o aumento acentuado das taxas de juros aumentou o custo do capital. Mas o Standard Chartered diz que o setor pode cair ainda mais em 2023.

Em sua lista de possíveis surpresas para 2023, Robertson disse que o índice Nasdaq 100 pode cair 50%, para 6 mil pontos.  “O setor de tecnologia continua sofrendo em 2023, pressionado pela queda na demanda por hardware, software e semicondutores”, especulou.

“Além disso, o aumento dos custos de financiamento e a redução da liquidez  levaria a um colapso no financiamento de empresas privadas, levando a novos cortes significativos de avaliação em todo o setor, bem como a uma onda de perdas de empregos”.

As empresas de tecnologia da próxima geração poderiam ver um aumento nas falências em 2023, diminuindo a participação de mercado dessas empresas no S&P 500 de 29,5% no pico para 20% no final do ano, segundo Robertson.

Outras previsões em destaque

De acordo com o estrategista do Standard Chartered, o atual inverno cripto pode ficar ainda mais frio. Uma desvalorização adicional do bitcoin, de cerca de 70% para US$ 5 mil, no próximo ano está entre os cenários “surpresa”.

A demanda pode migrar do bitcoin para o ouro, estimulando uma alta de 30% do metal real, apontou Robertsen.  Esse cenário ocorreria em um ambiente de reversão na política de alta das taxas de juros conforme as economias lutam para se manter, além de mais “falências de empresas de criptoativos e um colapso na confiança dos investidores em ativos digitais”, apontou, enfatizando não fazer projeções, mas traçar cenários materialmente fora do consenso atual do mercado.

Outras possíveis surpresas incluem o impeachment do presidente dos EUA, Joe Biden, e uma forte queda nos preços dos alimentos.

Projeções “ultrajantes” do Saxo Bank

O banco dinamarquês Saxo Bank, por sua vez, publicou sua tradicional lista de dez previsões “ultrajantes” para 2023. A compilação traz apostas altamente improváveis, mas que poderiam virar o mercado de cabeça para baixo caso ocorressem.

“Vão ficando distantes os dias em que as baixas taxas de juros poderiam alimentar os sonhos de um mundo harmonioso construído sobre energia renovável, igualdade e bancos centrais independentes. Em 2023, as economias mundiais mudarão para o modo de ‘economia de guerra’, em que os ganhos econômicos soberanos e a autossuficiência superam a globalização. Nossas previsões ultrajantes para 2023 giram em torno de como o foco dos países em se afirmarem afetará a economia global e a agenda política”, aponta o banco.

As 10 previsões são listadas a seguir:

1. Coalizão entre bilionários cria novo “Projeto Manhattan” para o setor energético

A crescente necessidade global de energia leva os mais ricos do mundo a se juntarem e lançarem um projeto de pesquisa e desenvolvimento de um tamanho que o mundo não viu desde que o Projeto Manhattan deu aos EUA a primeira bomba atômica.

2. Presidente francês Emmanuel Macron renuncia

O impasse político na França e a ascensão de Marie Le Pen após as eleições de 2022 encurralam o presidente Macron, forçando-o a desistir da política e renunciar ao cargo. “Pelo menos por agora”, pontua o banco.

3. Ouro dispara para US$ 3.000, com bancos centrais falhando em cumprir seu mandato de inflação

À medida que os mercados e os bancos centrais percebem que a ideia de que a inflação é transitória está errada e que os preços permanecerão altos por mais tempo, o ouro dispara, atingindo o preço de US$ 3.000 a onça (atualmente na casa dos US$ 1.800).

4. União Europeia cria próprias Forças Armadas

Com desafios contínuos na região e um exército dos EUA que não está desempenhando agressivamente seu papel de proteção global, a União Europeia concorda em criar suas próprias forças armadas.

5. Um país concorda em proibir toda a produção de carne até 2030

Em um esforço para se tornar um dos líderes globais no caminho para emissões líquidas zero, um dado país decide não apenas impor um imposto pesado sobre a carne, mas também proibir totalmente a produção doméstica.

6. Reino Unido realiza referendo para reverter o Brexit

Após uma recessão e pressão doméstica, o Reino Unido é lançado em uma turbulência política que terminará com uma votação para reverter o Brexit.

7. Controles generalizados de preços são introduzidos para limitar a inflação oficial

“A história nos diz que, com a economia de guerra, vem o racionamento e o controle de preços. E desta vez não é diferente, pois os formuladores de políticas introduzem rígidos controles de preços que levam a uma série de consequências não intencionais”, aponta o banco.

8. OPEP+ e “Chíndia” deixam o FMI e concordam em negociar com novo ativo de reserva

As sanções contra a Rússia causaram tumulto generalizado devido aos movimentos do dólar em diversos países em todo o mundo que não consideram os EUA um aliado. Para se livrar disso, esses países deixam o FMI e criam um novo ativo de reserva.

9. Relação dólar e iene é fixada, enquanto o Japão revisa o sistema financeiro

Após os desafios enfrentados pelo iene em 2022, o Banco do Japão tenta evitar que a moeda caia mais. Sem sucesso no longo prazo, o Japão lançará uma redefinição de todo o seu sistema financeiro. O dólar sobe para entre 160 a 170 ienes (ante os 135 atuais)  ao mesmo tempo em que a população protesta contra a disparada da inflação. O governo e o banco central intervêm e definem um teto de 200.

10. Proibição de paraísos fiscais

Com a economia de guerra, surge um foco maior nos interesses nacionais e na capacidade das nações soberanas de se afirmarem. A esse respeito, os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE) voltam sua atenção para os paraísos fiscais e os banem completamente.