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As decisões de investimento de hoje podem permitir que uma pessoa viva tranquilamente no futuro – quem sabe, sem precisar trabalhar. Os rendimentos obtidos com as economias bem aplicadas podem ser suficientes para realizar o dolce far niente, como diz o velho ditado italiano. É a chamada renda passiva, objetivo de tanta gente que quer curtir mais e se preocupar menos.
Os títulos privados de renda fixa, como debêntures ou certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) e do agronegócio (CRAs), devem ser considerados pelos investidores.
A renda fixa vive seus dias de glória, já que seu rendimento é beneficiado em época de juros altos. E é bom frisar que, na visão dos analistas de mercado, a taxa Selic – atualmente estacionada em 13,75% ao ano – deve permanecer nesse patamar por algum tempo. Há quem diga que o ciclo de queda pode começar começar só em 2024, ou talvez depois disso.
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Quem já começou ou quer começar a poupar pensando em viver de renda encontra opções de investimento no mercado de títulos privados de renda fixa – que podem, inclusive, proporcionar o recebimento de juros todos os meses.
O segredo, segundo Leonardo Fontanezi, coordenador da mesa da renda fixa da XP, é a estratégia. Ele lembra que é comum ativos como debêntures fazerem pagamentos semestrais de juros. “O investidor pode optar por papéis que são emitidos em meses diferentes. Consequentemente, se eles têm a característica dos juros semestrais, vão pagar seis meses depois do mês de emissão”, explica. “Isso permite montar uma carteira com seis títulos para receber juros a cada mês”.
Que títulos de renda fixa permitem ter renda mensal?
Algumas alternativas da renda fixa privada para montar uma carteira que proporcione renda mensal são as debêntures e os certificados de recebíveis, seja do agronegócio (CRA) ou imobiliários (CRI). Eles são emitidos por instituições privadas, que podem ser empresas ou securitizadoras. Esses papéis têm rentabilidades e carências bastante variadas e, por isso, demandam diversificação.
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Os certificados de recebíveis têm sempre a vantagem da isenção de Imposto de Renda. As debêntures também podem apresentá-las, mas apenas aquelas que são incentivadas – conhecidas também como debêntures de infraestrutura, já que os emissores obtêm o benefício do Imposto de Renda zero apenas quando captam recursos para financiar projetos de infraestrutura.
As debêntures comuns, por sua vez, são tributadas. A alíquota é determinada de acordo com o período de aplicação e incide sobre os rendimentos. A taxa varia entre 22,5% sobre a rentabilidade para investimentos de até seis meses e 15% sobre o retorno de aplicações mantidas por mais de dois anos.
As debêntures, assim como os CRIs e CRAs, são negociados no mercado de capitais. Em alguns aspectos, o funcionamento das debêntures lembra o dos títulos públicos negociados no Tesouro Direto. Só que em vez de financiar o governo, quem compra debêntures empresta dinheiro para uma empresa fazer investimentos, por exemplo.
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É comum que debêntures incentivadas, CRIs e CRAs façam pagamentos semestrais de juros aos investidores. Assim, intercalando papéis emitidos em meses diferentes e com vencimentos distintos, é possível montar uma carteira com fluxo de caixa mensal. E mais: isentos de Imposto de Renda.
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Uma carteira elaborada pelo time de renda fixa da XP, com o objetivo de mostrar como fazer essa combinação de vários títulos, pode proporcionar ao investidor uma renda mensal aproximada de R$ 3 mil, a partir de um investimento inicial total de cerca de R$ 570 mil em seis papéis. A renda anual proporcionada pelos juros será de R$ 34.474,94.
Um exemplo: as debêntures incentivadas CCLS11, da empresa Ciclus, foram emitidas em 15 de dezembro deste ano e preveem pagamentos de juros semestrais. Na composição da carteira, elas pagariam R$ 3.117,11 sempre nos meses janeiro e julho (total de R$ 6.234,22 no ano), já que o rendimento semestral é de 3,28%.
Já os CRAs da Cocal, emitidos em 15 de agosto deste ano, pagam rendimento de 3,26% a cada seis meses, sempre em fevereiro e agosto. Com eles na carteira, seria possível receber R$ 3.094,11 nesses dois meses (ou um total de R$ 6.188,22 no ano).
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Os dois títulos foram selecionados junto com outros quatro papéis, de modo a estabelecer uma carteira com rendimentos “pingando” na conta do investidor todo mês. Todos os papéis possuem classificação de risco de crédito de pelo menos AA-.
Confira na tabela quanto seria possível receber a cada mês a partir de um investimento inicial total de R$ 570 mil:
Tipo de ativo | Emissor | Ticker | Vencimento | Meses de pagamento de juros | Juros pagos semestralmente | Valor a receber em cada pagamento |
Debênture | Ciclus | CCLS11 | 15/01/2031 | Janeiro/Julho | 3,28% | R$ 3.117,11 |
CRA | Cocal | CRA022007KI | 15/08/2030 | Fevereiro/Agosto | 3,26% | R$ 3.094,11 |
Debênture | Eneva | ENEV26 | 15/09/2035 | Março/Setembro | 2,23% | R$ 2.113,98 |
Debênture | Energisa | ENMTA4 | 15/10/2031 | Abril/Outubro | 2,53% | R$ 2.406,98 |
CRA | Klabin | CRA022007EP | 15/11/2037 | Maio/Novembro | 3,32% | R$ 3.158,49 |
Debênture | Rota do Atlântico | RATL11 | 15/12/2036 | Junho/Dezembro | 3,52% | R$ 3.346,80 |
Fonte: XP
Prós e contras dos pagamentos semestrais
Ter dinheiro caindo na conta todo mês para cobrir as despesas é um desejo de muitos – mas tem consequências e custos para os investidores. Quando recebe juros a cada semestre, o investidor, na verdade, está antecipando uma remuneração.
“Quando acontece isso, é natural que a instituição ofereça rentabilidade menor do que o retorno de um título que seria pago integralmente só no vencimento”, diz Patricia Palomo, economista e planejadora financeira. O investidor precisa estar ciente de que abrirá mão de parte da rentabilidade que teria em títulos sem pagamentos semestrais.
Porém, se está decidido a conseguir rendimento mensal com títulos privados, saiba que há alternativas.
Aplicando em títulos bancários, como CDBs (Certificado de Depósito Bancário), o investidor teria a opção de resgatar mensalmente um valor equivalente à remuneração do papel – ou manter o dinheiro integralmente investido para conseguir mais retorno, explica Patrícia. “É importante conversar com gerentes de bancos e ficar bem atento para conhecer as modalidades que os bancos oferecem”.
Essa alternativa pode ser particularmente interessante no caso dos CDBs que oferecem rendimentos escalonados conforme o prazo da aplicação. Quando mais tempo o dinheiro for mantido investido, maiores serão os ganhos. Patricia dá um exemplo: se o investidor ficar um mês com os recursos aplicados, receberá 80% do CDI; após dois meses, sobe para 85% do CDI, e assim por diante.
Quem tem mais recursos ou já está no limite que seria coberto pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) numa instituição financeira, aplicando em títulos bancários, pode diversificar o risco e passar para os papéis emitidos por empresas, sugere a economista.
“A padronização de emissão com debêntures, CRAs e CRIs deixa de existir. Há emissões com fluxo semestral e é possível compor com diversos ativos, com meses diferentes de pagamento. O investidor tem uma gama maior de opções para montar os próprios recebimentos”, explica.
É bom lembrar que os títulos privados de renda fixa oferecem níveis de risco mais variados do que os títulos públicos negociados no Tesouro Direto. Isso permite encontrar, às vezes, uma rentabilidade mais atrativa.
“O investidor pode expandir horizontes e sair dos títulos públicos”, diz Vinicius Romano, especialista de renda fixa na Suno Research. Ele apoia a ideia de recorrer a alguns papéis com vencimentos diferentes para que o dinheiro pingue a cada mês. “O Fiagro [Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais] de CRA é igualmente boa opção. Os fundos de infraestrutura [FI-Infra] também são uma modalidade que paga juros mensais e são isentos de IR”, detalha.
Já Marilia Fontes, economista e sócia-fundadora da Nord Research, lembra que LCIs, LCAs e CDBs podem pagar juros mensalmente. “Mas é bom que o investidor faça uma boa análise de crédito e procure empresas seguras na hora de escolher o ativo”.