Publicidade
Depois de enfrentar um 2021 muito pressionado pela pandemia, o mercado de trabalho em 2022 mostrou um aquecimento e deu sinais de recuperação: a taxa de desemprego no Brasil caiu para 8,3% no trimestre móvel encerrado em outubro, o que representa 9 milhões de pessoas, o menor nível desde o trimestre móvel terminado em julho de 2015, segundo os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgados pelo IBGE.
No entanto, especialistas já apontam que a recuperação não deve manter um ritmo consolidado e que o nível de emprego no Brasil deve perder força a partir de 2023. Recrutadores também têm postura mais conservadora sobre o que esperar para o próximo ano.
“Em 22, o mercado experimentou um aquecimento em termos de novas posições e reposições, após desligamentos. Tivemos a emblemática queda na taxa de desemprego. A vacinação avançou de forma efetiva, a pandemia se estabilizou na comparação com o ano passado e as empresas retomaram as contratações. Mas, para 2023, ainda tem muito incerteza especialmente em relação ao cenário macroeconômico”, afirma Leonardo Berto, gerente da consultoria Robert Half.
Continua depois da publicidade
Fabiano Kawano, diretor da Robert Walters no Brasil, explica que as empresas não estão pessimistas em relação a 2023, mas não querem ser agressivas nas contratações. “Estamos em uma transição de governo e momentos assim sempre têm cautela por parte das empresas. É preciso entender os direcionamentos do novo governo, além de estarmos em um período de inflação e juros em alta que beneficiam alguns setores, como o financeiro”, avalia.
Berto acrescenta que um empecilho para as contratações deslancharem em 2023 é a escassez de talentos, que está impactando algumas áreas. “Hoje temos demanda alta de vagas para alguns setores. Porém, quando as empresas vão ao mercado para buscar profissionais com formação superior completa e que falam inglês há muita dificuldade em encontrá-los. E quando começamos a fazer quebras em segmentos e especializações, incluindo requisitos técnicos de cada setor, fica ainda mais complexo encontrar as pessoas adequadas às vagas abertas”, explica.
Por causa desse movimento, diversas empresas, que não são de segmentos correlatos, vão atrás do mesmo profissional. “Afinal, toda empresa tem área de tecnologia, área financeira, área de marketing, por exemplo. Então, uma mesma pessoa pode trabalhar em diversos setores executando a mesma tarefa”, afirma Berto.
Continua depois da publicidade
“Vemos esse gap entre profissional e vaga em tecnologia, setor financeiro, na área do direito, vendas e marketing, e engenharia. É um dos desafios para o ano de 2023″, complementa Felipe Calbucci, diretor de vendas do Indeed no Brasil.
As profissões em alta e os salários para 2023
O InfoMoney contatou três consultorias de carreira, Robert Half, Robert Walters e Korn Ferry, e o site de empregos Indeed, e ouviu os especialistas que destacaram algumas profissões que estarão em alta em 2023 considerando o contexto atual do mercado de trabalho. Foram selecionadas seis grandes áreas do mercado de trabalhado: finanças e mercado financeiro, área jurídica, logística, recursos humanos, tecnologia e vendas e marketing.
A partir disso, o InfoMoney compilou informações de guias salariais das empresas para compartilhar as remunerações das profissões em destaque mencionada pelos especialistas.
Continua depois da publicidade
Foram utilizados o Guia Salarial da Robert Half 2023 e o Guia Salarial da Robert Walters 2023. Os materiais se complementam e abrangem os setores mencionados pelos especialistas. Os guias separam os salários por porte de empresa e experiência do profissional, mas para facilitar as informações foram expostos os salários com o intervalo entre o piso (salários iniciais em empresas pequenas) e o teto (salários de profissionais ‘seniores’ em empresas grandes) de cada vaga.
Vale lembrar que os dados são retirados da base de clientes de cada empresa, por isso, funcionam como uma estimativa de mercado. As faixas salarias não incluem remuneração variável, como bônus.
Confira, a seguir, as áreas, por ordem alfabética:
Continua depois da publicidade
1. Finanças e mercado financeiro
No setor de finanças, os destaques são para os cargos que exigem mais experiência na administração do negócio, como o diretor financeiro (CFO) e o coordenador de controladoria. “As empresas precisarão continuar a cuidar da saúde financeira pela retomada do crescimento. Preocupação com o caixa, orçamento, alocação de investimentos e administração da receita são recorrentes, e profissionais para esses desafios serão muito demandados”, diz Berto.
No mercado financeiro, o segmento de fusões e aquisições deve ter em alta demanda por gerentes e analistas de M&A; na área comercial, o destaque fica para o gerente de relacionamento com o cliente institucional e pessoa física, que seria o assessor de investimentos.
As fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) no mercado brasileiro perderam fôlego em 2022 na comparação com o ano passado — tanto em volume quanto no tamanho do cheque: uma queda de 14%. No entanto, as negociações registradas de janeiro a outubro superaram com folga 2019 e 2020, o que indica um novo patamar de M&As no país, a partir do próximo ano.
Continua depois da publicidade
Veja as profissões em destaque para 2023:
Profissões | Faixa salarial mensal |
Diretor financeiro (CFO) | R$ 32.500 – 93.150 |
Coordenador de controladoria | R$ 12.000 – 21.000 |
Gerente de M&A | R$ 19.000 – 41.300 |
Analista de M&A | R$ 14.150 – 21.600 |
Analista de compliance | R$ 11.850 -R$ 18.150 |
Gerente de relacionamento com o cliente | R$ 14.450 – 22.100 |
Gerente de relacionamento com o cliente private | R$ 23.100 – 39.600 |
Gerente de relacionamento institucional | R$ 15.250 – 23.350 |
2. Jurídico
O segmento jurídico está em alta. Dentro do direito, segmentos de mercado de capitais, especialmente na área de contratos, além de tributação, segundo os especialistas consultados.
“Pelo setor de M&A estar aquecido, toda a parte jurídica de contratos também está. Importante ter um advogado na equipe supervisionado os processos jurídicos de uma fusão ou aquisição. Além disso, as empresas são de países diferentes e ter um advogado especializado no tema auxilia muito”, afirma Kawano, da Robert Walters.
Berto, da Robert Half, complementa explicando que advogados que atuam no direito tributário também serão demandados. “As companhias estão buscando avaliar as oportunidades fiscais para reduzir eventuais custos nessa direção. Toda compra e venda de ativo na empresa também tem uma carga tributária, e a demanda para esse profissional está em alta”.
Esses profissionais podem ser contratados diretamente pelas empresas ou podem estar em escritórios que prestam serviços para as companhias.
Veja as profissões em destaque para 2023:
Profissões | Faixa salarial mensal |
Advogado tributário | R$ 7.000 – R$ 16.000 |
Advogado – área de contratos (mercados de capitais) | R$ 6.500 – R$ 20.000 |
3. Logística
Os especialistas esperam que o setor de logística esteja aquecido para 2023, também como uma área comum em diversos setores. “A Lei das Ferrovias, logística nos portos, varejo com o e-commerce e bens de consumo devem movimentar o segmento de logística. Transportadoras, centros de distribuição e empresas que fazem o last mile (que entregam a compra no portão do consumidor), além de funções de compra e venda de suprimentos na área de logística devem demandar profissionais para 2023″, diz Berto, da Robert Half.
Além disso, Kawano, da Robert Walters, destaca que a cadeia de suprimentos também passou por uma transformação durante a pandemia. “Percebemos que não podemos mais depender apenas de cadeias internacionais, em uma crise como a pandemia. Se não existem cadeias regionais, muitos serviços param. Então, as empresas do setor estão trabalhando nesse desenvolvimento regional e devem demandar profissionais também”.
Foram citados diretores, gerentes e analistas de supply chain, compradores, coordenadores, supervisores de logística e engenheiro de projetos.
Veja as profissões em destaque para 2023:
Profissões | Faixa salarial mensal |
Diretor de supply chain | R$ 27.500 – 43.000 |
Gerente de supply chain | R$ 18.950 – R$ 30.000 |
Analista de supply chain | R$ 5.350 – R$ 8.700 |
Analista de logística | R$ 4.250 – R$ 9.650 |
Comprador | R$ 5.050 – R$ 11.650 |
Engenheiro de projetos | R$ 7.700 – R$ 16.650 |
4. Recursos Humanos
A área de recursos humanos ganhou protagonismo em meio à pandemia e segue sendo um dos destaques para 2023, afinal, administra o ativo mais importante para os negócios: as pessoas.
“O time de RH acompanha a transformação da empresa e cada vez mais ganha uma série de atribuições: precisa atrair e reter talentos, manter clima organizacional, trabalhar diversidade (de gênero, racial, pessoas com deficiência) na empresa, organizar a estrutura de remuneração em meio à escassez de talentos, promover engajamento mesmo com os funcionários trabalhando de casa. Não é um trabalho fácil e é estratégico para a empresa manter seus talentos”, avalia Calbucci, do Indeed.
Posições da área como o analista de remuneração, analista de diversidade, analistas de recrutamento, business partner (profissional que atua na conexão do RH com outras áreas da empresa), e também da gestão, como o gerente de RH, e o diretor de RH devem estar em alta em 2023, na opinião dos especialistas.
Veja as profissões em destaque para 2023:
Profissões | Faixa salarial mensal |
Diretor de RH | R$ 29.800 – R$ 50.600 |
Analista de remuneração e benefícios | R$ 8.500 – R$ 12.950 |
Analista de recrutamento e seleção | R$ 6.500 – R$ 10.500 |
Business Partner (gerente) | R$ 18.000 – R$ 30.450 |
Business partner (analista) | R$ 8.000 – R$ 11.800 |
Analista de diversidade e inclusão* | R$ 4.100 – R$ 8.100 mil |
*Faixa de remuneração extraída do site Glassdoor. Os guias utilizados para as outras profissões não tinham dados sobre diversidade
5. Tecnologia
O setor de tecnologia segue em alta no próximo ano. Muito demandado diante das transformações digitais aceleradas pela pandemia, os profissionais da área estão sendo requisitados e vão encontrar salários inflacionados. “Muito pressionado do ponto de vista da oferta, as empresas estão brigando pelos profissionais de tecnologia. Você precisa de profissionais que tenham as skills técnicas muito bem desenvolvidas, para programar, por exemplo, mas que também aprendam muito rápido porque há novidade todo dia e é necessário se adaptar. Vagas de gestão na área de tecnologia também estão demandando muito porque, via de regra, o profissional tem perfil técnico, então, um gestor nessa área é diferencial”, diz Berto, da Robert Half.
Nos últimos dois anos, as empresas corriam para buscar desenvolvedores. “Se você não encontrava no mercado, identificava a aptidão e treinava esse profissional para ser um desenvolvedor júnior, o que foi suficiente durante algum tempo. Mas, agora, as empresas buscam profissionais mais experientes, não querem esperar seis meses ou um ano para essa pessoa se adequar”, diz Calbucci, do Indeed. Nesse cenário, profissionais de tecnologia com aptidão para gestão de times também vão se destacar.
Apesar de ser um setor ainda muito aquecido, empresas de tecnologia tiveram um 2022 turbulento, com muitas demissões, especialmente entre BigTechs e startups. “O setor vai contratar porque precisa de profissionais e enfrenta uma escassez de talentos, mas não vai ter um boom de vagas como aconteceu nos últimos dois anos. Entendo que vai estabilizar um pouco o ritmo em 2023. O cenário macro de juros altos e investidores mais cautelosos reduz o ritmo de captação das empresas e faz com que as empresas desacelerem as contratações”, avalia Kawano, da Robert Walters. Cerca de metade de demissões da Meta foram na área de tecnologia, por exemplo.
Na Korn Ferry, cientista de dados e analistas de business inteligence são posições demandadas e que devem se manter para 2023.
Veja as profissões em destaque para 2023:
Profissão | Faixa salarial (mensal) |
CTO | R$ 29.500 – R$ 50 mil |
Gerente de TI | R$ 21.600 – R$ 34.200 |
Cientista de dados | R$ 14.400 – R$ 24.100 |
Analista de Business Inteligence (BI) | R$ 5.600 – R$ 19.300 |
Desenvolvedor front-end | R$ 6.200 – R$ 21.900 |
Desenvolvedor back-end | R$ 6.200 – R$ 20.600 |
Product Manager (gerente de produtos) | R$ 13.550 – R$ 22.700 |
Um destaque de Calbucci na área de tecnologia foram vagas relacionadas ao metaverso. Os cliques de candidatos procurando por metaverso e realidade aumentada na plataforma no Brasil cresceram 149%. O InfoMoney fez uma reportagem sobre alguns cargos em destaques para o metaverso.
6. Vendas e Marketing
A área de Vendas e Marketing representa 40% das vagas em aberto na Korn Ferry. “Tem cadeira nova, tem muita reposição, mobilidade interna. Tem muita demanda por profissional”, afirma Aline Riccio, diretora de projetos da consultoria Korn Ferry.
“Toda empresa precisa vender bem seu produto ou serviço. Os profissionais de vendas e marketing estão sendo bastante demandado, considerando que em 2023 as empresas querem voltar a crescer e ampliar suas atuações se afastando cada vez mais do período turbulento da pandemia”, afirma Berto, da Robert Half.
Na opinião de Calbucci, as vendas online mudaram de patamar com a pandemia, e o canal digital é importante para boa parte das que querem aumentar o faturamento em 2023. Entre as posições destacadas estão vendedores, o gerente de vendas, executivo de contas, analista de marketing digital, analista de CRM (Customer Relationship Management), analista de inteligência de mercado e gerente de e-commerce.
Veja as profissões em destaque para 2023:
Profissões | Faixa salarial mensal |
Gerente de vendas nacional | R$ 12.400 – R$ 30.700 |
Executivos de contas | R$ 6.200 – R$ 17.150 |
Gerente de e-commerce | R$ 10.750 – R$ 27.300 |
Analista de CRM | R$ 3.8000 – R$ 9500 |
Analista de inteligência de mercado | R$ 6.050 – 12.850 |
Analista de marketing digital | R$ 5.050 – R$ 12.200 |
Empregos em home office devem seguir em alta?
Outro destaque mencionado pelos especialistas foi o home office, um fator importante no tabuleiro das contratações. O modelo de trabalho é desejo de 71% dos trabalhadores. “O trabalho remoto veio para ficar. Há uma demanda dos profissionais, que buscam ao menos pelo formato híbrido. E as empresas estão tentando entender como conciliar essa demanda com a preservação e o fortalecimento da cultura da empresa”, explica Calbucci.
Mas a discussão abrange uma camada específica de profissionais, que geralmente atuam em áreas administrativas, ou no mundo corporativo. “Profissionais de atividades essenciais, como hospitais, ou com funções em fábricas, centros de distribuição, e alguns cargos de vendas não têm como fazer home office”, diz o executivo do Indeed.
Para Kawano, nessa lista de ponderações também entram o cargo do profissional, a empresa e a cultura corporativa. “Vemos muitas empresas ainda cautelosas com o home office, especialmente, para cargos de liderança. Contratar um CFO, por exemplo, ou um novo diretor industrial são cargos que as empresas exigem o presencial. Conhecer essas pessoas presencialmente é estratégico. As companhias estão estudando e tentando entender qual o melhor modelo, sempre considerando as questões legais trabalhistas“.
Newsletter
Infomorning
Receba no seu e-mail logo pela manhã as notícias que vão mexer com os mercados, com os seus investimentos e o seu bolso durante o dia
Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.