XP vê 2023 desafiador para bancos, destaca Itaú (ITUB4) como preferido e eleva Santander (SANB11) para neutro

Cenário macro segue pressionado pela combinação de baixo crescimento econômico, juros altos e comprometimento de renda das pessoas físicas

Felipe Moreira

Publicidade

A equipe de análise da research da XP Investimentos atualizou suas estimativas para os grandes bancos brasileiros, com base em um cenário macro pressionado pela combinação de altas taxas de juros, baixo crescimento econômico e comprometimento recorde de renda das pessoas físicas.

Mas, apontam os analistas Renan Manda e Matheus Guimarães, que assinam o relatório, os bancos já estão tomando medidas para evitar o aumento das taxas de inadimplência.

“Os bancos incumbentes têm se tornado gradativamente mais cautelosos na concessão de crédito, elevando o nível de suas exigências e reduzindo seletivamente os limites pré-aprovados”, comentam. Eles esperam que essa postura conservadora continue em 2023, levando a um menor crescimento da carteira de crédito (mas com menor risco) na tentativa de conter o aumento da inadimplência, que deve atingir o pico no primeiro semestre de 2023.

Continua depois da publicidade

Ibovespa hoje: os destaques do mercado ao vivo nesta terça-feira

Olhando para os casos específicos, apesar da forte alta de Banco do Brasil (BBAS3) e Itaú Unibanco (ITUB4) de 35% e 24% no ano, respectivamente, a XP continua a ver valuations atraentes para esses nomes (3,1 vezes e 6,9 vezes o múltiplo de preço sobre lucro, P/L, para o final de 2023, respectivamente).

Itaú é principal escolha

Embora o Itaú Unibanco tenha atualmente um prêmio de valuation em comparação com seus pares, ele continua sendo negociado com desconto em relação à sua média histórica, avaliam os analistas. Além disso, questões políticas relacionadas a empresas estatais podem continuar a prejudicar o Banco do Brasil e impedir um desempenho mais forte das ações no curto prazo.

Continua depois da publicidade

Manda e Guimarães acreditam que a triagem de crédito mais conservadora do Itaú, que já começou no segundo semestre de 2022 (2S22), permitirá que o banco mantenha suas taxas de inadimplência sob controle (com crescimento marginal no 1S23). “Sua saudável taxa de inadimplência e índice de cobertura devem aliviar a pressão por maiores provisões em 2023”, destacam.

Além disso, a XP Investimentos ainda vê as ações com um valuation atraente de 6,9 vezes o P/L para 2023, apesar de seu desempenho positivo este ano (+24,4% em 2022). Com isso, a XP mantém recomendação de compra para Itaú e preço-alvo de R$ 34, um potencial de valorização de 35% frente a cotação de fechamento da véspera. O Itaú continua sendo a principal escolha da XP no setor.

Banco do Brasil (BBAS3)

A XP Investimentos vê as operações do banco bem preparadas para enfrentar o ano desafiador que se aproxima, tendo a menor taxa de inadimplência entre os bancos incumbentes e uma carteira de crédito mais defensiva.

Continua depois da publicidade

Apesar das ações do BB terem o desempenho mais forte do setor em 2022, analistas enxergam a ação ainda negociando com um valuation atraente de 3,1 vezes P/L e 0,6 vez o P/VP (preço sobre valor patrimonial) para 2023, o que levou a XP a manter visão favorável para a ação e reiterar recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 61,00, um potencial de valorização 73% frente a cotação de fechamento de segunda-feira (26).

Dito isso, analistas destacam que aspectos políticos em relação às empresas estatais podem trazer alguma volatilidade para a ação no curto prazo.

“Na transição para o novo governo, a proposta de flexibilização da lei para estatais (Lei no 13.303) e as discussões para o uso de bancos estatais para oferecer crédito mais barato podem continuar trazendo incertezas quanto ao potencial impacto nas finanças do Banco do Brasil daqui para frente (que atualmente apresenta os maiores ROAEs, ou retornos sobre patrimônio médio, de sua história, superando vários bancos privados)”, diz o relatório. Consequentemente, a XP acredita que a ação continuará pressionada e potencialmente mais volátil até que essas incertezas sejam resolvidas.

Continua depois da publicidade

Bradesco (BBDC4)

De forma geral, o time de análise da XP vê o impacto do aumento da inadimplência e o consequente aumento das provisões para créditos de liquidação duvidosa continuando a pesar nos resultados do Bradesco em 2023 e começando a diminuir no segundo semestre.

“Um dos maiores detratores em seus resultados recentes foi a margem financeira (NII) com o Mercado, que foi significativamente impactada pelas altas taxas de juros”, avaliam os analistas. A XP Investimentos espera que esse efeito continue pressionando seus resultados no curto prazo, com uma recuperação gradual levando essa linha a voltar a ser positiva apenas no 2S23.

Diante disso, analistas acreditam que a queda recente de suas ações já precificou esses impactos esperados no curto prazo e enxergam seu valuation como justo. Consequentemente, eles não esperam um desempenho significativamente inferior da ação em relação aos pares e mantém visão conservadora para a ação, com recomendação neutra e preço-alvo de R$ 18 para 2023, o que representa potencial de alta de 19% em relação ao preço de fechamento da véspera.

Continua depois da publicidade

Santander (SANB11)

O Santander foi o primeiro grande banco a assumir uma abordagem mais conservadora na concessão de crédito no final de 2021 e analistas esperam que mantenha essa estratégia em 2023, já que as perspectivas macroeconômicas permanecem desafiadoras no curto prazo.

No lado de valuation, após o desempenho de preço mais fraco em relação aos pares (+0,6% no ano versus +16,0% da média dos pares), a XP Investimentos vê sua assimetria negativa de valuation anterior como ajustada e a ação com preço justo. Como resultado, a XP elevou a recomendação da ação de venda para neutra e preço-alvo de R$ 34, com potencial de alta de 20% frente em relação ao preço de fechamento da véspera.

Segundo relatório, a margem financeira (NII) de mercado deve seguir pressionada no quarto trimestre de 2022 (4T22) e em 2023 pelos juros, provavelmente diminuindo quando as taxas de juros começarem a cair gradualmente.