Americanas (AMER3): quais são os possíveis impactos das inconsistências contábeis para os bancos? Bradesco BBI traça projeções

No pior cenário dos bancos tendo que dar baixa de R$ 20 bilhões, o impacto envolveria 4,5% do equity total das instituições, avalia o BBI

Lara Rizério

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Além do impacto na tese de investimentos da Americanas (AMER3), analistas de mercado também se debruçam sobre qual seria o possível impacto da “inconsistência contábil” de R$ 20 bilhões anunciada pela varejista na véspera sobre os bancos.

“Embora ainda tenhamos pouca visibilidade sobre como isso poderia impactar os bancos credores e, no pior cenário dos bancos tendo que dar baixa de R$ 20 bilhões, o impacto envolveria 4,5% do equity total dos bancos que cobrimos. Por sua vez, a exposição dos bancos que cobrimos no segmento de varejo é de cerca de 3,6% (média do crédito total) e 21,9% do patrimônio total”, avalia o Bradesco BBI.

Na visão dos analistas que assinam o relatório, os riscos para os bancos estão relacionados a operações “forfait”, ou “securitização de contas a pagar” (crédito de fornecedor). De fato, algumas empresas brasileiras têm realizado essas operações em que “empresas compradoras” contratam um banco para criar um esquema de pré-pagamento para seus fornecedores, avalia.

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No entanto, conforme Ofício nº 01/2016 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), algumas “empresas compradoras” podem “distorcer” sua situação financeira real ao não reconhecer despesas financeiras por meio de seus resultados,
porque ou não reconhecem passivos financeiros (empréstimos + financiamentos) com bancos ou ajustam seu passivo com fornecedores a valor presente sem a devida segregação dos juros embutidos na operação, conforme as regras.

Como tal, isso pode criar uma situação financeira distorcida para as “empresas compradoras”, que reduz o saldo da conta “fornecedores” em seus balanços.

“Tendo isso em mente, acreditamos que as inconsistências acima mencionadas são relacionadas a essas práticas, sendo que no caso da AMER3 totalizam R$ 20 bilhões, conforme fato relevante. Por esta razão, nós achamos que os principais riscos para os bancos estão relacionados a essas operações ‘forfait’ e não às tradicionais linhas de empréstimos e financiamentos,
pois são os credores dessas operações enquanto a AMER3 é a devedora”, avalia.

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Os analistas do BBI apontam não estar claro qual pode ser o impacto de tais inconsistências nos bancos brasileiros.

Segundo o fato relevante da Americanas, o impacto seria imaterial de uma perspectiva de caixa, mas ainda há pouca visibilidade de como isso impactaria o balanço e o P&L (Demonstrativo de Lucros e Perdas) e, desta forma, como os bancos credores seriam impactados em termos práticos.

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“Dada a pouca visibilidade, decidimos avaliar qual seria o pior cenário – ou seja, bancos credores tendo que dar baixa em R$ 20 bilhões. Em tal caso, nós estimamos que esse valor impactaria o patrimônio líquido dos seis bancos brasileiros que cobrimos em 4,5%. No entanto, deve-se notar que não temos divulgação sobre a exposição do AMER3 por banco, portanto, o melhor exercício seria ser apresentar a exposição de cada banco ao segmento de varejo, a nosso ver”, aponta. Cabe ressaltar que os analistas não fizeram as contas para o Bradesco (BBDC4).

Notavelmente, o Santander Brasil (SANB11) e o BTG Pactual (BPAC11) são os bancos com maior exposição ao segmento de varejo (cerca de 7% do crédito total), seguidos por Itaú (ITUB4) e ABC Brasil (ABCB4) (ambos com cerca de 3%), enquanto Banrisul (BRSR6) e Banco do Brasil (BBAS3) têm cerca de 2% de exposição.

Já em termos de porcentagem do seu equity total no varejo, o Santander Brasil tem a maior exposição (cerca de 42%), seguido pelo ABC Brasil (cerca de 24%), BTG Pactual (23%), Itaú (22%), Banrisul (13%) e Banco do Brasil (12%).

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Confira abaixo o impacto para os bancos:

Companhia Exposição ao varejo (em R$ bilhões) Carteira de empréstimo total (em R$ bilhões) Varejo como % do portfolio total de empréstimo Equity total (em R$ bilhões) Varejo como % do equity total 
ABC Brasil 1,2 41,5 2,9% 5,1 23,7%
Banrisul 1,2 47,4 2,5% 9 13,3%
BTG Pactual 9,7 144,8 6,7% 42,3 22,9%
Santander Brasil 33,9 484,2 7% 81 41,8%
Itaú 34,1 1.111 3,1% 157,2 21,7%
Banco do Brasil 17,9 861,5 2,1% 153,9 11,6%
Total 98 2.690 3,6% 448 21,8%

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.