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A curva de juros brasileira chegou a ter alta considerável nesta quinta-feira (19), bem como o dólar, repercutindo, principalmente, falas recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre ontem e hoje.
Às 15h (horário de Brasília), os DIs para 2024 tinha alta de 5,5 pontos-base, a 12,53%, e os para 2025, de 16 pontos, a 12,74%. Os DIs para 2027 vão a 12,68%, com mais 23 pontos, e os para 2031, a 12,84%, com mais 23 pontos. Apesar de ainda subir de forma relevante, contudo, as taxas se afastaram das máximas do dia – mais cedo, o DI para 2027, por exemplo, chegou a tocar 12,86%.
O dólar comercial, por sua vez, amenizou os ganhos e tinha alta de 0,53%, a R$ 5,189 na compra e R$ 5,190 na venda, mas chegou a subir a R$ 5,256 na máxima do dia, ou alta de 1,82%, após já ter fechado em alta de mais de 1% na véspera.
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Na manhã desta quinta, o petista voltou a atacar, pelo segundo dia consecutivo, a independência do Banco Central e os atuais níveis de taxa de juros no Brasil, que, para ele, estão exageradamente altos.
“A gente poderia não ter juros. Qual a explicação para juros em 13,5% hoje? A única coisa que não é tida como gasto pelo mercado é pagamento de juros”, disse o presidente em encontro com reitores de universidades federais.
Ontem, em entrevista à GloboNews, Lula defendeu que não quer que as pessoas “cobrem dele responsabilidade fiscal”.
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Lula ainda questionou a meta de inflação, estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 3,5% ao ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo – o que permite intervalo de 2% a 5%.
O presidente, inclusive, se confundiu ao dizer que a meta era de 3,7% para 2022. Em 2023, o centro da meta será ainda menor: 3,25%; passando para 3% em 2024, caso as regras não sejam modificadas.
“O problema do Lula fazer esses comentários é que ele sinaliza que não está de acordo com a política de metas de inflação, que ele mesmo, lá atrás, já apoiou”, diz Carlos Honorato, professor da FIA Business School.
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O principal compromisso do Banco Central independente é, justamente, a manutenção da inflação em níveis baixos. Para isso, essa instituição mantém, por exemplo, a Selic elevada, o que dificulta o acesso das pessoas e do governo a crédito e, decorrentemente, diminui o dinheiro em circulação.
A lógica é: quanto maior as taxas de juros cobradas, menos as pessoas irão fazer empréstimos e menos irão gastar, o que impede uma alta dos preços pelo lado da restrição da demanda.
Além disso, a política de juros mais altos do Banco Central também mantém a inflação controlada ao atrair investimentos estrangeiros. O pagamento de bons retornos pelos títulos públicos, com as taxas elevadas, ajuda a criar um fluxo de dólar para o Brasil, valorizando o poder de compra do real.
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“O Lula pode ter um pouco de razão ao falar que a meta de inflação é baixa, nos 3,5%, e que isso força um arrocho econômico grande. O grande problema é que ele sinaliza para o mercado que quer um afrouxamento e que pretende mexer com coisas que foram mudadas recentemente”, contextualiza Honorato. “A independência do Banco Central é algo positivo, no sentido de passar para o mercado que há uma instituição controlando a inflação”.
Especialistas destacam que as falas transmitem que há a possibilidade de o governo retirar a ancoragem dos gastos públicos.
Também ontem, petista destacou que pretende isentar as pessoas que ganham até R$ 5 mil reais do pagamento de imposto de renda.
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“As falas de Lula ontem, sobre isenção do IRPF para até R$ 5 mil e sobre mudança na meta de inflação, vão na contramão do que temos ouvido de integrantes do governo, tanto na ala política quanto na econômica”, dizem os analistas da XP Política. “Há preocupação entre auxiliares do presidente com esse tipo de posicionamento público. Importante registrar que não houve qualquer comando interno de Lula nesse sentido e não há expectativa de ordem no governo para tocar essas medidas”.
Os analistas da XP Política destacam que, apesar das falas, o time econômico de Lula descarta mudanças do tipo neste momento.
“Deve haver um esforço nos bastidores para mostrar ao presidente os impactos negativos de suas falas — a depreciação cambial ontem foi sinal eloquente disso. A ver se será suficiente para que Lula passe a evitar temas que miram diretamente seu eleitorado, mas podem trazer consequências negativas para o cenário econômico”, debatem.
No meio da tarde, o ministro de Relações Institucionais Alexandre Padilha, em rede social, defendeu que não haverá intervenções, o que ajudou a atenuar os temores do mercado, levando a uma desaceleração da alta do dólar e dos principais contratos de juros futuros.
Como disse o presidente @LulaOficial, na sua experiência de governo, deu plena autonomia ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. O presidente não vai mudar de postura agora, ainda mais com uma lei que estabelece regras nesse sentido.
— Alexandre Padilha (@padilhando) January 19, 2023
A Levante Investimentos, em seu morning call, também comentou as sinalizações do presidente.
“A independência do BC pode não ser uma condição suficiente para blindar a economia contra crises. Mas é uma condição necessária para impedir o agravamento das crises, especialmente as provocadas por desequilíbrios econômicos internos (problemas fiscais) ou externos (desequilíbrio do balanço de pagamentos)”, destacou a casa de research.