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A semana começa conturbada com notícias políticas e econômicas mexendo com o humor do mercado. A segunda-feira (6) apresenta mais um dia de alta nos juros oferecidos por títulos públicos negociados no Tesouro Direto. Às 15h22, o ativo atrelado à inflação com vencimento em 2045 oferecia um retorno real de 6,50% ao ano, acima dos 6,49% registrados na sexta-feira (3). O percentual também é próximo do recorde de 6,57% batido na semana passada.
A forte alta das taxas do papel tem reflexo no preço. No ano, o título acumula desvalorização de 8,3%, segundo dados até a última sexta-feira (3).
Já entre os prefixados, o maior juro era oferecido pelo Tesouro Prefixado 2029, de 13,48% ao ano, superior aos 13,41% registrados na sessão anterior.
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou hoje – pela terceira vez – a atuação do Banco Central na condução da política monetária do país e voltou a questionar o atual patamar da taxa básica de juros (a Selic), mantida em 13,75% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom). As declarações foram feitas durante posse de Aloizio Mercadante como novo presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“O comunicado do Banco Central veio bastante duro com relação à postura na condução da política monetária por parte do presidente Lula. E deu a entender que não vai ceder a pressões políticas, além de não descartar a possibilidade de subir os juros, caso a inflação continue pressionada”, afirma Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed.
Isso fez com que a curva de juros, de maneira geral, passasse por uma reprecificação na quinta-feira (2) e na sexta-feira (3) passadas. O mercado de hoje ainda apresenta um reflexo desse movimento. “Há aumento das taxas de curto prazo em razão dessa questão da política monetária e alta também nos prazos médio e longo. É possível perceber a interferência que o governo vem tentando exercer no Banco Central e em sua independência”, detalha o especialista.
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O mercado não tem gostado dessa postura e os agentes vão tentar se antecipar a qualquer tipo de deterioração. No cenário externo, na semana passada, foram divulgados os dados de emprego nos Estados Unidos, que vieram muito mais fortes do que o esperado, o que também acaba corroborando para a abertura da curva com o aumento dos rendimentos de títulos americanos (Treasuries).
Lembrando que amanhã (7) será conhecida a ata Do Comitê de Política Monetária (Copom), documento bastante aguardado pelo mercado, “porque é usado para tentar identificar novas mensagens do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto”, explica Ricardo Jorge.
Agentes também repercutem nova piora nas projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2023 e 2024, segundo dados do Relatório Focus, do Banco Central. O número do IPCA “cheio” de janeiro será apresentado na quinta-feira (9) e pode levar a nova recalibragem das estimativas.
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Notícias da política estão igualmente no foco, com a informação de que Lula avalia ampliar isenção do Imposto de Renda para quem ganha até dois salários mínimos neste ano. Isso envolveria uma perda de arrecadação elevada e sem contrapartida, a princípio.
Às 16h10, Ibovespa recuava cerca de 0,4%, aos 108 mil pontos. Já o dólar comercial subia mais 1%, cotado a R$ 5,20.
Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta segunda-feira (6):
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Relatório Focus
Na cena econômica, a tendência de alta na projeções para a inflação tanto para 2023 quanto para 2024 continua entre os analistas do mercado financeiro. De acordo com dados divulgados nesta segunda-feira (6) pelo Relatório Focus, do Banco Central, a expectativa para o IPCA para este ano subiu de 5,74% para 5,78%, na oitava alta seguida.
A projeção de inflação para 2024 avançou de 3,90% para 3,93% (terceira semana de alta), enquanto a de 2025 ficou nos mesmos 3,50% projetados há uma semana e a de 2026 também permaneceu em 3,50%.
Especificamente para os preços administrados, a projeção do IPCA também manteve a expectativa de alta na semana, passando de 8,39% para 8,44%. Há um mês, a projeção estava em 6,79%. Para 2024, subiu de 4,20% para 4,24%. As de 2025 e de 2026 foram mantidas em 3,67% e 3,50%, respectivamente.
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A projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2023 caiu de 0,80% para 0,79%, enquanto a de 2024 foi mantida em 1,50%, a de 2025 permaneceu em 1,89% e a de 2026 continuou em 2,0%
A previsão da taxa de juros básica da economia brasileira (Selic) foi mantida em 12,50% para este ano, mas a de 2024 subiu de 9,50% para 9,75%. A de 2025 avançou de 8,50% para 9,0% e a de 2026 foi mantida em 8,50%.
Já a estimativa para o dólar foi mantida em R$ 5,25 para este ano, e em R$ 5,30 para 2024, 2025 e 2026.
Mercadante toma posse
O novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante (PT), afirmou, nesta segunda-feira (6), não ter interesse em debater decisões do passado, mas construir a instituição “do futuro”, com olhar especial para empresas de menor porte, para o meio ambiente e a competitividade da indústria brasileira no plano internacional.
“Estamos aqui não para debater o BNDES do passado, mas construir o BNDES do futuro, que será verde, inclusivo, tecnológico, digital e industrializante”, afirmou.
Em seu discurso de posse, Mercadante apontou para a intenção de constituir um “Eximbank”, para financiar operações de comércio exterior de empresas brasileiras. O político também indicou que o BNDES não disputará mercado com instituições privadas e que atuará como parceiro estratégico na redução de riscos, na abertura de novos mercados e na elaboração de projetos de investimentos.
Isenção do IR e reforma tributária
Depois de prometer na campanha isentar do Imposto de Renda (IR) quem ganha até R$ 5 mil, o presidente Lula avalia iniciar a ampliação da faixa de isenção da tabela ainda este ano para quem ganha dois salários mínimos (R$ 2.604), apurou o Estadão. A faixa está hoje em R$ 1.903, o que faz com que quem ganha menos de um salário mínimo e meio já tenha de pagar o imposto.
Esse ponto tem incomodado o presidente Lula, que vem sendo muito criticado nas redes sociais por não dar o início à correção da tabela do IR, mesmo que de forma gradual.
Parlamentares aliados também cobram o pontapé inicial da correção. Na quinta-feira, ele voltou a dizer que fará ajuste na tabela e que vai aprovar a reforma tributária.
Para o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), é possível aprovar um texto de reforma tributária até o final deste ano. A negociação está sob comando do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e os vice-líderes que dominam a área vão ajudar. “Vamos começar a dialogar a partir de segunda-feira [6] sobre o conteúdo dela e o que podemos fazer antecipadamente para termos uma reforma tributária robusta que dê conta dos problemas”, disse.
Haddad – que já declarou que o governo pretende votar a reforma tributária sobre o consumo no primeiro semestre deste ano e a reforma sobre a renda no segundo semestre – também deve participar de reuniões sobre o assunto na semana que vem. “Já vamos ter as primeiras conversas no início da semana com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para a gente buscar a curto prazo, no máximo até abril, como o ministro quer, nós apresentarmos, o governo apresentar uma boa e consistente proposta de reforma tributária a partir das duas PECs que estão tramitando”, disse Guimarães.
Para dar mais agilidade à discussão, de acordo com Guimarães, a ideia é que a sugestão a ser apresentada pelo governo tome como base as duas Propostas de Emenda à Constituição (PEC) sobre o tema que já tramitam no Congresso.
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