Lula diz que aumento de juros é “uma vergonha” e cobra pressão da sociedade

Presidente diz que "não existe nenhuma justificativa" para Selic se manter no atual patamar e diz que sociedade precisa "brigar"

Marcos Mortari

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em primeira reunião ministerial no Palácio do Planalto (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em primeira reunião ministerial no Palácio do Planalto (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou, nesta segunda-feira (6), pela terceira vez, a atuação do Banco Central na condução da política monetária do país e voltou a questionar o atual patamar da taxa básica de juros (a Selic), mantida em 13,75% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom).

Na posse de Aloizio Mercadante como novo presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Lula disse mais uma vez que “não existe justificativa nenhuma” para a taxa de juros seguir nos níveis atuais.

“Não existe nenhuma justificativa, nenhuma justificativa, para que a taxa de juros esteja, neste momento, a 13,5%. É só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juros e a explicação que eles deram para a sociedade brasileira”, afirmou.

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Em sua fala, o presidente também disse que a classe empresarial brasileira “precisa aprender a reivindicar”. E fez uma nova referência à autonomia do Banco Central, aprovada em fevereiro de 2021, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

“Quando o Banco Central era dependente de mim, todo mundo reclamava. O único dia em que a Fiesp falava era quando aumentava os juros”, disse. ” No meu tempo, 10% eram muito, hoje 13,5% é pouco”.

“Se a classe empresarial não se manifestar, se as pessoas acharem que vocês estão felizes com 13,5%, sinceramente, eles não vão baixar juros, e nós precisamos ter noção”, afirmou. “E não é o Lula que vai brigar, não. Quem tem que brigar é a sociedade brasileira”.

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Lula também rebateu críticos que dizem que ele não deveria se manifestar sobre política monetária – especialmente agora que o Banco Central tem autonomia expressa em lei. “Se eu que fui eleito não puder falar, quem eu vou querer que fale? O catador de material reciclável? Quem eu vou querer que fale por mim? Não. Eu tenho que falar, porque, quando eu era presidente, eu era cobrado”, afirmou.

A cerimônia ocorreu no Rio de Janeiro e reuniu o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que também comanda o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, além de diversos integrantes do ministério do governo, como Rui Costa (Casa Civil), Esther Dweck (Gestão e Inovação em Serviços Públicos) e Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima).

Em seu discurso, Lula também rebateu o que qualificou como uma série de mentiras propagadas contra o BNDES durante a campanha eleitoral. Ele negou que houvesse uma “caixa preta” no banco público, disse que não houve empréstimos de recursos a outros países e refutou a existência de qualquer política que tenha beneficiado um pequeno grupo de grandes empresas.

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“Parem de mentir com relação ao BNDES e entendam que o BNDES é a mais importante agência de investimento em desenvolvimento que esse país criou”, afirmou.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.