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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar, nesta terça-feira (7), o atual patamar da taxa básica de juros (a Selic, fixada em 13,75% ao ano), reclamar da política monetária conduzida pelo Banco Central e dizer que o presidente da instituição “deve explicações ao Congresso”.
Durante café da manhã com jornalistas de 41 veículos de mídia classificados pelo Palácio do Planalto como “independentes” e “alternativos”, Lula também fez referência à autonomia do Banco Central, estabelecida por lei aprovada pelo Congresso Nacional em fevereiro de 2021.
Na avaliação do presidente, Campos Neto hoje tem “mais responsabilidade” do que tinha Henrique Meirelles quando comandou a autoridade monetária nos dois primeiros mandatos de Lula à frente do Palácio do Planalto.
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“Naquele tempo que o Meirelles era do Banco Central, era fácil jogar a culpa no presidente da República. Agora não. Agora a culpa é do Banco Central, porque o presidente não pode trocar o Banco Central. É o Senado que pode mexer ou não”, afirmou.
Em resposta a uma pergunta, Lula disse que “não é possível que a gente queira que esse país volte a crescer com uma taxa de juros de 13,75%” e repetiu que a inflação brasileira não é “de demanda” – o que, na sua avaliação torna o atual patamar da Selic injustificado.
“É só isso que acho que esse cidadão, que foi indicado pelo Senado, tem a possibilidade de maturar, de pensar e de saber como vai cuidar desse país”, disse.
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“De qualquer forma, como eu não conheço o presidente do Banco Central bem (estive uma única vez com ele), eu sempre parto do pressuposto que as pessoas estão com boa fé, de que as pessoas estão com boa vontade, de que ele quer sentar, de que ele quer consertar a economia brasileira, de que a economia precisa voltar a crescer. E, para a economia voltar a crescer, é preciso que os juros sejam acessíveis pela parte dos investidores brasileiros”, afirmou.
Lula disse, ainda, não querer “criar confusão” com o Banco Central, mas cobrou vigilância dos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) e dos senadores. Eles têm a condição de, em tese, determinar uma possível saída de Campos Neto do cargo antes do fim do mandato, previsto para o fim de 2024.
“Só que eu espero que o Haddad esteja acompanhando, que a Simone esteja acompanhando e espero que ele próprio esteja acompanhando a situação do Brasil”, afirmou.
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“A previsão do FMI é que nós vamos ter um crescimento muito pífio neste ano. E esse país não pode continuar tendo crescimento pífio, porque esse país precisa gerar emprego. Esse país precisa acabar com a fome de 33 milhões de pessoas. Esse país precisa gerar emprego formal. Esse país precisa atualizar a relação trabalho e capital, inclusive com as empresas que fazem trabalho de prestação serviço, as empresas de aplicativos”, continuou.
Haddad e Tebet integram, junto com Campos Neto, o Conselho Monetário Nacional (CMN) – órgão que, dentre outras atribuições determina a meta de inflação a ser perseguida pelo país e que, como consequência, é usada como referência pelo Banco Central na condução da política monetária.
Algumas semanas atrás, circulou na imprensa e no mercado a possibilidade de elevação da meta, de modo a facilitar uma possível queda da Selic. O próprio presidente Lula já questionou mais de uma vez os patamares adotados como meta para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
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“O dado concreto é que eu tive oito anos com o Meirelles com o Banco Central indicado por mim, e o Meirelles tinha 99,9% de independência, porque, se o governo não tiver condições de discutir a taxa de juros, se o governo não tiver condições de discutir a taxa da inflação, se o governo não tiver que discutir a questão do emprego… Porque não é só a meta de inflação. Tem que ter uma meta de crescimento, tem que ter uma meta de geração de emprego”, afirmou aos jornalistas nesta terça-feira.
O CMN também pode encaminhar à Presidência da República um pedido de destituição do chefe do Banco Central em caso de “comprovado e recorrente desempenho insuficiente para o alcance dos objetivos” da autarquia, conforme estabelece a própria lei que definiu a autonomia do BC.
A própria legislação foi questionada mais uma vez por Lula no café da manhã desta terça. “Não deveria ser normal um presidente da República ficar discutindo verbalmente (…) com o presidente do Banco Central. Acho que as pessoas que acreditavam que a presidência do Banco Central ia mudar alguma coisa no Brasil, que ia ser melhor, que os juros iam ser mais baixos… As pessoas que tomaram essa posição é que têm que ficar olhando se valeu a pena ou não”, provocou.