Auren (AURE3) e Engie (EGIE3) anunciam dividendos bilionários, mas têm reações diferentes na Bolsa: o que explica?

Ações AURE3 caem, enquanto EGIE3 sobem; Auren teve Ebitda abaixo do esperado impacto por eólica, enquanto Engie superou estimativa

Lara Rizério

(Karsten Würth/Unsplash)
(Karsten Würth/Unsplash)

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As companhias de energia Auren (AURE3) e Engie (EGIE3) divulgaram seus resultados do quarto trimestre de 2022 (4T22) e, além disso, dividendos bilionários (bastante esperados pelos investidores, sendo R$ 1,5 bilhão da Auren e com uma nova proposta para 2023 e de R$ 1,45 bi da Engie).

Contudo, enquanto a Auren viu suas ações caírem até 2,9% na Bolsa, a Engie chegou a ter ganhos de cerca de 1,9% durante a tarde da sessão desta sexta-feira (17), mostrando que, além dos proventos, outros pontos do balanço estavam no radar dos investidores. A diferença diminuiu ao longo da sessão, mas Auren fechou no negativo (queda de 1,38%, a R$ 14,97) e Engie no positivo (alta de 0,87%, a R$ 39,39).

A Engie Brasil  obteve um lucro líquido ajustado de R$ 904 milhões no quarto trimestre de 2022, avanço de 10,9% ante igual período do ano anterior.

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O seu conselho de administração aprovou ainda a distribuição de dividendos complementares no valor de R$ 1,455 bilhão, equivalente a 100% do lucro líquido ajustado de 2022. O valor é equivalente a R$ 1,78 por ação ou 4,6%  de dividend yield (dividendo em relação à ação). A data para ter direito ao dividendo e a data de pagamento ainda serão definidas em Assembleia Geral.

“O valor total proposto de proventos no ano de 2022 atingiu R$ 2,705 bilhões (R$ 3,3162954344 por ação), equivalente a 100% do lucro líquido ajustado, com dividend yield de 8,1%, 1,9 p.p. [ponto percentual] superior ao registrado no ano anterior”, consta no documento arquivado pela companhia.

O Itaú BBA, em relatório, destacou esperar dividendos ainda maiores da empresa a partir de 2023 (com rendimentos de dois dígitos).

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Para a XP, a Engie teve resultado um pouco acima das suas expectativas e do consenso do mercado.” A empresa apresentou resultados sólidos, impulsionados principalmente pelo segmento de geração, que teve maior volume de energia vendida e preços médios mais elevados. O lucro líquido foi impactado positivamente pelos melhores resultados da TAG e pelo alívio nos resultados financeiros”, avalia. A casa, contudo, mantém recomendação neutra para a ação, com preço-alvo de R$ 49.

A empresa reportou um lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) ajustado de R$ 1,67 bilhão, acima em 10% da estimativa de R$ 1,52 bilhão da XP e do consenso de mercado de R$ 1,48 bilhão. “Excluindo os efeitos do IFRS do segmento de transmissão, vemos o resultado como positivo, refletindo o aumento da energia vendida, preços médios mais altos e melhores resultados da TAG”, avalia.

O Itaú BBA também ressalta que o Ebitda recorrente da Engie ficou em linha com a sua estimativa e aumentou
significativamente na comparação anual, auxiliado por melhores resultados tanto na geração quanto na segmentos de transmissão.

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Para a Genial, o grande destaque do ponto de vista estritamente operacional veio da rapidez da empresa em aumentar a sua contratação em meio a um cenário de quedas no preço da energia. De acordo com o seu balanço energético apresentado, a empresa fechou o ano de 2022 totalmente contratada e o ano de 2023 com uma descontratação de apenas 5% de sua capacidade (versus 10-15% de descontratação histórica para se proteger do déficit hidrológico).

“Sendo assim, ao menos por ora, a empresa deve atravessar o ano de 2023 com impactos mínimos na queda do preço da energia em seus resultados, o que nos leva a acreditar em outro ano com grande generosidade no que diz respeito a dividendos”. A casa, contudo, mantém recomendação de manutenção para a ação, aguardando pontos de entrada mais interessantes.

Já o BBA tem recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) para a Engie, com preço-alvo para 2023 de R$ 46,10 por ação. “Engie é o nosso nome preferencial no segmento de geração, dado o seu valuation atrativo, sua menor exposição a mudanças no GSF (medida de risco hidrológico) e preços de energia, sua sólida posição de balanço e seu potencial para continuar a pagar dividendos atraentes daqui para frente”, avalia o banco.

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Ao olhar daqui para frente, o presidente-executivo da companhia, Eduardo Sattamini, destacou em teleconferência com analistas que a companhia  deverá segurar decisões de investir em novos projetos de geração diante do cenário de preços baixos da energia.

“Temos um pipeline de 1,8 GW em projetos complementares aos já existentes… Temos uma vantagem comercial futura, mas no ambiente de baixos preços a gente deve provavelmente retardar um pouco as tomadas de decisões, esperar que o mercado se regularize para que a gente possa executar esses projetos greenfield”, apontou o executivo na tele de resultados.

A elétrica está atualmente construindo dois projetos renováveis no Nordeste.

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Os preços de energia de curto a longo prazo no Brasil têm sido pressionados pelas chuvas abundantes e pela perspectiva de excesso de oferta de energia. Isso tem afetado todas as geradoras, tanto aquelas que comercializam energia existente de seu portfólio, quanto as que tentam tirar novas usinas do papel por meio de contratos de longo prazo.

Segundo Sattamini, no curto e médio prazos a companhia está em situação confortável para enfrentar cenário desafiador, uma vez que seu portfólio de ativos está altamente contratado a “bons preços” para os próximos anos. “Mas preocupa olhar para frente e ver hoje preços no mercado… abaixo do custo marginal de expansão (do sistema elétrico).”

Diante desse cenário, ele apontou que a via de crescimento de portfólio mais provável para a Engie Brasil serão as aquisições.

“Se quisermos continuar crescendo e usando capital, a geração de caixa disponível, devemos buscar algum tipo de aquisição que a gente possa gerar valor, utilizar sinergias com nossos ativos”, disse.

Questionado sobre o interesse na compra de ativos de transmissão de energia, o executivo disse que a companhia também olha esse tipo de negócio, mas que não consegue ser tão competitiva quanto outros “players”.

Auren: Ebitda abaixo do esperado

As ações da Auren Energia caíram mesmo após a companhia anunciar dividendos de R$ 1,50 por ação para o 4T22 (10% yield), além da orientação de que um adicional de R$ 1,50 poderá ser pago no 4T23. Para os analistas do Bradesco BBI, essa foi a principal surpresa do balanço.

O Citi ressalta que o cenário de pagamento de dividendos de R$ 3 por ação deve se materializar. “Achamos que os R$ 1,50 a mais por ação só não serão pagos se uma fusão e aquisição muito atrativa estiver travada. No entanto, não acreditamos que oportunidades atrativas apareçam”, avalia.

Por outro lado, o Ebitda ajustado do quarto trimestre ficou abaixo do esperado, a R$ 300 milhões. O BBI, por exemplo, projetava um número de R$ 329 milhões, com os analistas vendo o número menor principalmente devido à produção abaixo do esperado nos ativos eólicos.

Como esperado, a Auren contabilizou o ganho contábil da indenização da hidrelétrica Três Irmãos assinada com o governo federal no final de 2022.

Já o total de provisões mais possíveis contingências no 4T22 caiu cerca de R$ 300 milhões versus o 3T22, para R$ 2,8 bilhões, mostrando progresso nas negociações para reduzir esses passivos herdados da antiga CESP, avalia o banco.

Além disso, o desempenho dos ativos eólicos precisa ser acompanhado de perto, embora os analistas acreditem que isso foi pontual devido às chuvas mais fortes no 4T22.

Já o imposto de renda a pagar – ou não – referente à indenização dos Três Irmãos é um ponto a ser rastreado, afirma o BBI. “As indenizações não deveriam estar sujeitas ao imposto de renda e a Auren de fato não fez nenhuma provisão, mas consultará as autoridades fiscais sobre o assunto (o caso base do BBI é que os impostos sejam pagos, deduzindo cerca de R$ 600 milhões ou R$ 0,60 por ação na avaliação)”, conclui. A recomendação do banco para a ação segue outperform, com preço-alvo de R$ 18 (ou upside de 19%).

O Morgan Stanley aponta que o Ebitda (excluindo equivalência patrimonial e itens não recorrentes/não caixa) ficou 20% abaixo do que esperava destacando, além da produção abaixo dos ativos eólicos, as maiores despesas de manutenção.

Os analistas apontam serem construtivos quanto às perspectivas de longo prazo da empresa, impulsionadas principalmente por: i)  iniciativas para liberar valor de ativos e passivos contingentes; e ii) atrativo potencial de crescimento, devido à disciplina na alocação de capital e forte braço de comercialização, auxiliando na viabilização de novos projetos de geração.

“No entanto, nossa preferência relativa por distribuição em vez de geração, segmento a qual Auren está totalmente exposta e assim mantemos [recomendação] equalweight [exposição em linha com a média do mercado, equivalente à neutra]”, aponta o Morgan.

A visão cautelosa em geração é suportada principalmente pela pressão de preços de energia para baixo (atual cenário de hidrologia confortável, juntamente com persistência de excesso de oferta por mais tempo) e visibilidade limitada na criação de opções de crescimento no curto prazo, conclui.

Cabe destacar que, em entrevista à Reuters, Fabio Zanfelice, CEO da Auren, sinalizou a entrada da companhia em um outro segmento.

Focada hoje no segmento de geração renovável, a Auren vem há anos estudando uma possível entrada no segmento de transmissão de energia, e acredita que o cenário para este ano apresenta condições favoráveis a um movimento do tipo neste ano.

Segundo Zanfelice, os certames deste ano vão oferecer grandes projetos de transmissão, que proporcionam escala aos operadores. E, por serem projetos com investimentos expressivos, a expectativa é de que menos agentes tenham fôlego para disputá-los, potencialmente reduzindo a competição e os deságios oferecidos.

“De fato, esse é um momento interessante para quem está pensando em entrar em transmissão… Não fechamos nenhuma estratégia (de participar do leilão), mas posso dizer que as condições desse leilão são alinhadas com o que imaginávamos entrar em transmissão, os temas de (taxas de) retornos e escala.”

Marcado para 30 de junho, o primeiro leilão de transmissão de energia de 2023 oferecerá ao mercado nove lotes, somando 6,1 mil quilômetros de novas linhas de transmissão e investimentos estimados de R$ 15,8 bilhões.

(Com Reuters)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.