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Queridinho do setor de e-commerce, o Mercado Livre (MELI34) divulgou na noite da última quinta-feira (23) resultados que animaram os investidores, com lucro maior do que o esperado no quarto trimestre de 2022 (4T22), revertendo prejuízo do mesmo período do ano anterior, com crescimento de vendas em sua plataforma e maior geração de receita de seu braço financeiro.
A companhia teve lucro líquido de US$ 164,7 milhões de dólares de outubro a dezembro, após prejuízo de US$ 46,1 milhões um ano antes. Analistas, em média, projetavam lucro de US$ 125,8 milhões, segundo dados compilados pela Refinitiv.
Analistas do Bradesco BBI avaliaram positivamente o resultado, ressaltando a melhora sequencial da margem de lucro, apesar de dificuldades no cenário macroeconômico, enquanto também avaliam que a empresa tem muitas alavancas para monetizar e continuar desbloqueando valor.
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Para os analistas, o resultado acima do esperado nos últimos três meses de 2022, combinado com o discurso reforçado de “crescimento sustentável e sequencial de lucro em dólares”, deve naturalmente ser um bom presságio para a revisão positiva nas previsões de lucros.
O Bradesco BBI tem recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) para os papéis negociados em Nova York, com preço-alvo de US$ 1.550, ou um potencial de alta de 36% em relação ao fechamento da véspera; no ano de 2023, a alta acumulada é de 34%. O movimento foi em parte apoiado por perspectivas para a companhia em meio à crise envolvendo a Americanas (AMER3), que pediu recuperação judicial em janeiro poucos dias após revelar bilhões de reais em inconsistências contábeis.
“No quarto trimestre, nós vemos o Mercado Livre reforçando a resiliência de seu modelo de negócios”, afirmaram. “Mais uma vez, o Mercado Livre foi capaz de entregar (um bom desempenho) em um cenário macroeconômico difícil, especialmente no Brasil.”
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Para os analistas do Bradesco BBI, por outro lado, a qualidade dos ativos de crédito do grupo permanece um ponto de interrogação, embora nenhuma deterioração nos lucros tenha se materializado.
“O contínuo desempenho robusto do crédito oferece garantias sobre a postura conservadora para o crescimento dessa rentável unidade de negócios. Além disso, a aceleração dos negócios de anúncios também deve aumentar a expansão da margem daqui para frente”, afirmaram, esperando uma reação positiva das ações nesta sexta-feira.
Após os resultados, o Credit Suisse elevou o preço-alvo para as ações de US$ 1.685 para US$ 1.750 (upside de 54%) e manteve recomendação equivalente à compra para os papéis (outperform, ou desempenho acima da média do mercado).
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Os analistas destacam que a receita de e-commerce ficou grande parte em linha (com taxa de comissão e publicidade em destaque), enquanto a fintech surpreendeu positivamente. Os prazos de entrega continuam a melhorar e os analistas apontam ainda que mais de 76% dos pedidos foram entregues em 48 horas.
Para fintech, o destaque veio de um maior volume total de pagamentos (TPV), parcialmente compensado pelo menor crédito, já que a gestão da companhia adotou uma abordagem cautelosa nas originações.
Apesar da mudança no ambiente competitivo, a gestão da empresa ressaltou que o acontecido com a Americanas não terá impacto estratégico, embora possa buscar taticamente gerar ganhos de participação de mercado. No geral, o Mercado Livre continua em sua trajetória de crescimento com rentabilidade e a força continua em anúncios e margens 1P (estoque própria) mais altas, o que ainda são pontos incrementais ao longo do case de investimento.
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O resultado veio bastante em linha com as estimativas da Genial, demonstrando a grande capacidade de execução como ponto positivo. Para os analistas, a empresa conseguiu entregar resultados sólidos tanto na vertical de e-commerce quanto na Fintech, mesmo diante de um cenário de desaceleração do consumo e com uma desaceleração da carteira de crédito, em virtude de um cenário macro mais desafiador.
“Do lado negativo, único ponto que destacamos foi o nível de PDD [Provisão de Devedores Duvidosos] abaixo do que esperávamos, o que acreditamos que pode ter sido ligeiramente imprudente, e também culminou em um lucro líquido maior do que nossas estimativas e do consenso”, avaliam os analistas.
Desempenho acima dos pares
Seguindo a tendência observada neste trimestre, a Genial avalia que o Mercado Livre deve continuar com um desempenho acima de seus pares na vertical de e-commerce, oferecendo uma variedade de serviços que se complementam e impulsionam o crescimento da Companhia, demonstrando a força do seu ecossistema.
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Sobre a vertical de serviços financeiros, apesar da companhia ter entregado um bom desempenho, a PDD abaixo das expectativas da casa implica na existência de um risco para o crescimento saudável das operações de crédito da Fintech no futuro, a medida em que o envelhecimento das parcelas em atraso deve continuar pressionando a inadimplência acima de 90 dias, mesmo frente a nova posição mais conservadora adotada recentemente.
Os analistas veem a empresa no caminho certo na tentativa de controlar a concessão de crédito, dado o cenário macro desafiador, já colhendo frutos positivos em uma inadimplência abaixo de 90 dias desacelerando. Porém, a carteira gerada no passado recente ainda deve pressionar os índices de inadimplência, de modo que a PDD deveria ser um ponto de atenção para reduzir o impacto do crescimento mais exponencial visto até o 2T22 e conseguir recompor a aceleração saudável da carteira em um futuro próximo, garantindo o bom desempenho operacional da Fintech no médio prazo, a medida em que as condições econômicas melhorarem.
“Isso posto, ainda acreditamos que a força do ecossistema do Mercado Livre, baseada em um alto nível de execução e logística, fazem a empresa se destacar frente aos seus pares, sendo top of mind para os consumidores. Para nós, seus diferenciais devem continuar impulsionando o desempenho operacional, de modo que reiteramos a companhia como nossa Top Pick no setor de Tecnologia”, afirma. A recomendação para os ativos negociados na Nasdaq é de compra, com preço-alvo de US$ 1.397,40, ou upside de 23%.
Na mesma linha, o Itaú BBA segue com recomendação outperform para o papel, com preço-alvo de US$ 1.260, ou potencial de valorização de 11% frente o fechamento da véspera. O banco destaca que a varejista superou suas estimativas construtivas mais uma vez, com uma rentabilidade significativamente melhor em margem bruta (alta de 8,6 pontos percentuais na base anual e 1,8 ponto acima da sua estimativa) e lucro líquido 55% acima da projeção da casa.
“A dinâmica de ganhos do MercadoLibre mais uma vez reforça nossa visão de que segue uma estratégia assertiva para continuar a consolidar o mercado de e-commerce da América Latina enquanto acelera a monetização de sua plataforma. Reiteramos a ação como nossa principal escolha no setor”, aponta.
Cabe ressaltar que, apesar do resultado robusto, o dia foi de volatilidade para as ações na Nasdaq e para os BDRs (Brazilian Depositary Receipts, ou papéis negociados aqui de empresas listadas no exterior) MELI34, que fecharam em sentidos opostos.
Em Nova York, onde a empresa tem suas ações listadas, os papéis abriram em alta, chegando a US$ 1.181,70 na máxima (+4%), mas perderam o fôlego e, às 12h55 (horário de Brasília), caíam 1,13%, a US$ 1.123,39. O papel se recuperou e fechou com avanço de 1,81%, a US$ 1.156,88, um movimento ainda tímido, mas em linha com a piora dos mercados em geral após a inflação mais alta do que o esperado nos Estados Unidos (o que impacta principalmente ações de techs e varejistas).
Já os BDRs caíram 2,46%, a R$ 49,96, na B3, perdendo o fôlego da abertura. Na máxima, os BDRs chegaram a subir 2,4%, mas passaram a recuar posteriomente, chegando a ter baixa superior a 5%. Na véspera, os papéis fecharam em alta de cerca de 5,5%, antecipando um resultado robusto que o Mercado Livre confirmou após o fechamento.
(com Reuters)