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Cenário econômico turbulento joga holofotes sobre títulos de curto prazo, os que mais valorizam

Anbima mostra que papéis de renda fixa isentos de Imposto de Renda, como CRAs e CRIs, estão entre as preferências dos investidores para novas aplicações

Neide Martingo

(Shutterstock)
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Os sinais emitidos pelo Banco Central são de que a Selic, estacionada em 13,75% ao ano desde agosto do ano passado, deve ser mantido ao longo deste ano, apesar das críticas feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com relação à política monetária.

Esse cenário respinga no mercado financeiro. Dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) indicam que a rentabilidade dos títulos de longo prazo espelhados no IMA-B 5+ manteve, em janeiro, a trajetória de queda apresentada desde o fim de 2022.

O IMA-B 5+ é um índice composto por NTN-Bs, títulos públicos indexados à inflação, com vencimento igual ou acima de cinco anos.

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Em contrapartida, o retorno dos títulos de curto prazo do IMA-S – índice composto por títulos pós-fixados atrelados à Selic, as LFTs – teve valorização neste mesmo período.

“As incertezas do mercado, que já eram altas por causa da ausência de um arcabouço fiscal para este ano, se intensificaram em janeiro após sinalizações do governo em flexibilizar a meta da taxa de juros. Com isso, as expectativas de inflação para o médio e longo prazo se elevaram e o mercado passou a projetar uma Selic maior para o fim de 2023”, explica Marcelo Cidade, economista da Anbima.

É um movimento causado pela desancoragem das expectativas, ou o crescimento da falta de confiança do mercado a respeito das propostas do governo, na visão de Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed.

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Embora o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenha dito que anunciará um novo arcabouço fiscal em março, apaziguando em parte o mau humor dos investidores, Jorge destaca que ainda não há plano de financiamento para novas despesas.

O mecanismo deverá substituir o teto de gastos – regra fiscal implementada em 2016 que limita a evolução de despesas em um exercício ao desempenho da inflação no ano anterior.

“É por isso que as expectativas de inflação tem piorado, principalmente para os anos mais adiante, de 2024 a 2026”, diz Jorge. Trata-se de um círculo vicioso. O aumento de gastos do governo pressiona a inflação e, por consequência, o Banco Central acaba tendo que subir ainda mais os juros ou manter a taxa alta por mais tempo, justamente para conter a evolução dos preços.

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O resultado é que os ativos prefixados, principalmente os de longo e de médio prazos, apresentam desempenho negativo. E na outra ponta,  há os ativos pós-fixados que se beneficiam de taxas ainda mais altas.

“Quanto maior é a taxa, ou quanto mais tempo o índice permanecer alto, melhor é a remuneração dos pós-fixados. Por isso existe uma migração dos investidores, que preferem esses ativos”, explica o especialista.

Ativos isentos

Na ausência desse arcabouço fiscal, o cenário favorece os papéis de renda fixa – entre eles, os títulos isentos de Imposto de Renda. No ano passado, eles foram responsáveis por mais de a metade (53,1%) do crescimento – de R$ 530,7 bilhões – dos investimentos feitos por clientes pessoa física dos segmentos de varejo e private.

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Entre esses produtos, destaca-se o desempenho de CRIs e CRAs (Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio). Apenas em 2022, as emissões desses títulos corresponderam a um volume de R$ 91,2 bilhões. Em 2021, o montante foi de R$ 59 bilhões.

“Os ativos isentos de imposto de renda sempre vão ter vantagens em relação aos demais títulos. Esse benefício tributário não é uma característica do momento atual e, sim, do ativo”, detalha Jorge.

Os ativos isentos de IR, como os CRIs e os CRAS, vão trazer benefícios para os investidores, independentemente do nível de taxa de juros vigente. “Mas é sempre importante fazer uma comparação das taxas e das características de cada ativo para saber qual é o que vale mais a pena, no que se refere a retorno e a risco”, diz o especialista.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney