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O presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano) foi firme e duro em suas declarações nesta terça-feira (7) numa comissão do Senado dos Estados Unidos, apontando que a economia local ainda está aquecida e que isso tem mantido a inflação ainda em níveis desconfortáveis. A fala elevou projeções de que a autoridade monetária vai subir os juros mais do que o esperado pelo mercado e que manterá essa política por mais tempo. O que isso pode significar para o Brasil?
Mesmo com algumas questões ainda em aberto, como o tamanho da alta que pode ser aplicada às taxas na reunião de 22 de março – a elevação já precificada de 25 pontos-base passou a ser uma projeção minoritária, perdendo para o “aperto” de 50 pontos – ou o patamar final dos juros, a manutenção do fluxo de investimentos global para ativos denominados em dólar é praticamente uma certeza para os analistas consultados pelo InfoMoney.
Mesmo fazendo a ressalva de que é preciso saber qual a taxa incremental que o Fed deverá aplicar aos juros, decisão que dependerá dos dados de atividade, emprego, consumo e preços dos próximos meses, Marco Caruso, economista chefe do Banco Original, diz que o fortalecimento do dólar é uma possibilidade forte.
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“A gente não consegue ver um dólar mais fraco neste ano e vai ter uma atração constante por ativos denominados em dólar”, comenta, destacando que o “carrego” que o real tinha, com o investidor estrangeiro alocando no Brasil para aproveitar o ganho com o diferencial de juros, “está sendo comido” gradualmente.
Para ele, a duração e o apetite maior pelos ativos em dólares não deverá criar uma corrida, mas vai exercer uma pressão negativa sobre os ativos de risco brasileiros, com algumas exceções, como a renda fixa.
Isso pode ser potencializado se o BC americano for obrigado a elevar suas taxas a um patamar que torne plausível a volta do risco de recessão. Nesse caso, o Brasil poderia sofrer mais, a não ser que aconteça alguma sinalização muito positiva do ponto de vista fiscal, afirmou o economista.
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Briga por capital
Roberto Motta, estrategista da Genial Investimentos, concordou em seu boletim Resumo da Manhã que “o dólar voltou a ser o rei do mundo” e o Brasil está fragilizado num momento de briga por capital muito acirrada no mundo. Ele lembrou que, nesta semana, bancos estrangeiros como o JP Morgan e o BofA já trouxeram call negativos sobre investimentos no País.
E já houve forte saída recente de capital estrangeiro da Bolsa, de cerca de R4 4,5 bilhões no últimos 10 dias. “O Brasil teria de estar melhorando seus fundamentos, mas estamos tendo um início de governo (de Luiz Inácio Lula da Silva) muito ruidoso, mais à esquerda do que se imaginava”, comentou.
Na sua opinião, o novo governo vai ter de se convencer que a economia vai precisar desaquecer nesse momento para poder voltar a crescer no final do ano. “Querer botar lenha na fogueira agora, só vai colher inflação”, disse, referência às críticas feitas ao trabalho do presidente do BC, Roberto Campos Neto.
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Motta destacou que o mundo está enfrentando agora um repique inflacionário, após os dados da virada do ano terem trazido a esperança de que uma desinflação estava ocorrendo. “Nos últimos 40 anos, nunca teve um aperto monetário de forma sincronizada. É o mundo inteiro puxando juros e mesmo assim a inflação global não está cedendo, está mostrando resiliência”, afirmou.
Para Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, essa volta da expectativa de um Fed mais “hawkish” pegou o mercado brasileiro num momento de breve recuperação, após a notícia da reoneração parcial dos combustíveis e da promessa de apresentação do projeto do novo arcabouço fiscal para breve.
“Esses dois acontecimentos já começavam a reavivar nos investidores a possibilidade alguma corte mais relevante de juros neste ano ainda. Obviamente uma escalada no aperto monetário dos Estados Unidos pode afetar o Brasil. A leitura é mais desafiadora e volta-se agora para aquele cenário de recessão nos EUA”, disse.
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Eduardo Moutinho, analista de mercado da fintech de pagamentos internacionais Ebury, no entanto, está um pouco mais otimista que os dados a serem divulgados nos EUA podem vir menor fortes do que se espera.
“O aumento não só no nível de preços, mas também nas vagas no mercado de trabalho de janeiro e de fevereiro foram graças a fatores sazonais e que provavelmente vão acabar esfriando nos próximos meses”, ponderou.
Ele reconhece que não deve haver um alívio muito grande na inflação, mas pode ser algo abaixo dos números que vieram no começo do ano. “Embora tenha essa pressão nos primeiros meses, pode acabar tendo um arrefecimento nos principais índices a partir de meados de março e abril”, estimou.
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Antes mesmo de Powell fazer seu discurso no Senado, a XP Investimentos já estava prevendo que o Fed teria de manter as taxas de juros altas por mais tempo. Um relatório divulgado na manhã da terça-feira projetava que o Banco Central dos EUA deveria subir sua taxa de juros de referência em 0,25 ponto porcentual pelo menos mais três vezes, atingindo uma taxa terminal entre 5,25% e 5,50%.
“Não prevemos reaceleração do ritmo de aperto (para 0,50 p.p.). De todo modo, acreditamos que os riscos estão inclinados para cima, e vemos espaço limitado para cortes de juros até o final do ano”, afirmou a XP no relatório.
A avaliação é que, “após ter ficado atrás da curva”, o Fed precisou adotar uma postura de política monetária atipicamente agressiva desde o início do ciclo de aperto, há 12 meses. E que as condições financeiras só parecem ter entrado em território contracionista em setembro de 2022.
“Considerando o efeito defasado da política monetária sobre a economia agregada entre 12 e 24 meses, ainda não está claro qual será o impacto completo do aperto monetário. Nosso cenário base continua sendo de convergência da inflação à meta após uma recessão moderada nos Estados Unidos. No entanto, se as taxas de juros permanecerem restritivas por mais tempo ante o projetado, o impacto sobre a atividade econômica e os resultados das empresas pode ser mais acentuado.”