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A sequência de elevações dos juros nos Estados Unidos desde o ano passado fez aumentar o interesse dos investidores brasileiros pela renda fixa americana. A taxa atual dos Fed funds, na faixa entre 4,50% e 4,75% ao ano, já está no maior patamar desde setembro de 2007.
Dado o rendimento elevado e atrelado ao dólar, papéis de renda fixa emitidos nos EUA passaram a ser mais demandados. Por isso, depois de disponibilizar um conjunto de bonds (títulos) de empresas brasileiras e estrangeiras na plataforma de investimentos internacionais, a XP agora passou a oferecer também as chamadas Treasuries, títulos emitidos pelo governo americano.
“Nesse momento de mercado, entendemos que as Treasuries são ativos seguros e uma alternativa a mais para democratizar o acesso dos brasileiros aos investimentos internacionais”, diz Diego Correia, gestor na área de investimentos internacionais da XP. “Elas permitem que o investidor tenha certa liquidez com segurança fazendo um aporte inicial relativamente baixo”.
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O investimento mínimo nos títulos do Tesouro americano é de cerca de US$ 5 mil, o equivalente a R$ 26,2 mil. Há quatro papéis disponíveis – as chamadas T-notes – com vencimentos em 6 meses, 1 ano, 2 anos e 5 anos. São todos prefixados – assim como as Notas do Tesouro Nacional série F (NTN-F) emitidas pelo governo brasileiro e disponíveis para investimento pelo Tesouro Direto, onde são chamadas de Tesouro Prefixado com Juros Semestrais.
O pagamento de cupom de juros a cada seis meses, aliás, é uma característica das T-notes. Os juros oferecidos pelos papéis variavam entre 3,38% e 4,04% ao ano nesta terça-feira (21) na plataforma da XP.
Embora considerada elevada para os padrões americanos, a remuneração das Treasuries é uma fração da encontrada nos papéis prefixados disponíveis no Tesouro Direto brasileiro. Não é à toa: a Selic está estacionada em 13,75% ao ano há meses, bem acima dos juros básicos americanos. As taxas do Tesouro Prefixado, com ou sem pagamento semestral de cupom, estavam entre 12,32% e 13,19% ao ano na tarde desta terça.
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A diferença é que o investimento em títulos americanos está atrelado ao dólar, uma moeda bem mais forte do que o real brasileiro.
A disponibilização de Treasuries com prazos relativamente curtos pela XP num primeiro momento tem razão de ser. “Os papéis mais longos são mais sensíveis à variações nas condições macroeconômicas e de juros”, explica Correia.
Isso porque, assim como os títulos do Tesouro Direto, as Treasuries também sentem os efeitos da chamada marcação a mercado – que nada mais é do que a atualização do valor dos papéis segundo os preços pelos quais estão sendo negociados a cada dia.
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Quando os juros sobem, papéis prefixados já em circulação no mercado com taxas menores ficam com os rendimentos defasados e desvalorizam. E o impacto é quanto mais distante estiver o vencimento do papel.
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“Para investidores que pretendem carregar as Treasuries até o vencimento, isso não influencia na rentabilidade final”, lembra Correia. Mas se a busca for por liquidez e operações rápidas, as variações de preços tendem a ser evidenciadas.
Na visão do executivo, o timing atual é favorável para os títulos americanos. Se o investidor estiver em busca de renda no longo prazo, tem chance de comprar os papéis com taxas que não eram vistas a muito tempo. Se tem a intenção de se desfazer rapidamente dos papéis, pode obter benefícios da esperada mudança de rumos da política monetária americana.
Nesta quarta-feira (22), o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) decidirá o novo patamar da taxa básica do país. Até duas semanas atrás, a expectativa era de que a autoridade monetária elevasse os juros em mais 0,5 ponto percentual. Após a quebra do Silicon Valley Bank (SVB) e de outros bancos, no entanto, a visão de muitos agentes financeiros mudou.
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Nos últimos dias, aumentou a quantidade de operadores acreditando que o Fed poderá reduzir o ritmo de elevação dos juros para 0,25 ponto percentual, ou até mesmo encerrar o ciclo de alta já nesta reunião. Se isso acontecer, espera-se que os títulos prefixados (com rendimento “travado” em uma taxa mais alta) valorizem, também devido à marcação à mercado.
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Investir diretamente ou por meio de ETFs?
A demanda por renda fixa internacional tem aparecido em outros produtos financeiros, como é o caso dos fundos de índices – ou ETFs (Exchange Traded Funds). Na visão de Correia, trata-se de uma oferta complementar à de Treasuries e bonds corporativos diretamente nas plataformas de investimentos.
“ETFs podem não ser necessariamente tão líquidos quanto os títulos diretamente. Além disso, as Treasuries fazem pagamento de cupom semestral e são emitidas pelo governo americano, enquanto os ETFs são por gestoras de fundos”, diz. Para ele, são produtos não diretamente comparáveis e com características específicas que se adequam melhor a diferentes perfis de investidor.
“O primeiro passo para quem quer investir em renda fixa no exterior é entender se seu objetivo é ter liquidez, geração de renda periódica, preservação de capital, etc. A carteira provavelmente vai ter um mix de ativos como esses”, sugere.
Desde que os bonds corporativos passaram a estar disponíveis na plataforma internacional da XP, em novembro do ano passado, os ativos de renda fixa ganharam representatividade nas carteiras dos clientes. Atualmente, bonds e Treasuries já são a classe com maior presença, segundo Correia.
Tributação
As Treasuries são investimentos tributados no Brasil. De acordo com a Receita Federal, os rendimentos gerados por aplicações em títulos fora do País são considerados ganhos de capital, inclusive os cupons recebidos sobre as Treasuries – e devem pagar Imposto de Renda como tal, aponta um relatório recente da XP.
A alíquota aplicada de imposto sobre esses ganhos dependerá da diferença entre o valor de compra e o valor de venda título (ganho de capital), ambos em reais (PTAX) do dia da operação.
Para valores até R$ 5 milhões, a alíquota é de 15%. Entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões, a tributação alcança 17,5%. Para ganho de capital de R$ 10 milhões a R$ 30 milhões, aplica-se taxa de 20%; e acima disso, de 22,5%. No caso de ganho de capital inferior a R$ 35 mil dentro de um único mês, há a isenção de tributação na venda do ativo.
O recolhimento do imposto deve ser feito pelo próprio investidor por meio do Programa Ganhos de Capital da Receita Federal (GCAP), com pagamento do Documento de Arrecadação de Receitas Federais (DARF). O prazo é sempre o último dia do mês subsequente à venda dos papéis. Plataformas como a XP oferecem a possibilidade de contratação de sistemas automatizados para apuração e pagamento – no caso, o Velotax.