Tesouro Direto: juros caem com expectativa do arcabouço fiscal; piso dos prefixados vai a 11,99%

Tesouro IPCA+ 2045 tinha retorno de 6,34%, bem abaixo dos 6,41% vistos na última sexta

Neide Martingo

Publicidade

A notícia mais esperada pelo mercado pode ser divulgada nos próximos dias. De acordo com a ministra do Planejamento, Simone Tebet, a decisão está nas mãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “O ajuste de parâmetros do arcabouço fiscal pode ser feito em dois ou três dias”, diz Simone.

A ministra criticou hoje, durante um evento em São Paulo, o tom da última ata da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, com viés político. Ela chegou a conversar o assunto com Roberto Campos Neto, presidente do BC. Simone crê na aprovação do arcabouço fiscal no Congresso e afirma que, conhecendo o Senado, ele será aprovado sem problemas.

O cancelamento da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China (Lula está com pneumonia leve e influenza), deu esperança aos investidores, de que ele retome as conversas sobre a nova regra fiscal com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. 

Continua depois da publicidade

O Ministério da Fazenda quer acelerar a apresentação do arcabouço fiscal. O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que ao longo da semana, Lula vai ter reuniões com Haddad para definições da nova regra fiscal.

É também destaque hoje o Boletim Focus, que mostra que a projeção do IPCA para este ano caiu de 5,95% para 5,93%, enquanto a de 2024 avançou de 4,11% para 4,13% e a de 2025 saiu de 3,90% para 4,00%.

A ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada está sendo bastante aguardada.

Continua depois da publicidade

No Tesouro Direto, os juros dos prefixados apresentavam queda às 15h19, ao contrário do movimento visto pela manhã. O maior retorno era oferecido pelo Tesouro Prefixado 2033, com 13,01% ao ano, contra os 13,13% de sexta-feira (24), diferença de 12 pontos-base (0,12 ponto percentual).

O piso, o Prefixado 2026, tinha juro de 11,99%, menor do que os 12,05% da sessão anterior.

O Tesouro IPCA+ 2045 tinha retorno de 6,34% ao ano no horário, bem abaixo dos 6,41% vistos na última sexta. O juro do Tesouro IPCA+ 2029 (piso dos ativos atrelados à inflação) era de 5,82% ao ano, ligeiramente menor do que os 5,83% da sexta.

Continua depois da publicidade

Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta segunda-feira (27): 

Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Simone Tebet

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, afirmou que “não precisavam ter esticado a corda” (com a manutenção da Selic em 13,75%). Segundo ela, isso atrapalha o Ministério da Fazenda. Simone disse que conversou o assunto com Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, e não concordou com a posição da ata do Copom.

Ela comentou que ata do Copom deve vir ao encontro do que está acontecendo com o Brasil. Em evento em São Paulo, ela reafirmou que o Congresso deve aprovar o arcabouço fiscal proposto. Sobre a reforma tributária, Simone Tebet disse que o assunto está bem amadurecido no Congresso.

Lula e o arcabouço fiscal

O Ministério da Fazenda tem interesse em acelerar a apresentação do novo arcabouço fiscal diante do adiamento da viagem oficial à China, mas ainda não recebeu sinal concreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para levar a público a proposta do governo, informaram à Reuters duas fontes com conhecimento do assunto.

O ministro Fernando Haddad chegou a prever a apresentação do texto em março, mas acabou adiando o anúncio para abril a pedido de Lula, que preferia divulgar a medida apenas após a viagem à China, originalmente prevista para esta semana.

Continua depois da publicidade

A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China foi adiada por conta de um diagnóstico de pneumonia e influenza A do presidente. Com isso, Fernando Haddad, decidiu também cancelar a viagem, assim como diversos outros ministros. Uma outra data para a viagem ainda não marcada.

Focus

A projeção de inflação para 2023 feita pelo analistas de mercado teve nova queda nesta semana, de 5,95% para 5,93%, mas as estimativas subiram novamente para 2024 e 2025, de acordo com dados divulgados nesta segunda-feira (27) no Relatório Focus, do Banco Central.

A projeção do IPCA de 2024 avançou de 4,11% para 4,13%, a de 2025 saiu de 3,90% para 4,00%. A de 2026 foi mantida em 4,00%.

Continua depois da publicidade

Especificamente para os preços administrados, a projeção do IPCA para 2023 manteve a tendência de alta verificada há 17 semanas e passou de 9,36% para 9,48%. Há um mês, a projeção estava em 9,04%. A estimativa para 2024 caiu de 4,50% para 4,40%. Para 2025 e 2026, as projeções oram mantidas em 4,0%.

Para o Produto Interno Bruto (PIB) a projeção de 2023 avançou de 0,88% para 0,90% enquanto a de 2024 caiu de 1,47% para 1,40% e a de 2025 avançou 1,70% para 1,71%, e a de 2026 contraiu de 1,80% para 1,78%.

A previsão da taxa de juros básica da economia brasileira (Selic) foi mantida em 12,75% para 2023, enquanto a de 2024 continuou em 10,0%. Ambas estacionaram no mesmo patamar há seis semanas seguidas. A de 2025 permanece há sete semanas em 9,0%. Já a de 2026 ficou nos mesmos 9,0% da semana passada

A estimativa para o dólar foi mantida em R$ 5,25 para este ano (8ª semana seguida de estabilidade) e continuou pela quarta semana consecutiva em R$ 5,30 para 2024. A projeção para 2025 está em R$ 5,30 há 14 semanas. Já de 2026 continua em R$ 5,40, como na semana anterior.

A projeção do IPCA de 2024 avançou de 4,11% para 4,13%, a de 2025 saiu de 3,90% para 4,00%. A de 2026 foi mantida em 4,00%.

Agenda

A agenda da semana tem como destaque a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), Relatório de Inflação e indicadores de emprego e indústria.

O Banco Central divulgará a ata na terça-feira (28) e o Relatório Trimestral de Inflação na quinta (30).

A inflação do IGP-M de março será divulgada na quinta-feira. O Itaú aponta esperar alta mensal de 0,10%, levando a taxa anualizada a 0,2%, ante 1,9% em fevereiro.

Atenção ainda para a geração de empregos formais em fevereiro com o Caged na quarta e divulgação da produção industrial de janeiro na quinta.

Reforma tributária

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, reconheceu, nesta segunda-feira (27), que o governo federal terá que abrir algum espaço para negociações durante a tramitação das Propostas de Emenda à Constituição (PECs) que tratam da reforma tributária sobre os impostos sobre o consumo no Congresso Nacional.

Durante evento promovido pela consultoria de risco político Arko Advice, Galípolo disse que a reforma tributária sobre os chamados impostos indiretos vai dar mais simplicidade ao sistema brasileiro, corrigir distorções alocativas e operacionais e dar mais efetividade à arrecadação. Segundo ele, a maioria dos setores e instâncias de poder envolvidas será favorecida pelas mudanças.

“É lógico que vai ter que existir um espaço para algum tipo de negociação, nós temos consciência disso”, disse. “Se vocês fizerem a conta na ponta do lápis, a grande maioria dos setores e entes subnacionais é favorecida pela reforma tributária tal qual ela vem sendo construída junto com o Congresso”.

O grupo de trabalho da reforma tributária promove audiência pública nesta terça-feira (28) com representantes da indústria e do agronegócio. O grupo discute as propostas de emenda à Constituição 45/19, da Câmara, e 110/19, do Senado. O debate foi proposto pelos deputados Sidney Leite (PSD-AM), Vitor Lippi (PSDB-SP), Newton Cardoso Jr (MDB-MG) e Mauro Benevides Filho (PDT-CE).

“Uma reforma tributária eficaz requer um amplo debate e discussão entre todos os interessados, incluindo o governo, os empresários, os especialistas em tributação e a sociedade civil em geral”, afirma Sidney Leite.

Vitor Lippi ressalta que é preciso conhecer as dificuldades enfrentadas pelo setor industrial. Já Newton Cardoso Jr afirma que o setor agropecuário teme o aumento da carga tributária, o que poderia prejudicar a competitividade e a
rentabilidade do setor.

Década perdida

A taxa máxima de velocidade em que a economia global pode crescer a longo prazo sem provocar inflação deverá cair até 2030 para o menor nível em 30 anos, apontou o Banco Mundial, alertando para a possibilidade de uma década perdida.

A instituição disse, em relatório divulgado nesta segunda-feira, 27, que quase todas as forças econômicas que impulsionaram o progresso nas últimas três décadas estão desaparecendo e que, por isso, espera que o potencial de crescimento médio do Produto Interno Bruto (PIB) mundial entre 2022 e 2023 recue para 2,2% ao ano – cerca de um terço da taxa registrada na primeira década dos anos 2000.

Nas economias em desenvolvimento, a queda seria de 6% ao ano para 4% ao ano. O declínio pode ser ainda mais acentuado caso o mundo enfrente uma crise financeira ou recessão global, acrescentou.

Crise bancária

O presidente do Saudi National Bank (SNB), Ammar Al Khudairy, renunciou ao cargo por “questões pessoais”, após recentes comentários seus deflagrarem um tombo das ações do Credit Suisse, segundo documento regulatório.

O documento apresentado à bolsa de valores saudita, que fica em Riad, informa que a renúncia data de domingo, 26.

Em 15 de março, a ação do Credit Suisse chegou a desabar mais de 30% em Zurique, após Al Khudairy dizer que o SNB – maior acionista do banco suíço – não ofereceria mais ajuda à instituição financeira.

Horas depois, o banco central da Suíça concordou em liberar empréstimos equivalentes a US$ 54 bilhões para sustentar as finanças do Credit Suisse.

Banco Central Europeu

Isabel Schnabel, membro do Conselho do Banco Central Europeu, disse que balanço da instituição “encolherá rapidamente nos próximos anos, mas é improvável que volte ao nível anterior à crise financeira global; portanto, é necessária uma nova abordagem para a gestão da liquidez”. Entre as alternativas, a saída utilizada pelo Banco da Inglaterra, em que os próprios bancos determinam o montante de liquidez que desejam manter, pode ser adequada. “Sob essa abordagem, o banco central oferece operações regulares de empréstimos garantidos para que qualquer déficit na demanda dos bancos por reservas seja reabastecido com o aperto quantitativo”, afirmou. As informações são da Reuters.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney