Tesouro Direto: taxas têm desempenho misto, com piso de prefixados a 11,92%, após novas crítica de Lula à Selic

Piso dos ativos atrelados à inflação, detido pelo Tesouro IPCA+ 2029, tinha retorno de 5,90% hoje, superior à taxa vista na quinta-feira (6), de 5,86%

Neide Martingo

(Getty Images)
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a atacar os juros altos nesta segunda-feira (10). Em discurso de balanço das ações de governo pelos 100 primeiros dias de mandato, o presidente afirmou que o setor público deverá atuar como indutor de investimento em obras de infraestrutura nos próximos meses, e pediu que os bancos públicos facilitem o acesso ao crédito.

Durante sua fala, Lula criticou novamente o Banco Central e disse que a manutenção da taxa básica de juros (a Selic) em 13,75% ao ano prejudica a economia. A previsão do presidente é que, até o início de maio, sejam anunciados os detalhes envolvendo um programa nos moldes do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), que marcou gestões anteriores do Partido dos Trabalhadores.

Lula defendeu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, das críticas negativas e disse que, quando se trata de economia, nunca haverá “100% de solidariedade”. O chefe do Executivo elogiou a proposta de arcabouço fiscal e disse ter certeza de que o texto será aprovado no Congresso.

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Haddad vai enviar o texto do novo arcabouço fiscal ao Congresso, junto com o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), que precisa chegar ao Legislativo até o dia 15.

O Boletim Focus, do Banco Central, indica que projeção de inflação para 2023 feita pelo analistas de mercado voltou a subir nesta semana, de 5,96% para 5,98%. Já a estimativa para 2024 também avançou, mas as de 2025 e 2026 foram mantidas.

Outro destaque é o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), que caiu 0,34% em março, ante alta de 0,04% em fevereiro, divulgou nesta segunda-feira (10) o FGV/Ibre. Com o resultado do mês, o índice acumula deflação de 0,25% no ano e de -1,16% em 12 meses.

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O mercado lida com as incertezas sobre o rumo da política monetária dos Estados Unidos após o mercado de trabalho do país continuar mostrando resistência. A criação de vagas acelerou para 236 mil postos e o desemprego caiu para 3,5% em março, segundo dados divulgados no feriado de sexta-feira.

No Tesouro Direto, às 15h17, os juros dos títulos públicos apresentavam comportamento misto. O piso dos ativos atrelados à inflação, detido pelo Tesouro IPCA+ 2029, tinha retorno de 5,90% hoje, superior à taxa vista na quinta-feira (6), de 5,86%. O Tesouro IPCA+ 2045 tinha juros de 6,28% ao ano, maiores do que os 6,26% da sessão anterior.

Entre os prefixados, o destaque era o Tesouro Prefixado 2033, com retorno de 12,63% ao ano, estável com relação aos 12,62% da quinta-feira. O Tesouro Prefixado 2029 apresentava ligeira alta: o retorno hoje era de 12,50% e o da sessão anterior, de 12,48%. Já o Prefixado 2026 registrava queda. Hoje, o valor era de 11,92%; na sessão anterior, os juros eram de 11,98%.

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Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta segunda-feira (10): 

Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Lula

Em discurso de balanço das ações de governo pelos 100 primeiros dias de mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta segunda-feira (10), que o setor público deverá atuar como indutor de investimento em obras de infraestrutura nos próximos meses, e pediu que os bancos públicos facilitem o acesso ao crédito.

Durante sua fala, Lula voltou a criticar o Banco Central e disse que a manutenção da taxa básica de juros (a Selic) em 13,75% ao ano prejudica a economia.

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A previsão do presidente é que, até o início de maio, sejam anunciados os detalhes envolvendo um programa nos moldes do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), que marcou gestões anteriores do Partido dos Trabalhadores.

Essa iniciativa deve contemplar a retomada de obras paradas constatadas por técnicos da União e também prioridades elencadas pelos governadores, em uma lista de mais 400 empreendimentos entregue à Casa Civil. De acordo com Lula, também está prevista a aplicação de recursos nas áreas de inclusão digital e transição energética.

“Vamos lançar editais para contratação de energia solar e eólica que, somados, representarão capacidade de geração equivalente à de nossas maiores usinas hidrelétricas. E os leilões para novas linhas de transmissão irão tornar ainda mais rápida e atrativa a implantação desses parques de energia limpa”, afirmou.

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Lula também enumerou feitos dos 100 primeiros dias do seu governo, como a retomada de programas sociais como o Minha Casa, Minha Vida, e o novo formato do Bolsa Família, com o benefício de R$ 600 por família e adicional de R$ 150 por cada criança de até seis anos.

Essa iniciativa deve contemplar a retomada de obras paradas constatadas por técnicos da União e também prioridades elencadas pelos governadores, em uma lista de mais 400 empreendimentos entregue à Casa Civil. De acordo com Lula, também está prevista a aplicação de recursos nas áreas de inclusão digital e transição energética.

“Vamos lançar editais para contratação de energia solar e eólica que, somados, representarão capacidade de geração equivalente à de nossas maiores usinas hidrelétricas. E os leilões para novas linhas de transmissão irão tornar ainda mais rápida e atrativa a implantação desses parques de energia limpa”, afirmou.

Lula também enumerou feitos dos 100 primeiros dias do seu governo, como a retomada de programas sociais como o Minha Casa, Minha Vida, e o novo formato do Bolsa Família, com o benefício de R$ 600 por família e adicional de R$ 150 por cada criança de até seis anos.

Arcabouço fiscal

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta segunda-feira (10), que o texto do novo arcabouço fiscal será enviado ao Congresso junto com o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), que precisa chegar ao Legislativo até o dia 15, no fim desta semana. “Vai junto com a LDO, como anunciado há um mês”, respondeu Haddad, ao ser questionado por jornalistas, na entrada no Ministério da Fazenda, sobre a data de envio do arcabouço.

Na semana passada, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, disse que o texto da regra fiscal chegaria à Câmara até esta terça-feira (11).

“Faço um apelo para que olhem com carinho o arcabouço fiscal que nós estamos desenhando, que chegará até terça-feira da semana que vem aqui na Câmara dos Deputados”, disse Tebet, a parlamentares, durante uma audiência pública do grupo de trabalho que discute a reforma tributária na Câmara, no último dia 4.

Inflação e PIB

O banco Itaú mantém a projeção de inflação para 2023 em 6,1%. Segundo o Itaú, o aumento da alíquota de ICMS sobre a gasolina provavelmente será compensado por uma menor inflação de alimentos. Já a estimativa da inflação para o ano que vem subiu para 4,5% (de 4,2%), com nova deterioração das expectativas.

O Itaú reduziu a previsão do PIB de 2023 de 1,3% para 1,1%. A redução é em resposta ao desenvolvimento do mercado de crédito. Mas foi mantida a projeção de crescimento de 1% do PIB para 2024.

Focus

A projeção de inflação para 2023 feita pelo analistas de mercado voltou a subir nesta semana, de 5,96% para 5,98%. A estimativa para 2024 também avançou, mas as de 2025 e 2026 foram mantidas, de acordo com dados divulgados nesta segunda-feira (10) no Relatório Focus, do Banco Central.

Especificamente para os preços administrados, a projeção do IPCA para 2023 manteve a tendência de alta verificada há 19 semanas e passou de 9,65% para 9,79%. Há um mês, a projeção estava em 9,13%. A estimativa para 2024 subiu de 4,40% para 4,50%. Para 2025 e 2026, as projeções oram mantidas em 4,0%.

Para o Produto Interno Bruto (PIB) a projeção de 2023 avançou de 0,90% para 0,91% enquanto a de 2024 caiu de 1,48% para 1,44, a de 2025 recuou de 1,80% para 1,76 e a de 2026 também estacionou em 1,80%.

A previsão da taxa de juros básica da economia brasileira (Selic) está mantida há oito semanas em 12,75% para 2023, mesmo período que a de 2024, que continua em 10,0%. A de 2025 está 9,0% há nove semanas. Já a de 2026 permaneceu em 8,75%.

estimativa para o dólar foi mantida em R$ 5,25 para este ano (10ª semana seguida de estabilidade), mas a de 2024 caiu de R$ 5,30 para R$ 5,27. A projeção para 2025 está em R$ 5,30 há 16 semanas, enquanto a 2026 recuou de R$ 5,40 para R$ 5,35.

A projeção do IPCA de 2024 subiu de 4,13% para 4,14%, enquanto a de 2025 e a de 2026 permaneceram em 4,0%.

IGP-DI

O Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) caiu 0,34% em março, ante alta de 0,04% em fevereiro, divulgou nesta segunda-feira (10) o FGV/Ibre. Com o resultado do mês, o índice acumula deflação de 0,25% no ano e de -1,16% em 12 meses.

Em março de 2022, o índice havia subido 2,37% e acumulava elevação de 15,57% em 12 meses.

O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) caiu 0,71% em março, ante queda de 0,04% em fevereiro. Na análise por estágios de processamento, a taxa do grupo Bens Finais variou de 0,21% em fevereiro para 0,18% em março.

O principal responsável pela desaceleração da taxa foi o item combustíveis para o consumo, cuja taxa passou de 3,84% para -2,81%. O índice de Bens Finais (ex), que resulta da exclusão de alimentos in natura e combustíveis para o consumo, subiu 0,21% em março, ante queda de 0,49% em fevereiro.

A taxa do grupo Bens Intermediários passou de -0,70% em fevereiro para -1,78% em março. O principal responsável por esta queda mais intensa foi o subgrupo materiais e componentes para a manufatura, cuja taxa passou de -0,08% para -1,03%.

O índice de Bens Intermediários (ex), calculado após a exclusão de combustíveis e lubrificantes para a produção, caiu 1,00% em março, contra queda de 0,12% no mês anterior.

Segundo André Braz, coordenador dos índices de preços do FGV/Ibre, as principais contribuições para a queda da taxa do IPA partiram da soja (de -3,06% para -5,66%), do farelo de soja (de -1,23% para -7,66%) e da gasolina (de 5,66% para -3,91%).

“Afrouxamento monetário”

O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, afirmou nesta segunda-feira (10) que as medidas recentes do governo no âmbito fiscal abrirão espaço para afrouxamento monetário por parte do Banco Central.

Em entrevista à GloboNews, Mello disse que, a partir do momento em que a autarquia reconhece as qualidades da proposta do governo, que impede que os gastos federais cresçam mais do que a arrecadação, ela também incorpora isso aos seus modelos.

“A partir dessa incorporação aos modelos, abre-se o caminho tanto do ponto de vista das variáveis macroeconômicas reais quanto do ponto de vista da percepção das expectativas dos agentes para um ciclo de afrouxamento monetário o mais breve possível para harmonizar as políticas fiscal e monetária”, argumentou o secretário, engrossando o coro de pedidos de membros do governo por cortes de juros.

PPPs

O anúncio da Medida Provisória que vai reestruturar as regras para as parcerias público-privadas (PPPs) no país será feito após a viagem presidencial à China, informou o Ministério da Fazenda nesta segunda-feira (10).

A divulgação chegou a ser incluída na agenda oficial do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com previsão de apresentação às 14 horas desta segunda, mas depois foi cancelada.

Haddad embarca na terça-feira com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para viagem oficial à China. O retorno está previsto para domingo.

Selic

A maioria do mercado prevê manutenção de juros a 13,75%, mas também vê chance de quedas. De acordo com dados da B3 (B3SA3), há ainda uma pequena chance de redução da taxa em 0,25 pontos, na reunião dos dias 2 e 3 de maio. O mercado vê também uma pequena chance de queda de 0,50 p.p. Os dados são reflexos dos contratos de opções de Copom que permitem a negociação da variação da taxa Selic Meta, decidida a cada reunião do comitê.

Agenda

A agenda da semana tem dados econômicos importantes no Brasil e nos Estados Unidos, além de questões políticas.

Os destaques ficam para a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março, principal dado do inflação brasileiro, marcado para a terça-feira (11), e para o CPI (Índice de Preços ao Consumidor, na sigla em inglês), um dos principais indicadores da inflação americana, na quarta (12).

Com os atuais níveis das taxas de juros, em patamares considerados elevados tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, esses números acabam tendo grande peso nas decisões das autoridades monetárias. O consenso Refinitiv para o IPCA brasileiro é de uma alta de 0,77% na base mensal, ou de 4,7% no ano.

Nos Estados Unidos, a projeção é de avanço de 0,3%, acumulando 5,2% no ano. Além desses dois indicadores, outros números também são relevantes. No Brasil, investidores devem monitorar as vendas do varejo, na quarta, e a pesquisa de serviços, na sexta-feira (14) – ambas referentes ao mês de março. Nos Estados Unidos, há a publicação dos níveis de estoques do atacado de fevereiro, na segunda, da inflação ao produtor em março, na quinta, e das vendas do varejo e produção industrial, esses dois dados referentes ao terceiro mês do ano e divulgados na sexta.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney