Tesouro Direto: títulos de inflação de prazos menores estão entre as indicações para investir em abril

Investidores que detêm papéis com prazos mais curtos registraram ganhos maiores em março; a "receita" deve ser a mesma neste mês

Neide Martingo

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As altas taxas de juros são um convite a investir na renda fixa – mas o cenário político local e a situação global de crédito foram o que mais chamou a atenção dos investidores em março.

Houve discussões envolvendo o setor de petróleo (como o imposto temporário sobre exportações de petróleo e a suspensão da venda de ativos da Petrobras por 90 dias), as indicações para a diretoria do Banco Central e a apresentação da proposta do governo para o novo arcabouço fiscal.

Nos Estados Unidos, a crise no setor bancário – iniciada com o Silicon Valley Bank (SVB), que sofreu intervenção do governo e teve suas operações encerradas – ditou o tom do mês. Dois outros bancos regionais (First Republic e Signature) enfrentaram crises semelhantes nas semanas que se seguiram. As autoridades americanas optaram por garantir todos os depósitos dos clientes e criar um fundo de financiamento aos bancos, com o intuito de mitigar os riscos de corrida bancária. Mesmo assim, a volatilidade seguiu elevada.

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Os desdobramentos desse cenário seguem em abril. Por isso, para os interessados em investir no Tesouro Direto nesse mês, a recomendação que prevalece é a cautela. As carteiras sugeridas de casas como XP, Santander e Itaú BBA indicam principalmente os títulos públicos atrelados à inflação e os de prazos mais curtos.

Na visão da XP, a taxa Selic deve encerrar 2023 no patamar em que se encontra atualmente: 13,75% ao ano. Os ativos pós-fixados, portanto, devem continuar a se beneficiar do nível alto dos juros básicos. Porém, a corretora projeta também que a inflação feche o ano em 5,5% e 2024 em 4%. Portanto, é importante manter uma parcela de ativos atrelados à inflação, para proteção contra o efeito ao longo do tempo, especialmente considerando a imprevisibilidade em relação à trajetória em prazos mais longos.

As indicações são o Tesouro Selic 2026, Tesouro IPCA+ 2025, Tesouro IPCA+ 2040, além do Tesouro Prefixado 2025.

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O Santander, igualmente, sugere prazos menores para o investidor, com o Tesouro IPCA+ 2035. “Para o mês de abril, o foco dos investidores locais deve seguir no âmbito político. Nesse sentido, será importante analisar a percepção do mercado frente à nova proposta de gastos públicos e como será a sua tramitação no Congresso, quais outras pautas serão priorizadas e o andamento dos grupos de trabalho na Câmara dos Deputados no âmbito da Reforma Tributária”, detalha o relatório, assinado por Ricardo Peretti e Alice Corrêa.

Por fim, indica o documento, apesar de a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central ocorrer apenas nos dias 2 e 3 de maio, o mercado já deve avançar nas discussões acerca do timing de corte de juros pela instituição.

O Itaú BBA mantém a mesma composição na carteira recomendada apresentada no mês de fevereiro. A instituição também indica o Tesouro IPCA+ 2035 como destino para aproximadamente 15% da carteira de títulos públicos.

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O Tesouro IPCA+ 2029, também indexado à inflação, fica com 20% da carteira, Os Tesouro Prefixado 2026 (10% da carteira) e 2029 (5% da carteira) recebem outra parte, enquanto o pós-fixado Tesouro Selic 2026 fica com 50% da carteira.

“A carteira continua com alocação relevante em títulos pós-fixados; logo depois vêm as alocações em títulos atrelados à inflação de médio e longo prazo, combinados com posições mais pontuais em títulos prefixados”, ressalta em relatório Lucas Queiroz, estrategista de renda fixa para pessoa física do Itaú BBA.

O andar da carruagem em março

Os investidores que detêm papéis com prazos mais curtos registraram ganhos maiores em março. Os destaques foram os prefixados. O Tesouro Prefixado 2029, por exemplo, ofereceu retorno de 4,49% no mês, seguido do Tesouro Prefixado 2033, com 3,59% e do Tesouro Prefixado 2026, com 2,93%.

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Entre os títulos atrelados à inflação, o “campeão” de março foi o Tesouro IPCA+ 2035, com valorização de 2,13%.

Já no trimestre, entre janeiro e março, o título público que mais trouxe retorno ao investidor foi o Tesouro Prefixado 2026, com avanço de 5,31%. O Prefixado 2029 aparece em segundo lugar, com 4,31%, seguido do IPCA+ 2032, com juros semestrais, que no primeiro trimestre valorizou 3,82%.

“Há a preferência pelos títulos pós-fixados, mas em lenta migração para os prefixados, nos prazos intermediários”, chama a atenção Julio Hegedus Netto, economista-chefe, que assina relatório da Mirae Asset.

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Ele diz que as taxas negociadas no mercado futuro de DI estão recuando, diante da “atuação assertiva do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Na alocação da renda fixa, entre os prefixados, os vértices de até dois anos apresentam elevação, respondendo ao cenário sinalizado pela decisão do Copom”.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney